Meu amigo virtual Jotabê, o moderadão do Blogson Crusoe, acaba de lançar um livro virtual pela Amazon, um e-book.
Perguntou-me, então, Jotabê (e não é a primeira vez a me sugerir isso), por que eu também não o sigo no caminho das fosfóricas Letras, do Português publicado em linguagem binária, por que eu também não seleciono meus melhores textos (recomendou que eu evite os mais datados e os de conteúdo político) e componho um e-book com eles?
Primeiro, por que revisitar as mais de 3.000 postagens do Marreta demandaria um tempo de que não disponho atualmente, tempo que nem sei se disporei um dia.
Segundo, porque exigiria uma vontade, uma paciência e uma concentração para reler tudo e fazer a devida triagem que, igualmente ao tempo, não possuo mais. Não ando conseguindo ler nem mesmo livros de autores de que gosto, nem me lembro de quando foi a última vez que li um livro do começo ao fim. Dia desses, comecei a ler Olhai os Lírios do Campo. E parei. E sei que não vou retomá-lo. Que dirá, então, me reler? Não ando com tesão nem de reler os textos rascunhados nos meus inseparáveis cadernos e digitá-los no blog. Estou com uns oito a dez rascunhos de bons textos já feitos. E sem nenhum apetite para digitá-los, corrigi-los, editá-los, formatá-los etc. Ações que há até não muito tempo me davam grande satisfação. E isso com textos novos. Imaginem, então, rever os antigos.
Terceiro, porque reeditar e republicar textos antigos sempre me remete à figura de antigos ídolos da música a executar eternamente os seus grandes sucessos, sem conseguirem emplacar um novo sucesso, um novo clássico há tempos. Roberto Carlos a cantar Detalhes. Mick Jagger a rebolar ao som de Satisfaction. Algo triste e patético.
Quarto, porque sou das antigas. Durante muito tempo sonhei acordado - e há algum tempo que não sonho mais - em me ver publicado. Mas num livro de papel, lombada quadrada, na prateleira das livrarias, de bibliotecas, por uma editora legal. Imaginava-me em noites de autógrafos. Eu a impressionar e a rabiscar dedicatórias para leitoras de óculos de grossos aros e de grandes tetas, ávidas para desfrutarem de minha potência intelectual. Um e-book me pareceria um prêmio de consolação, um troféu abacaxi. Em nenhum momento, faria-me sentir um "escritor" publicado.
Quinto, porque não vejo nenhum propósito em publicar um livro, ou mesmo continuar a tecer meus pareceres e opiniões no blog, num país que, claramente, optou pela ignorância, pelo analfabetismo funcional, pelo diploma apenas como uma forma de arrumar um empreguinho, como uma desagradável fase da vida a ser cumprida.
Que diferença pode fazer ou que relevância pode ter um escrito meu num país que, claramente, optou pela vagabundagem, pelo escuso, pelas facilitações? O que posso eu ainda dizer a uma nação que, claramente, optou pelo banditismo nas últimas eleições? Num país em que senhoras de 71 anos são canalhamente assassinadas por bandidos de 13 anos, devidamente criados e protegidos por leis de "proteção e inclusão" de cunho explicitamente esquerdista?
O que posso eu ainda dizer para um país que se faz de perplexo, chocado e estarrecido, mas que há tempos optou pelo desrespeito, desacato e desprezo aos mestres, para um país que há tempos optou pela facada na professora, e não no abraço de gratidão?
Apesar de execrável e inominável, a facada desse Adélio Bispo mirim na professora Elizabeth Tenreiro é algo ainda mais grave e mais profundo do que parece, não se restringe à cutelada de um assassino juvenil em uma professora. É muito mais representativo. E terrível. É a facada da ideologia esquerdista no resquício do que ainda representa a figura do bom professor : ordem, educação, esforço, mérito e disciplina. Valores que a esquerda despreza e se esmera em destruir. A esquerda desqualifica a realização e o triunfo pessoal em detrimento do fracasso coletivo.
A esquerda, o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) e a LDB (Lei de Diretrizes e Bases do Ensino) foram os mandantes da facada à professora Elizabeth. O menino foi um avatar, um pau mandado. Inocente, portanto, o rapazola? Porra nenhuma. Um assassino. Doutrinado e teleguiado, mas um assassino. Uma das professoras esfaqueadas que sobreviveram, Rita de Cássia, de 67 anos, já saiu a dizer que o menino sofria bullying, que recentemente recebera um apelido que satirizava sua aparência. Devido a um ralo e incipiente bigodinho, aquele buço ridículo que todo adolescente tem, imputaram-lhe a alcunha de "mexicano". Daí a ele reagir esfaqueando meio mundo foi um pulinho. Ô, coitado. Começaram, pois, as justificativas para o ato criminoso. Publicar um livro num país desses?
Sexto, porque a prometida "regulamentação" da imprensa e das mídias digitais, sonho há tanto acalentado por esse governo caracterizado como uma organização criminosa primeiro em 2012, por Joaquim Barbosa, e depois em 2017, por Sérgio Moro, e que foi alegremente reconduzido ao poder pelo brasileiro, finalmente começou a acontecer. Ainda ontem, 28/03/23, o STF se reuniu com representantes do Google e do Facebook para começar a definição da regulação das redes sociais e das plataformas da internet. Regulação? O início da mesma regulação dos meios de comunicação que há na Venezuela, na Nicarágua, em Cuba, na China etc. Censura, porra.
E já tem gente dizendo que acha é bom que haja essa regulação das redes sociais, que isso não afetaria a elas em nada. Até pelo contrário, uma vez censuradas em seus conteúdos, elas, essas pessoas, deixariam de ver e ler tantas merdas. Concordo que nada ou muito pouco se aproveite das redes sociais e que muitas delas mereciam mesmo ser canceladas. Mas essa censura e esse cancelamento, se acontecerem, devem partir de seus usuários, de um filtro de bom senso de que as frequenta. Não dos goverantes. Se acha que as redes sociais causam mais mal do que bem, é só fazer como eu, não as leia, não tenha perfil nelas. Que história é essa de achar bom que o Estado decida que conteúdo é adequado ou não?
Essa regulamentação pode não afetar a grande maioria dos usuários da internet agora, que está apenas a engatinhar. Mas censura é censura. Censuras vistas como pequenas abrem precedentes para censuras maiores. Primeiro, a censura do pensamento; depois, a dos atos, dos comportamentos.
Feito a conhecida fala do pastor protestante Martin Niemöller, opositor do nazismo : "Quando os nazistas vieram buscar os comunistas, eu fiquei em silêncio; eu não era comunista. Quando eles prenderam os sociais-democratas, eu fiquei em silêncio; eu não era um social-democrata. Quando eles vieram buscar os sindicalistas, eu não disse nada; eu não era um sindicalista. Quando eles buscaram os judeus, eu fiquei em silêncio; eu não era um judeu. Quando eles me vieram buscar, já não havia ninguém que pudesse protestar."
Publicar um livro num país prestes a passar por tal expurgo da liberdade de expressão? E com o pleno aval de uma população a aplaudir o governo vermelho que recolocou no poder? Para quê? Curioso : quando foi que o ditador Bolsonaro falou em regular algum veículo de comunicação?
Sou radical, porra!!! O que pode a minha voz extremista em tempos de tanta ponderação e moderação, de tantos panos quentes e voos rasantes de tucanos sobre nossos muros?
Sou radical, porra!!! Xiita!!! Para mim, o certo é o certo. Meio certo, quando eu ainda cometia o desatino de aplicar avaliações, eu não dava nem em resposta de aluno. Para mim, o errado é o errado. Nenhum ato ilícito deve ser relativizado.
Sou radical, porra!!! Talibã!!! Para mim, um indivíduo condenado em diversas instâncias e processos, ainda que descondenado, o que é infinitamente distante de ter sido absolvido, não poderia ser presidente nem da cadeia em que estivesse ou em que esteve preso. Quanto mais da República.
Sou radical, porra!!! Olavo de Carvalho!!! Escrever o que a uma nação que elegeu não um presidente, mas um capo?
Dizem que nossa missão na vida só se completa depois que tivermos um filho, plantarmos uma árvore e escrevermos um livro. Tenho um filho. Já plantei algumas árvores. Publicar um livro? Ficarei lhes devendo.
Mesmo sob o risco de não cumprir com todo o meu carma e ter que me sujeitar a outra reencarnação. Na qual, se eu puder escolher, quero voltar como um gato, ou um jequitibá. Se tiver que voltar como humano, um George Clooney já me serve.
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