Watchmen: O Impacto De Uma Primeira Leitura

Meu exemplar de Watchmen (Edição Definitiva) - Foto por Inominável Ser

Inomináveis Saudações a todos vós, Realistas Leitores!

Do alto de uma habilidade interna para compreender o quanto posso chegar como um leitor, defino este relato aqui como uma abordagem muitíssimo pessoal do significado de Watchmen para os Quadrinhos. Sou do tipo de assimilador de histórias que torce para ser superado em diversas expectativas e surpreendido em diversos horizontes dos ângulos de uma leitura. É basicamente esquecer por alguns minutos ou horas que o perturbado mundo onde vivemos ou sobrevivemos não tem nada a ver conosco, imergindo nas subterrâneas águas dos oceanos de uma narrativa. Quando iniciei a leitura desta obra-prima das obras-primas da Nona Arte, eu não sabia onde estava adentrando e nem a qual destino a leitura me levaria. A adaptação para o Cinema levada à realização por Zack Snyder é boa, mas não conseguiu absorver todos os anunciados e enunciados das entrelinhas do que Alan Moore e Dave Gibbons fizeram. Entrei de cabeça nos minutos contados pelas páginas para uma inesperada conclusão: eu tive em momentos fora do Espaço/Tempo lendo um contato com um colosso imortal que demonstra que os Quadrinhos são muito mais do que pensamos.

Tenho também outra crença muito pessoal ligada ao hábito de leitura que minha mãe incentivou a desenvolver desde que eu era uma criança: certas obras, sejam estas escritas, pintadas, desenhadas, filmadas ou seja qual for o meio artístico através do qual elas ganharam vida, chegam até nós apenas nos momentos corretos. Eu não teria a capacidade de compreensão que hoje tenho se tivesse lido Watchmen quando da primeira vez que foi lançado aqui no Brasil, pela Editora Abril, ao final dos anos 80. Eu era um pré-adolescente com outras preocupações, outras leituras e outros gostos. Sei que muitos neste período possuem uma maturidade bem grande, mas eu não tinha e preferia ler as mensais da Marvel e da DC com historinhas tão toscas que hoje tenho vergonha de dizer que li.

Com poucas exceções li coisas muito boas em fases posteriores de minha vida, até chegar a este ponto em que me tornei muito mais exigente em minhas escolhas de Quadrinhos para leitura. Me voltando para os Quadrinhos Europeus e selecionando o que de melhor ainda tem na Marvel e na DC; entrando de cabeça na Image e em outras Editoras: é assim que hoje sigo dentro da minha maturidade como leitor. Watchmen chegou no momento mais apropriado, na hora mais necessária e no contexto histórico interno e externo a mim mais simbolicamente determinante de como devo me conduzir hoje e futuramente nas minhas leituras. Não escrevi de imediato este texto ao terminar de ler há uma semana esta obra porque o impacto dela ainda ecoava retumbante em meu Ser. Tomei fôlego, respirei, repousei, me voltei para outros escritos e para o meu Canal no Telegram, assimilando a estupenda riqueza quadrinhística da Edição Definitiva que me foi dada como um presente. O melhor presente que já recebi até agora e que todo dia consulto, folheando, lendo e captando mais informações ainda de sua alma.

A cada quadro, chaves de interpretações inúmeras se abrem. A cada interpretação, moldes de referências saltam ao olhar nos mínimos detalhes. A cada referência, implacáveis estímulos para que imaginemos o que está além dos diálogos e dos cenários pertence a um nível inteiro de inventários. Estes abrangem partes e contrapartes de películas, camadas e estados saltitantes em cada desenrolar das ações. Retirei películas e mais delas surgiram. Adentrei em camadas e muitas outras mais foram sugeridas. Alcancei estados vários de cada personagem e me vi inteiramente em particulares estados de um leitor pego de surpreso diante de tudo presente de página em página. Seguindo o ponteiro do relógio que lentamente se movia a cada capítulo, eu me transportava para cada personagem...

Eu contei piadas junto com o Comediante.

Eu juntei cacos do passado junto com Hollis Mason.

Eu escrevi diários junto com Roscharch.

Eu empilhei cognições metahumanas junto com o Dr. Manhattan.

Eu me condicionei a crer em um mundo melhor como o Ozymandias.

Eu planei pela cidade dentro da nave do Coruja.

Eu ouvi Espectral em seus momentos de mágoas.

Fui O Jornaleiro.

Fui O Leitor.

Fui O Psiquiatra.

Fui A Taxista.

Fui O Chaveiro.

Fui cada anônima e anônimo que foram meros transeuntes em muitos momentos.

Fui O Sobrevivente dos Contos Do Cargueiro Negro.

E fui um dos cadáveres quando metade da população de New York foi dizimada.

E apenas voltei a respirar e a sentir meu coração bater ao final da leitura dos Extras.

Quem lê os leitores? Esta é uma conclusão a qual cheguei como sendo um dos questionamentos propostos nas entrelinhas por Moore e Gibbons. É inspirador ser tentado a continuar escrevendo, escrevendo e escrevendo sobre Watchmen! Contudo, um livro imenso ainda escreverei sobre uma obra que até supera a experiência de leitura que eu tive com O Cavaleiro Das Trevas de Frank Miller e Lynn Varley. A experiência de ter sido a melhor das Histórias Em Quadrinhos que já li até este momento do meu existir. Este foi apenas um primeiro texto meu aqui no blog sobre Watchmen, que merece muitos outros de todo e qualquer amante da Nona Arte. Verdadeiro apreciador dos Quadrinhos que se preze pode demorar tanto quanto eu demorei para ler Watchmen. E quando, a ação e a reação desta obra dimensionam-se em estruturas na mente que quanticamente extrapolam as variáveis e as invariáveis das perspectivas da leitura quadrinhística.

Este, então, foi um relato sobre a primeira porrada em meu Ser causada por esta instituição suprema e absoluta que sempre será atualíssima, importantíssima e venerável. Pelo menos um texto por mês escreverei e postarei no blog com uma terrível simetria proposta apenas por um Inominável Ser como eu.

Saudações Inomináveis a todos vós, Realistas Leitores!