Feministas, o que são? Onde vivem? Como se reproduzem? Essa espécie intrigante tem tido certo impacto político e cultural no mundo, inclusive na cultura pop. A Marvel, que era sensível à ressonância desses movimentos sociais, publicou uma história interessante sobre isso Marvel Team-Up no 8, de 1973. Na verdade, a história em si é uma bosta, mas a ideia apresentada é que é interessante, pois mostra a visão da editora em distinguir o feminismo “bom” do “mau”, misândrico.
Na história intitulada The
Man-Killer moves at Midnight!, escrita por Gerry Conway e Jim Mooney, o
Homem-Aranha está fazendo sua ronda pela cidade de Nova York, quando seu
sentido de aranha o avisa de uma misteriosa figura à espreita. Sem perder tempo,
o Aranha se atraca com ela e logo se surpreende ao notar que se tratava de uma
garota, que responde com palavras de ordem: “garota, não, Homem-Aranha, mulher!
Sou a Gata!”. Abrindo-se um parêntesis, a tal Gata na verdade é Greer Nelson,
que mais tarde sofreria uma mutação e se tornaria a Tigresa, membro dos
Vingadores. No entanto, originalmente, a Marvel a criou como um super-heroína
feminista, uma cópia descarada da Mulher-Gato da “Distinta Concorrência.”
E essa Gata era um verdadeiro pé no caso, todo balão de diálogo da personagem é uma palestrinha. Entretanto, a Gata procurou o Aranha para ajuda-la a derrotar a tal Matadora de Homens, uma vilã feminista radical, feminazi e misândrica, que assassinou o prefeito de Chicago por ser contra o movimento feminista. A Gata tentou capturar a Matadora de Homens, mas levou uma surra. Sendo assim, ela seguiu a vilã até Manhattan e resolveu pedir a ajuda de um herói local, que era logo o Aranha. O amigão da vizinhança até pergunta por que logo ele foi o escolhido, e a Gata responde que ele era um renegado antissistema, que luta por suas convicções, o que adula o ego do Aranha e faz com que ele concorde em ajuda-la.
Nesse interim, a Matadora
de Homens invade o covil do movimento feminista que a financiou e fica puta da
vida de ver um homem lá servindo de leão de chácara. Ela espanca o cara
brutamente e fala: “ele não passa se um homem, e os homens são imundos!”. A
história corta para a origem de super-vilã da Matadora de Homens; ela era Katrina
Van Horn, uma esquiadora profissional que foi desafiada por um babaca, que
dizia que mulheres não poderiam ser esquiadoras. No desafio, o cara bloqueou a
passagem e ambos caíram da colina de gelo. Por conta do acidente, Katrina ficou
com o corpo destruído e teve de passar por cirurgias e usar um exoesqueleto.
Essa é a razão porque a Matadora de Homens odeia homens. Foi só um cara que foi
babaca com ela, mas ela odeia todos os homens indiscriminadamente. Típico de
algumas feministas.
A Matadora de Homens então expõe sem plano, que é atacar a usina elétrica de Manhattan, “o símbolo de poder masculino da cidade.” A vilã com suas asseclas ataca a usina, e o Aranha logo a pressente com seu sentido de aranha. Ele e a Gata partem para o embate com a Matadora de Homens. Conseguem capturar as capangas, mas a vilã consegue fugir com um supergerador que pode destruir a cidade. O Aranha parte ao encalço da Matadora de Homens para ser logo atropelado e atacado brutalmente por ela, mas ele reage e lhe dá uma bela bifa. Em seguida, a Gata aparece e faz uma revelação que destrói psicologicamente a Matadora de Homens, diz que a tecnologia de seu exoesqueleto foi criada por cientistas da IMA, homens. O Aranha e a gata vão embora levando o supergerador e salvam a cidade.
O interessante é que
essa história foi escrita por Gerry Conway, um homem hetero e branco, que na época
era bem jovem, com seus 20 e poucos anos, mas de esquerda e com visão favorável
ao feminismo. A ideia da história é que o feminismo é necessário, mas que
homens e mulheres devem coexistir e que não deve haver espaço para a misandria
e o revanchismo. Porém, hoje em dia, algumas escritoras da Marvel são
feministas gordas de cabelo azul, e alguns dos diálogos das heroínas se
assemelham aos da Matadora de Homens, veja como o mundo dá voltas.
A questão é que é comum os militantes lutarem
por direitos básicos e se perderem. A primeira e a segunda onda do feminismo
exigiam direitos fundamentais para as mulheres, como o direito de votar, o
direito de trabalhar e ganhar o mesmo que os homens, o direito de ter sua vida
sexual e reprodutiva etc. Hoje em dia, o feminismo preocupa-se se personagens
de ficção de HQs, jogos e animações são gostosas ou não, porque, se forem, é objetificação
da mulher. O movimento negro quer proibir palavras como “denegrir”, que tem
origem latina e nenhum conteúdo racista, em vez de se preocupar com o fim do
preconceito e com melhores condições de vida e de igualdade de negros e
brancos. Depois de garantir o pão, os militantes preocupam-se agora com o
recheio.
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