Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania só vale mesmo pelo Kang - Review com alguns spoilers

 

E finalmente estreou Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania, e eu, como bom fanboy gado, fui assistir ao filme logo na pré-estreia. Agora vou dar meus dois tostões a respeito do filme, mas adianto que não vem coisa muito boa aí, não. No entanto, para um “pequeno grande herói” da Marvel, tenho de admitir que o Homem-Formiga foi longe, um personagem que há menos de dez anos atrás era conhecido apenas pelos leitores de quadrinhos e hoje tem sua própria trilogia, ainda que sejam filmes bem sofríveis de assistir.

Na realidade, até que não acho o primeiro Homem-Formiga tão ruim assim; é um filme mediano para fraco, mas me lembra um pouco Viagem Insólita, que é um dos meus filmes preferidos, quando Dennis Quaid é miniaturizado dentro de corpo de Martin Short. O efeito do Homem-Formiga miniaturizado me fazia lembrar esse longa, mas não deixava de ser outro filme bobo e infantil da Marvel.

No entanto, Quantumania pretende sim ser um filme maior que os dois anteriores, mas não consegue seu intento. Serve apenas para apresentar o Kang, o grande vilão da fase 5 da Marvel, que na verdade já fez sua estreia na série do Loki. Porém, ainda consegue ser melhor que a desgraça do segundo filme do Homem-Formiga, que deveria se chamar Vespa e Homem-Formiga, em vez de Homem-Formiga e Vespa, de tanto que o herói é “mangina” naquele filme.

No enredo de Quantumania, Scott Lang, interpretado por Paul Rudd, está em um ótimo momento da vida, vivendo dos louros depois de ter ajudado o resto dos Vingadores a derrotar Thanos, como autor de um best seller. Porém, nem tudo em sua vida são flores, sua filha Cassie (que nos quadrinhos é a heroína Estatura dos Jovens Vingadores), vivida pela atriz teen Kathryn Newton, está em uma fase rebelde; só falta ela cortar o cabelo do lado e pintar de azul. Cassie também faz a bobagem de enviar um sinal para o Reino Quântico do laboratório de Hank Pym, interpretado pelo veterano Michael Douglas. Não demora para que todos sejam capturados e enviados para o Reino Quântico; agora têm de tentar encontrar uma forma de voltar para casa.

Peyton Reed não é um grande diretor; a verdade é essa. Ele é outro diretor de aluguel do Marvel Studios. Ele tentou fazer de Quantumania um filme maior e mais importante que os outros dois do Homem-Formiga, mas no fim das contas é um longa tão meia boca quanto os anteriores. Seu canto de sereia não deu muito certo. Apesar de o filme ter ficado caro, pois foi rodado em sua maior parte na tela verde, com uso de CGI, para construir o Reino Quântico. Mas não é nada que a gente não tenha visto melhor em filmes bem mais antigos, como Sin City e o Mundo do Amanhã.

Peyton Reed nem esconde muito o quanto “homenageou” Star Wars, ou então copiou descaradamente muito da estética da franquia. Tem um pessoal lá que lembra muito o Povo da Areia, e a cena do bar lembra muito o bar de Tatooine. Engraçado é que George Lucas se inspirou nas space opera de Jim Starlin na própria Marvel e na HQ francesa Valerian para criar a estética de Star Wars, e agora a Marvel se inspira em Star Wars para a ambientação de Quantumania, tudo é cíclico. Na verdade, Reed tentou fazer referência a Star Wars, mas acabou indo mais pelo lado de Perdidos no Espaço.

Um dos pontos fortes do filme e que não o tornam um desastre completo é o elenco, principalmente os veteranos Michael Douglas e Michelle Pfeiffer, que interpreta Janet Van Dyne, a Vespa original. Bill Murray também faz uma ponta, completamente no piloto automático, a lá Bill Murray. Provavelmente, ele deve ter aceitado o papel para poder reformar o banheiro. Vale dizer que Hank Pym também é “cucão” igual aos quadrinhos; Janet teve um caso com o personagem de Bill Murray. Muito antes de a Marvel ter se rendido ao “cuckoldismo”, Hank Pym já era um dos maiores cornos da Marvel. Na época dos primeiros quadrinhos dos Vingadores, Janet já dava em cima do Thor na cara do Hank, falando para ele cortar o cabelo porque “assim ficaria mais bonito”.

Quem é muito mal aproveitada no filme é Evangeline Lilly, que interpreta Hope Van Dyne, a Vespa. Ela tem poucas cenas e nunca é muito bem desenvolvida. É a personagem mais apagada do filme, com certeza.

E vamos logo ao melhor do filme, que é sim o Kang, graças à interpretação de Jonathan Majors, conhecido pela série Lovecraft Country. Dizem que há uma regra não escrita em Hollywood que negros e gays não podem ser vilões atualmente, a não ser que sua motivação seja racial ou social, como o caso de Erik Killmonger em Pantera Negra. No entanto, o Kang de Majors não tem nada disso, o que é ótimo, pois seria uma grande descaracterização do personagem. Apesar de o Kang nos quadrinhos ser branco, isso não me incomodou, até mesmo porque Kang nas HQs quase nunca mostra o rosto e está sempre com sua máscara.

É importante destacar que Kang é um dos vilões da Marvel com a origem e o background mais confusos e complexos. Ele seria provavelmente um descendente do futuro de Nathaniel Richards, o pai de Reed Richards. Isso faria de Kang e Reed parentes em algum grau. No entanto, sua primeira aparição nos quadrinhos foi como Rama-Tut, o Faraó do futuro, em uma história do Quarteto Fantástico. Posteriormente, ele adotou a identidade de Kang e tornou-se o arqui-inimigo dos Vingadores. As motivações de Kang sempre foram meio complicadas de entender: ou ele vinha do futuro com a intenção de conquistar o passado, ou garantir que não acontecesse nada que prejudicasse sua conquista do futuro; ou ele tentava destruir suas variantes temporais. Há tantas variantes de Kang que inclusive existe o Conselho dos Kangs nas HQs. E, inclusive, Immortus, outro dos arqui-inimigos dos Vingadores, na realidade é outra versão do próprio Kang. Bem confuso, não?

A atuação de Majors como Kang está realmente muito boa, e ele ajuda a elevar o nível do filme. Não digo que seja uma atuação excepcional, mas que é sem dúvida um diferencial e faz de Kang um dos melhores vilões do MCU; não que isso seja algo muito difícil porque não existe muita concorrência. A maioria dos vilões do MCU é ruim. Dá para contar nos dedos os realmente bons.

Curioso que Quantumania tem ao mesmo tempo um dos melhores vilões do MCU e também um dos piores vilões, que é o M.O.D.O.K. Nem vou me deter muito nessa desgraça, mas esqueça tudo o que você sabe sobre o M.O.D.O.K. como criação da IMA. Esse tem uma origem bem mais tosca e é um personagem dos filmes anteriores, que volta como capanga do Kang. Cada vez que o M.O.D.O.K. aparecia, o filme piorava mais e mais para mim.

Enfim, vale a pena assistir a Quantumania? Eu diria que não, mas depende. Se você gostou dos outros filmes do Homem-Formiga, provavelmente apreciará este. Mas quem não gostou, digo que talvez seja melhor esperar uns 45 dias até ele estar disponível no Disney Plus, a menos que queiram logo ver como está o Kang e tenham medo de spoilers.

Por falar em spoilers, há duas cenas pós-créditos: uma que mostra o Conselho dos Kangs e outra que tem relação com a segunda temporada de Loki. Na minha avaliação, não é o pior filme da Marvel, mas está longe de ser um dos melhores. Dou nota 3 de 10. Quem quiser assistir, que o faça por sua conta e risco.