Spidey: reboot ou retcon?


 


Ao ler essa HQ Spidey, não sei dizer se pretenderam fazer um reboot ou um retcon do Homem-Aranha. Na verdade, acho que nem a Marvel sabe. Para mim, é retcon, porque é muito diferente das primeiras histórias do Aranha tradicional. Esse quadrinho pretende retratar o início de carreira do herói, e é muito claro que o público-alvo não é a gente, os "nerds véio", mas a molecada. É um Aranha para uma nova geração de leitores.

Peter Parker aí é um bunda mole; deixa Flash Thompson cuspir na orelha dele e filmar, enfiar a cabeça dele na privada etc. Peter nessa história tem sangue de barata; o Peter tradicional já teria ido para cima do Flash, mesmo sob risco de ter sua identidade possivelmente revelada. Tem até uma história de Steve Ditko em que Peter revela um momento de alegra quando Flash é capturado vestido de Aranha pelo Doutor Destino, mas depois se horroriza e se arrepende, o que revela o lado mais vingativo e sombrio do personagem. Ao contrário do Peter de Spidey, que é bonzinho e nada rancoroso. Ditko como um objetivista levava o Aranha para uma direção um tanto sombria às vezes. Flash Thompson nessa versão de Spidey é basicamente um bullie truculento. O Flash tradicional era bullie, mas raramente partia para algo mais físico.



Gwen Stacy em Spidey é "empoderada", dá porrada no Flash. Isso aí é só para emascular o Peter, ao meu ver, pois a tendência dos quadrinhos modernos da Marvel e DC é inferiorizar os homens perante as mulheres. Aí Peter é salvo de uma surra por uma garota. Não vejo muito sentido a Gwen ser assim, pois ela é muito diferente da Gwen clássica, que era basicamente uma patricinha, garota meiga e perfeita. Se ainda fosse o gibi da Spider Gwen, eu ainda entenderia, pois lá faz sentido a personagem ser "empoderada", visto que o público-alvo é de meninas adolescentes e jovens adultas, mas não em Spidey. E sem contar que, nas HQs tradicionais, Peter conheceu Gwen só na Universidade Empire State, e não no colégio Midtown





Harry Osborn também está diferente, mais playboizinho, lembrando o Harry Ultimate e dos filmes de Tobey Maguire, interpretado por James Franco. O Harry tradicional era riquinho, mas esquisitinho. O de Spidey, é riquinho, mas galãzinho descolado. O Peter mesmo de Spidey é um nerd mais descolado, lembrando a versão Ultimate. E, nos quadrinhos clássicos, Peter também só conhece Harry na universidade. O pai de Harry, Norman Osborn, também tem influência da versão Ultimate e da de Willem Dafoe, dos filmes de Sam Raimi.



Tia May está mais jovial, lembrando a tia May Ultimate, e não a tradicional, que era uma velha coroca que parecia estar alheia a tudo. Nas histórias, o Aranha enfrenta alguns de seus vilões tradicionais, como o Doutor Octopus, Homem-Areia e Lagarto, ao mesmo tempo que como Peter precisa passar na prova de história e ter Gwen como tutora. E aí ficamos na dúvida: é retcon? É reboot?

Ao contrário do Aranha da linha Ultimate, que claramente foi apresentada como um retcon alternativo ao tradicional, esse Spidey não esclarece muito o que pretendem. A solução mais fácil é dizer que é mais uma versão do Aranha do Multiverso, ou do Aranhaverso. O universo Ultimate mesmo a princípio não era considerado parte do Multiverso da Marvel e posteriormente foi.

Na verdade, tudo isso são reclamações de um nerd velho e chato, pois a HQ serve a que se propõe, que é apresentar o Aranha para uma geração, e pode ser lida sem essas problematizações. O roteiro de Robbie Thompson é ok, até simples na medida, na verdade. A arte de Nick Bradshaw é muito boa, bem detalhista, e até lembra um pouco a de Arthur Adams. Nota 7 de 10.

 



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