A Formação Do Decadente Caráter



Nanno (Kitty Chicha Atamayakul), a protagonista de Girl From Nowhere que expõe muito mais do que o lado podre da Humanidade 



Inomináveis Saudações a todos vós, Realistas Leitores!


Estive sumido dos meus blogs e deste blog, encarando alguns monstros e demônios pessoais, por alguns dias. À medida do possível, segui atualizando meu Canal no Telegram, tentando não afundar em uma grande fossa. Mas, nenhum de vocês tem nada a ver com isso, apenas não gosto de mentir ou iludir aqueles que me lêem dizendo que estou bem. Não estou nada bem, mas a Arte e a Escrita são meios de me ajudar a encarar tudo que enfrento conforme o passar dos dias. Nesse período de um grande afastamento daqui, percebi realmente que determinadas obras tem que chegar para cada um de nós em momentos nos quais estamos preparados internamente para assimilá-las. Foi sem nenhum tipo de expectativa ou compromisso, então, que me aprofundei em diversas produções asiáticas, muitas destas sendo incômodas, sinistras e aterradoras demais em expansivos sentidos. Fui tocado, impactado, ferido, neste momento em que a minha sensibilidade está mais do que em altíssima carga. E a produção asiática que mais me fez refletir sobre muito que desenvolvo em meus textos mais reflexivos é Girl From Nowhere (Garota De Fora aqui no Brasil; Garota De Lugar Nemhum seria mais coerente com a temática da Série). Série tailandesa com duas Temporadas até o momento (2018 e 2021) tendo até o momento 21 episódios que são estrondosas porradas na hipocrisia da Sociedade Mundial. Não é apenas na Tailândia que existe um certo lugar arcaico que aprisiona vontades e pensamentos, nada ensinando além da Decadência Humana tão vasta nesta Desgraça Contemporânea onde nos encontramos: a Escola, onde se diz teoricamente ser uma instituição para a "formação do caráter" e que, na verdade, pelo nível de muita podridão que nos cerca desde sempre, não modela nem mesmo bom senso, disciplina ou algum caráter. 





Para quem ainda não conhece Girl From Nowhere, a Primeira Temporada foi produzida pela tailandesa GMM 25 em 2018 e a Segunda pela Netflix. Consistindo em episódios fechados em si mesmos, trata-se de uma Antologia de Terror onde a protagonista Nanno percorre uma Escola diferente em cada um daqueles para fazer vir à tona os maiores abismos de todos que entram em contato com ela. Revelando claramente uma peculiar Genialidade e em cada Turma do Ensino Médio demonstrando ser especialista em Física e Budismo, ela cumpre suas missões com a frieza metódica de uma arquiteta de situações extremas que revelam o lado obscuro dos que usam máscaras para serem aceitos em determinados grupos ou poderem se sentir vivos. As fotos da produção enganam e eu pensei que a Série seria uma leve mistura de Rebelde (a versão mexicana) com Malhação (as versões focadas em Escolas) e piadinhas de Dorama com Beverly Hills 90210 (Barrados No Baile aqui no Brasil). Me fodi bonito com esse pré-conceito em mente e logo no primeiro episódio a porrada foi direto na minha alma. No segundo, então… Serei obrigado a não entregar Spoilers, minhas caras e meus caros que ainda não conhecem esta macabra e incômoda produção tailandesa. No entanto, logo no segundo episódio alguns anjinhos adolescentes comprovam que o Ensino, aliado a alguns fracos exemplares de pais e mães atuais, é o tempero mais correto para a formação de monstros desta Desgraçada Decadência de nosso mundo. Não peço que concordem ou discordem, apenas leiam minhas palavras, minha visão, minha análise do que assimilei desta Série.






Em três dias (sexta, sábado e domingo) do final de semana anterior a este dia 18 de Julho de 2022, maratonei a Série. E procurei ler algumas Resenhas e assistir a vídeos no YouTube sobre interpretações acerca dela. E somente perdi meu tempo porque percebi que as pessoas querem explicação para tudo, como infantes perdidos no meio do mar dialético das considerações e nomeações de tudo. Eu uso o nickname Inominável Ser porque busco não-nomear as coisas, mas tocar na Essência destas. E toquei na Essência do Enredo de cada episódio, que foi dirigido por um Diretor diferente, demarcando, assim, a ideia de interpretar sobre vários pontos de vista as missões de Nanno. Esta, que foi inspirada na Tomie de Junji Ito (estou me afundando nos filmes dela) e na Kanako de Akio Fukamachi (personagem do livro deste intitulado Hateshinaki Kawaki, obra que foi adaptada em um filme no ano de 2014 dirigido por Tetsuya Nakashima, The World Of Kanako), conforme revelou a atriz que a interpreta, estabelece situações onde os alvos das lições escolhidos por ela são livres para optar pelo melhor ou pior caminho. Tal como Tomie, Nanno foi agredida, mutilada e morta diversas vezes no decorrer da Série, ressurgindo com sua icônica e sinistra gargalhada (que, confesso, me assusta de verdade…) para deixar uma mensagem a cada espectador. O recurso da Metalinguagem explode na cara do espectador com ela dialogando diretamente com o público mesmo que se dirija a outros personagens e olhando direto para a câmera como se com o olhar perguntasse: você está entendendo o meu papel aqui nesta Realidade? Por incrível que pareça, lendo e assistindo interpretações sobre a Garota Sem Passado, Presente, Futuro e Nome ("Nanno" é apenas o nome que ela dá em cada Escola que chega; raciocinando bem, não se trata do nome real dela), percebi que deliram demais com teorias e tentativas de explicação até da forma como ela gargalha. Portanto, essas pessoas não entenderam a proposta da Série. 





Voltemos à Escola, o que é melhor do que ficar procurando saber quem ou o quê é Nanno (esta, ao ser perguntada quem era por outra personagem, apenas respondeu: "Nanno é Nanno"; que bom que os teorizadores infinitos da Internet pudessem compreender de verdade o que esta resposta significa, não acham?). Voltemos à Escola, que é melhor do que ficar aqui expondo qualquer tipo de teoria saída da minha mente repleta de ideias perturbadas. Voltemos à Escola, esta prisão, como bem acima mencionei com um conhecimento de causa bem particular. Uma vez, ouvi uma mãe me dizer que o único momento em que tinha paz em casa era quando os filhos estavam na Escola. Muitas mães que são donas de casa pensam assim também, considerando os filhos um estorvo desnecessário, isso já é muito conhecido em diversas partes do mundo. Então, providas junto com os pais daquele interesse de tornarem os filhos "pessoas úteis para a sociedade", despejam as crias em instituições públicas ou privadas para que os Agentes do Ensino, Professores e Professoras, Diretores e Diretoras, Inspetores e Inspetoras, se responsabilizam pelo toda da formação cívica de bons, honestos e úteis membros de uma sociedade. Que lindinho da parte dos papais e das mamães, lançam seus estorvos no colo de Educadores e Educadoras que, muitas das vezes, nem vocação alguma possuem para os cargos que ocupam. Mesmo quem não acha os filhos um estorvo, joga no colo do Corpo Discente e Disciplinar de uma Escola seus puros e inocentes mancebos. Será necessário aqui mencionar o resultado disto, leitoras e leitores virtuais? Será preciso detalhar quais as consequências desse modo de preparar filhos para a vida fora da escola? Será que devo fazê-los lembrar que tipo de gente está sendo formada por um Sistema de Ensino amorfo e cadavérico em quase todos os países mundiais? A Série é tailandesa, minhas caras, meus caros; porém, muito de diálogo tem com qualquer universo escolar do planeta.





Todos fomos estudantes e conhecemos o que é esse universo. Todos já fizemos parte de uma comunidade escolar e sentimos a pressão dentro de uma opressão para sempre darmos o melhor de nós. Todos já fomos prisioneiros de uma instituição denominada Escola e tivemos diversos tipos de carcereiros, desde bullies de merda a Professores(as) de merda e Diretores(as) de merda e Inspetores(as) de merda. Eu sofri Bullying, mas não de algumas formas como mostradas nesta Série e nos filmes que assisti durante o meu breve período de afastamento daqui a tratarem do tema. Alguns de vocês devem ter sofrido Bullying de diversos modos e ainda carregam essas lembranças dolorosas demais. Dolorosas demais, sim, porque são de momentos que deveriam ser bons para nosso desenvolvimento como cidadãos e se tornam quase snuff movies sem assassinatos, em alguns casos. A Escola é um péssimo lugar, afirmo porque nela não aprendi a ser o homem que eu sou hoje; isto, aprendi fora dela com a ajuda de minha falecida mãe, sempre presente ao meu lado. Se vocês tiveram uma mãe como a minha ou um pai presente (o qual não tive) ou os dois juntos, conseguiram sobreviver à Escola sem apodrecer internamente. Outros não tiveram a mesma sorte, sejam os praticantes de Bullying ou os que sofreram isto, lançados que foram em um ambiente selvagem por pais distantes, indiferentes e que se arrependiam de terem gerado filhos. E os demais horrores da Vida Escolar, independente do Bullying, como a competição para ver quem é "o melhor" ou "a melhor" entre os que tiram as melhores notas; a insana busca por uma aprovação ou identificação com alguém; os atritos de pensamentos e comportamentos contra a geração dos adultos que estão acima na Hierarquia Escolar; e tudo o mais da Prisão Selvagem que toda Instituição Escolar é acaba por ser o espelho refletor do vazio interior de cada um elevado ao máximo ponto de fazer transparecer no exterior o que de pior há no interior. 





Se o Ensino hoje está destroçado, a culpa é de todos. Não são apenas os pais os culpados diretos por filhos(as) que maltratam colegas de turma e/ou Professores ao não saberem educá-los em casa. Não são apenas os Diretores(as) os culpados diretos por não terem mãos firmes para deterem os projetos de canalhas e criminosos de ambos os sexos que, sem controle desde crianças, se apropriam da Escola como um império para suas atrocidades. Não são apenas aqueles que se omitem ou se calam diante do Bullying os culpados diretos pela continuidade de um Sistema Interno de cada Escola que segue adiante sem que seus dirigentes olhem para as fissuras que a constituem soberana em total decadência. Toda anomalia social, doméstica e existencial que vemos hoje pelo mundo tem sua origem no Ensino de merda que muitos vem denunciando pelo menos há trinta anos. Entretanto, nada muda, chegam notícias de gangues estudantis, massacres em escolas, abusadores adolescentes, estupros coletivos de alunas por seus colegas de classe, estupros de Professoras, agressões a Professores(as) e assassinatos destes e de Diretores(as) e Inspetores(as). Se focarmos bem em todos os casos que chegam ao nosso conhecimento,  veremos que as famílias dos monstros modelados pelo atual Ensino tanto na Tailândia quanto aqui no Brasil ou nos Estados Unidos ou qualquer outro país,  são desestruturadas, caóticas, quebradas e hipócritas. Muitos pais e muitas mães são iguais ou piores do que os filhos agressores. E, por igual, os que não são agressores, sendo vítimas ou omissos, também possuem muitas vezes pais e mães lamentavelmente desastrosos. É disto que Girl From Nowhere trata acima de qualquer outra coisa que não é nem explicada, na verdade, durante o desenrolar dos episódios. Nanno transita nesta Antologia para com sua Magia silenciosa, sutil e adequada a padrões de uma conduta muitas vezes amoral, explorar toda possibilidade de que possamos refletir sobre o porquê da Decadência da Civilização Contemporânea. O Surrealismo, o Horror e o Terror presentes, sendo 99% destes dois últimos Psicológicos, são apenas recursos estilísticos escolhidos pela Produção, Direção e Roteiristas para repassar as mensagens que eu recebi. Infelizmente, não estou encontrando quem tenha recebido e percebido o que é, na verdade, esta obra tão pesada, perturbadora, incômoda, desagradável e, sem dúvida alguma, educativa no sentido de apunhalar a consciência dos espectadores.





Pelo fato da obra não ser mastigadinha, como o público ocidental prefere, ela fica aberta a toda interpretação. Destaco isto aqui agora porque em alguns momentos acima posso ter sido preconceituoso contra os que entenderam de outra maneira a Alma da Garota Inominável que se nomeia como Nanno e seu Papel na Série. Eu a vejo como uma Educadora com um propósito a cada Escola, para cada pessoa onde ela é determinada por uma Autoridade Inominável a ser a Guia para a Construção ou a Destruição ou a Autodestruição. Demônio, Entidade ou Deusa, como os infinitos teorizadores da Internet se matam de especular infinitamente; ou, apenas,  Nanno, a Educadora que ela é demonstra em uma Série ainda pouco reconhecida que toda e qualquer Escola tem toda a culpa pelas Cinzas que a tudo encobrem no atual momento da História Humana (algo que até em um episódio é tratado). Por baixo de tudo que a maioria escolhe para comentar sobre esta obra, estão elementos para reflexões que se expandem para bem longe do convencional e do simplório da mediocridade opinativa Estilo Twitter. Bem, a forma como muitos foram, estão sendo e serão educados explica o que é o Twitter, o Facebook, o Instagram, o TikTok… Se levarmos tudo que expandi aqui neste Ensaio com cara de Crônica por causa dos palavrões e da parcialidade de alguns comentários meus, um livro com mais páginas do que a Bíblia eu escreveria. Sendo assim, fico aqui agora por encerrar o texto apenas esclarecendo em último lugar que aqui fica a minha interpretação conforme cada porrada que recebi desta Série.





Algo que aprendi por mim mesmo, não na minha Escola, um verdadeiro pesadelo que vivi e que pretendo um dia superar. Como dito muito acima, tudo chega até nós em momentos determinados e esta Série conheci no momento certo para mim. Se vocês sobreviveram às suas Escolas, podem sobreviver a Girl From Nowhere, a qual recomendo a todos que desconhecem-na. Mas, prestem atenção: cada porrada recebida a cada episódio é ultraviolenta… Nada nesta Antologia é um caminho de rosas e campos floridos para um final feliz. O mundo por onde transita Nanno não é assim, como uma novela que sempre se finda em algum tipo de Paraíso. O nosso mundo também não é. 


Saudações Inomináveis a todos vós, Realistas Leitores!






💀💀💀💀💀💀💀💀💀💀💀💀💀




Leia também:✒️O Mundo Inominável






Postar um comentário

0 Comentários