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Edição Integral
Roteiro: Kieron Gillen
Arte: Ryan Kelly
Cores: Jordie Bellaire
Consultor Histórico: Professor Stephen Hodkinson
Ano de publicação do original: 2013-2014
Editora: Image Comics
Tradução & Créditos Dos Scans: Ndranghetta & Yugifan
Sinopse
Anos após a eclosão da Batalha de Termópilas, na qual o pequeno exército comandado pelo Rei Leônidas conseguiu conter o avanço persa, três escravos tentam manter a própria sobrevivência. Klaros, Demar e Terpander nos fazem mergulhar pelo lado da História contada por aqueles que não são parte principal das mudanças de sua época. Uma primordial aula em Quadrinhos com o Selo Image de indestrutível qualidade.
Inomináveis Saudações a todos vós, Realistas Leitores!
Muito raras obras em Quadrinhos que se desenvolvem dentro de determinados contextos históricos chegam ao ponto de contarem com uma eficiência de ímpar qualidade em seu resultado final. Três se concentra em ser uma história ficcional onde a parte histórica nunca deixa de ser um fundamento importante do seu enredo. Kieron Gillen conectou aqui, de modo simples, referências à Batalha de Termópilas (481 A.C.) e à Cultura do tempo em que se passa a história, sem sacrificar o início, o meio e o fim desta como auxílio narrativo. O que posso afirmar é que toda a leitura desta excelente obra não contém elementos dispersantes ou fuga do enredo principal para dar atenção a outras histórias. Sem desvios ou vazios argumentativos, a essência da raiz do enredo seguramente se mantém incólume do primeiro ao último quadro da edição. Gillen soube exatamente o que fazer com cada personagem, cada sequência, cada pausa e cada avanço nas páginas. Raros Autores que ambientam obras em períodos históricos arregimentam a não-perda do foco narrativo como primordial fundamento do material com o qual trabalha.
A Consultoria do Professor Stephen Hodkinson promoveu a disciplina narrativa dos movimentos dos personagens dentro do momento histórico no qual se apresentam. Não exagero por afirmar que em Três é dada uma pequena grande aula de História, algo que instiga a inspirar o leitor na pesquisa dos personagens históricos envolvidos e dos costumes lacedemônicos do período. O palco inicial dos eventos que culminam no desenrolar do tema principal de Três é a Bacia de Crysapha, a leste da Lacônia, no ano de 364 A.C., bem distante do famoso evento ocorrido em Termópilas. A Esparta vista em Três é a do período inicial de sua decadência como uma Cidade-Estado de suma importância. Na época vista nesta obra, a Cidade estava envolvida em uma Guerra contra Tebas por causa da ditadura de Agesilau II, que em 387 A.C. apoderou-se da Cidadela Tebana e obrigou à união de diversas outras Cidades contra ela. A Liga, liderada por Epaminondas e Pelópidas, apenas definitivamente encerrou as aspirações espartanas no ano de 362 A.C. com a vitória na Batalha da Mantineia, Arcádia. Portanto, em meio ao conflito contra Tebas e governada por Kleomenes II, filho de Agesilau II, o qual afastou-se do Governo Espartano para ajudar os aliados egípcios contra os Persas e outros inimigos, se encontra a trama de Três.
Uma trama indivisível, como bem acima apontado, seguindo direto em sua conclusão a partir das definidas funções dos protagonistas. Klaros, inicialmente o mais inofensivo e que causa surpresa em seus dois companheiros ao revelar o que verdadeiramente é; Damar, que nada tem de mulher frágil ou inútil princesinha a ser salva, forte, dura, inquebrável; e Terpander, contador de histórias reais com certo grau de instrução, que ao longo do percurso narrativo demonstra ser um homem exemplar. Forçosamente levados à união para sobreviverem, eles pertencem à classe mais baixa de todas, a dos Hilotas. Não sendo escravos e estando até mesmo abaixo destes, eram pessoas da Sociedade da época tratadas como se fossem piores do que monstros, vistas pelas classes mais altas como indignos de toda forma e idênticos ao lixo. Há cenas revoltantes envolvendo atrocidades contra eles na obra, principalmente as da primeira parte, que exemplificam o nível de discriminação a eles direcionado pelos demais habitantes de condições existenciais privilegiadas. Concentrando nos três Hilotas citados a linha principal narrativa, Gillen faz de forma leve com que instantânea simpatia sinta-se por eles logo que surgem. Bem, este foi o efeito do meu contato com tais personagens, bastante carismáticos e que fazem jus ao fato de serem os protagonistas.
Um spoiler apocalíptico seria se eu contasse o que levou os três a empreenderem a fuga para poderem sobreviver. Somente posso lhes dizer que é algo bem grave, levando até mesmo o próprio Rei Kleomenes II a liderar toda perseguição à frente de uma tropa de trezentos soldados. O que se vê até o clímax do enredo é uma vertiginosa e empolgante sucessão de eventos que não deixa em paz o leitor. Doses de violência precisas, sem estrambólicos exageros, com cenas de lutas excelentemente desenhadas, unem-se a diálogos não-didáticos, por vezes secos, nervosos e que não enrolam apenas para preenchimento de espaços narrativos. Com toda honra, o traço de Ryan Kelly e as cores de Jordie Bellaire casam-se com o modo sem frescuras de contar uma história que percebi no Gillen. Muito próximas ao estilo europeu de Design, as páginas visualmente confirmam o que digo, detalhistas e sem pontos vazios nos desenhos nelas contidos. Algumas vezes, pensei estar lendo alguma obra publicada pela Soleil ou Dargaud (editoras francesas), mas Três pertence à Image, 100% estadunidense.
Comprovando que atualmente há na Image a preocupação de contar excelentes histórias atadas a excelente arte, Três é obra fundamental que recomendo aos amantes da Nona Arte interessados em temáticas históricas dentro de narrativas ficcionais. Pequena obra-prima que me tornou um Fã do Gillen e que tem perto do final um inesperado desfecho, algo imprevisível e que não vou contar. Leiam e aqueçam suas mentes e corações com o combo Arte & Ficção & História apresentada nesta obra de modo único. Spoiler, como sempre repetirei, não é comigo.
Saudações Inomináveis a todos vós, Realistas Leitores!
BIBLIOGRAFIA
Oliveira Lima, Manuel de. História da Civilização. 1ª Edição Revista, Edições Melhoramentos, São Paulo, s/d.
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1 Comentários
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