KARPOV VS KORCHNOI: MUNDIAL DE 78 ENTRE AS DUAS LENDAS DO XADREZ VIRA FILME

 


Em 1975, Bobby Fischer se recusara a defender o seu título, após sua apoteótica vitória do mundial de 1972 contra Bóris Spassky, por uma série de exigências suas (entre as quais uma mudança da forma com que os matchs de mundial eram travados) o perdendo assim, para um então “desconhecido” do grande público, e nova aposta da máquina soviética: Anatoly Karpov.

Após uma intensa campanha disputando – e vencendo de forma esmagadora – o maior número de torneios de elite para demonstrar sua força, o soviético teria sua primeira defesa de título contra o também soviético (embora expatriado e nacionalizado na Suíça) Viktor Korchnoi, um antigo parceiro de treino, muito mais velho que ele, e com várias razões para odiá-lo.

Os adversários eram completamente antagônicos. Karpov era um atleta modelo do que o regime comunista pregava, e gozava de toda uma máquina estatal a ampará-lo, em especial para evitar a vergonha de haver outro americano – ou mesmo ocidental – a desafiar a supremacia soviética no xadrez. A idade estava do seu lado, até então com menos de 30 anos e provável reinado de mais de uma década, com um psicológico aparentemente inabalável, cuja frieza transparecia no estilo posicional, paciente e sufocante de jogar.


Korchnoi, por sua vez, não ganhara à toa a alcunha de “Victor – O Terrível”, tamanha a sua fama de provocador e irascível. Já quarentão, em uma idade em que a maioria dos enxadristas caminha na “decrescente”, Viktor havia sobrevivido quando criança ao Cerco de Leningrado durante a Segunda Guerra Mundial, ao qual perdera seu pai em um dos bombardeios dos alemães, e talvez isso explicasse seu espírito “tudo ou nada”. Sendo um fugitivo da “cortina de ferro”, se tornou um “traidor nacional”, cujo nome era proibido de ser dito em qualquer círculo de elite do esporte na época, temia em ser assassinado, e sofria com grande paranoia. Tinha grande mágoa por sua família ter ficado presa no país, e feita de refém até que deixasse de ser uma ameaça ao reinado de seu rival.


 

Os confrontos históricos desses dois gigantes ocorreram apenas duas vezes, uma de 1978 e outra em 1981. A trama, que parece ter saltado de algum romance dos anos 60, serviu de inspiração para um filme pouco conhecido chamado “La Diagonale du Fou” de 1981, o qual, imagino que temendo processos, criou personagens aludindo o embate, mas inverte as personalidades, e o recente documentário “Closing Gambit” (2018) que apesar de não trazer depoimentos do próprio Victor (falecido em 2016, aos 85 anos), desnuda bastante das motivações dos adversários, até pesando mais ao favor de Victor, no geral.


O filme “The World Champion” (“Чемпион мира - Тизерный трейлер”, no original) estreia em 30 de dezembro de 2021, e apesar do trailer estar em russo e sem legendas, é perceptível que a estrutura dele (e não surpreende, se tratando de uma produção russa) retrata Karpov, como um herói insultado desde a infância pelo vilanesco e fanfarrão Korchnoi. Não me queixo totalmente, já que parece ser um subterfúgio para tornar esses encontros intrínsecos mais palatáveis ao grande público, haja vista o decepcionante “Pawn Sacrifice” (2014), aqui no Brasil nomeado como “O Dono do Jogo”...


 

 


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