Conselho Final de Classes e de Séries. A queima de estoque, o frigir dos ovos do ano letivo. O fim de feira, a xepa da Educação.
Hora de definir quem serão os aprovados diretamente por rendimento e mérito, quem serão os salvos na bacia das almas e quem serão - se os houver - os habilidosos que conseguirão ser reprovados e retidos na mesma série para o ano de 2023.
Sim, habilidosos. Pois de duas décadas para cá, o sujeito tem que ser muito bom, muito talentoso, tem que ter as manhas para conseguir ser reprovado na escola pública. Para ser promovido, basta-lhe estar presente em 75% das aulas e copiar a matéria do quadro para ganhar vistos. Claro que se alguma mosca-branca quiser ir além, quiser estudar, também pode, mas não é mais necessário; na verdade, nem de bom tom, o aluno fica meio malvisto entre os seus pares, é taxado de metido, de esnobe.
A regra para a aprovoção ou retenção no fim do ano, basicamente, é a seguinte : se o apedeuta ficar com nota vermelha, com média final abaixo de 5,0 em três disciplinas, ele é automaticamente promovido pelo Conselho, sem discussões. Caso ele consiga a façanha de ficar com conceito deficitário em quatro ou mais matérias, o seu destino será deliberado "profundamente" pelos membros do Conselho. Deliberação que, na prática, consiste na coordenação e na direção da escola pressionarem para que algum(uns) professor(es) abra(m) mão de tanto rigor acadêmico, de tanta opressão pedagógica, e considerem a possibilidade de aproximar a nota vermelha do aluno para 5,0. Às vezes, o aluno quase chega a 5,0. Nesses casos, o que custa o educador dar-lhe uma forcinha, um incentivo? O que é, afinal de contas, aproximar 1,5 ou 2,0 para 5,0? Praticamente, nada, não é?
E assim é feito. Um aproxima aqui, outra aproxima acolá, até que o aluno chegue ao patamar das três notas vermelhas, e seja aprovado pelo Conselho. Um novo recorde olímpico pedagógico foi estabelecido neste ano pelo Conselho dos 3º anos do Ensino Médio, o antigo e saudoso Colegial : aprovou-se um aluno que ficara abaixo da média em 7 disciplinas, de um total de doze. Um recorde impressionante, é verdade, mas nada de novo. Apenas uma evolução, um upgrade de uma prática há muito perpetrada.
Porém, e eis o motivo desta postagem, houve uma inovação, um vanguardismo educacional neste ano de 2022. Um fato inédito. Não surpreendente para mim, que há tempos não me surpreendo mais com o descalabro e a putaria legitimados pela atual LDB (Lei de Diretrizes e Bases do Ensino) paulocanalhafreirista. Mas inédito.
Neste ano, na quarta-feira próxima passada, 21/12/2022, um dia a entrar para os anais da Educação Brasileira, o nobilíssimo Conselho Jedi de Classes e de Séries aprovou um aluno que, há quatro meses, está preso na Fundação Casa, ex-Febem. Ops, preso, não. Recolhido, internado para medidas socioeducativas. Internado, é verdade, injustamente, por uma besteirinha, por um descuido próprio da juventude, um deslize, uma coisica de nada : roubo de carro. Mais uma vítima indefesa do sistema repressor policial do Estado Brasileiro.
É verdade que sua aprovação se deu por apertada margem. Eu me abstive. Tenho mais o que fazer durante o Conselho, palavras cruzadas, por exemplo. A ala derrotada, a dos reacionários, a dos fascistões e genocidas, que queria, vejam vocês, a reprovação do aluno, protestou veementemente : a aprovação daquele sujeito era uma afronta, um tapa na cara do sério trabalho realizado por eles ao longo do difícil e conturbado 2022. A ala vitoriosa, composta sobretudo por licenciados em sociologia, história, filosofia e pedagogia, argumentou que não cabia à escola fazer julgamentos morais e de valores a respeito do aluno, uma vez que não conhecíamos a fundo a história de vida dele, disseram que a "vida" o ensinará.
No fundo, gostei da aprovação do meliante. Primeiro porque, caso contrário, assim que ele saísse do xilindró, correríamos o sério e provável risco de seu triunfal retorno à escola, para concluir o Ensino Médio. O promotor da vara da infância e da juventude emite lá um "cumpra-se" e a escola tem que aceitar o rapaz de volta. Uma vez aprovado, daqui em diante, a sua educação será tratada pela polícia, que é quem ganha e é treinada para lidar com bandido.
E segundo, porque, de mais a mais, em terras de Pindorama, qual o mal e a incoerência de conferir um diploma de Ensino Médio a um ladrão de carros? Dia 12 de dezembro agora, a nação não conferiu o diploma de Presidente da República ao maior ladrão de cofres públicos do planeta?
Pois, então. Quem sabe esse menino também não chega lá um dia, ao Planalto? É só questão dele se dedicar ao ofício, de se pós-graduar, doutorar etc. O iletrado Lula não é um colecionador de diplomas? Só de presidente ganhou cinco. De doutor honoris causa, título concedido por universidades a personalidades consideradas importantes e influentes e que, uma vez diplomadas, passarão a compor os quadros dos doutores da instituição, o analfabeto Lula tem trinta e seis. O que mostra o quanto as universidades estão infiltradas, tomadas e infectadas pela peste vermelha.
Diplomação de Ensino Médio para ladrão de carro ; de Presidência e doutor honoris causa para o Lula. Qual o espanto? Para mim, está tudo certo. Tudo dentro da maior coerência. Imoral e criminoso, sim, mas coerente.
Porém, contrariando a fúria e a amargura dos que votaram pela reprovação, tudo indica que a decisão do Conselho em favor do aluno foi das mais acertadas. Segundo relatos que nos chegaram, ele virou outro nesses quatro meses, está irreconhecível, sua regeneração vem se dando a olhos vistos.
Antes, na escola tradicional, ele era um aluno dos mais faltosos, era raivoso, desrespeitoso, agressivo e violento, até, em várias ocasiões. Na Fundação Casa, ele não perde um único dia de aula, está sempre lá, virou um modelo de assiduidade. Também mudou sua forma de tratamento para com os funcionários do local. A todos, só responde com "sim, senhor", "pois não, senhor", "obrigado, senhor". É a eficiência do ensino em casa, ops, na Fundação Casa. É o home schooling brasileiro!!!
Falando um pouco sério agora - não que eu estivesse a brincar até aqui -, é sério que vocês, que votaram no Lula pela quinta vez, acreditam mesmo que a esquerdalha se preocupa com a educação no país? Que ela não tenha mesmo nenhuma relação com a destruição irreversível da educação pública, que a esquerda não tenha sido a responsável direta pelo sucateamento e pela obsolescência programada do ensino?
Até estertores da década de 1980, romperes à luz da de 1990, a Educação seguia a boa inércia da disciplina e do hábito de estudo impostos pelos presidentes militares. Sim, eu disse impostos. E qual o problema? Hábitos precisam ser impostos, fiscalizados; do desregramento total, como se dá hoje em dia, só advêm e estuporam os vícios.
Foi a partir da tomada da nação pela esquerdalha que o projeto de demolição da educação pública começou a ser posto em prática; na surdina, sub-repticiamente, bem o modus operandis desses canalhas. Isso, antes ainda de Lula de ter sido presidente pela primeira vez. Isso, lá com o senhor FHC, esquerdista caviar, coprotagonista a fazer par romântico com a esquerda mortadela nos palcos do teatro das tesouras, encenado desde 1994 pelo PSDB e PT. Ou ainda antes, desde a promulgação da Constituição Cidadã, cria bastarda do sr. Ulisses Guimarães.
Em 1990, veio a publicação do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente); em 1996, a da vigente LDB do Ensino; ambos manuais práticos da criação de delinquentes juvenis, de extermínio da verdadeiras escola e educação.
Você, que tem 45, 50 anos, ou mais, deve se lembrar de que, em todo fim de ano, lá pra agosto, setembro, uns três ou quatro coleguinhas sumiam da sua sala, né? Lembra de para onde eles iam? Se não, deixe-me refrescar sua memória : eles corriam para alguma escola particular, para não perderem o ano, para serem aprovados nas coxas. Lembra da sigla PPP, do seu significado? Papai pagou, passou.
Pois no ínfimo intervalo histórico de 30 anos, a esquerda inverteu esse quadro. Hoje, final de setembro para outubro, as salas das escolas públicas é que recebem os refugos das particulares, que para elas acorrem, para serem aprovados com honras e louvores.
Você, que tem 45, 50 anos, ou mais, que foi bem alfabetizado, que passou no vestibular sem a esmola das cotas, que ainda hoje tem o prazer e o gosto pela leitura de um bom livro, que é capaz de entender uma notícia de um jornal, dê graças aos céus pela "repressora" e "excludente" escola que teve na época dos governos militares. Fosse você um produto da escola cidadã e inclusiva da esquerda, mal conseguiria ler o itinerário no letreiro do busão lotado que lhe leva e traz de casa para o trabalho. Aliás, você nem precisaria ler, pois nem trabalharia. Viveria às custas do trabalho alheio, uma sanguessuga dos auxílios sociais.
Será que você, que tem 45, 50 anos ou mais, e que vota em Lula e na esquerda, não enxerga isso? Será que não entende que os seus camaradas anticapitalistas fuzilaram o ensino público em paredão de Fidel para favorecer os seus comparsas empresários do ensino particular? E a si mesmos, é claro?
Sério que você não vê isso?
Então, de nada valeu o empenho dos militares em bem cuidarem de sua educação e de sua formação moral e cívica. Vocês são como aquele filho em que o pai investe todos os seus esforços e que não vira nada. Ou pior : que vira um petista.
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