Kuuga - Um Kamen Rider para começar o Milênio



 

No já longínquo ano de 2000, estreou na TV japonesa Kamen Rider Kuuga; trata-se do retorno de um Kamen Rider à TV desde o hiato de Kamen Rider Black RX, depois de doze anos. Kuuga também é oficialmente o primeiro Kamen Rider da era Heisei. Não é o primeiro de fato porque cronologicamente o primeiro Kamen Rider dessa era é Kamen Rider Shin, que é um Rider fora da cronologia.

Talvez Kamen Rider Zetto possa sim ser considerado o primeiro Rider Heisei no cânone. A diferença de Kamen Rider Kuuga para as demais séries é que houve uma grande mudança de narrativa, e adotou-se a fórmula mais de novelas e séries de TV americanas. Kamen Rider continua a ser uma série sobre um herói que derrota o monstro da semana, mas há toda uma trama maior por trás e os personagens são mais desenvolvidos, até mesmo os coadjuvantes.


Na verdade, Kamen Rider Kuuga enfrentava o monstro de duas semanas, pois geralmente a trama se consistia de episódios duplos. Mais para o final, os episódios vão se encadeando até o confronto com o inimigo final. No enredo, arqueólogos descobrem a ruínas de um povo antigo, os Gurongi, e acabam ressuscitando os monstros. O jovem Yusuke Godai, interpretado por Joe Odagiri, que é amigo de Sakurako Sawatari, uma assistente de pesquisa dos arqueólogos, entra em contato com um cinto místico. A diferença para os outros Kamen Riders é que o corpo de Yusuke absorve o cinto, e, por conta disso, ele começa a sofrer mutações e se transforma no lendário guerreiro Kuuga. Acho que é o primeiro (se não o único) Kamen Rider que o cinto é interno.






Os Gurongi são uns monstros bem malvados, e o objetivo deles é saírem assassinando humanos. Quem mata mais ganha o jogo deles. É simples assim. Eles não têm grandes objetivos de conquista. Só querem sair provocando um morticínio. E pior que eles têm uma língua própria que deixa o espectador mais confuso ainda para entender o que está acontecendo. Quando surgem, os Gurongi em sua forma humana parecem uns punks e maloqueiros. Há a Mulher com uma Tatuagem de Rosa, que parece ser a líder deles, mas na realidade é só uma juíza, que estabelece as regras do jogo de matança.

Na verdade, Kamen Rider Kuuga é uma série de temática mais adulta disfarçada de série para crianças. É impressionante o número de mortes no seriado. Os Gurongi matam muita gente, e há aquela atmosfera mais dark e sombria das melhores séries Kamen Rider. O protagonista, Yusuke Godai, é que tem um jeito sequelado de tão good vibe e otimista. Para mim, há diferenças entre o cara ser um nice guy e um sequelado. Peter Parker é um nice guy; Yusuke chega a parecer um cara meio bobão de tanto otimismo e crença de que tudo vai dar certo. Mas é aí que entra a atuação de Joe Odagiri; há casos em que um ator faz toda a diferença, e acho que esse é o caso dele. Odagiri consegue passar nuances e até preocupações de Yusuke, que mostram que nem sempre ele tem uma perspectiva não otimista das coisas e que esconde o jogo para não preocupar seus amigos.

Um coadjuvante importante da série, que na verdade é quase outro protagonista, é o policial Kaoru Ichijo, que logo no começo do seriado descobre que Yusuke é Kuuga. O herói praticamente é sancionado pela polícia de Tóquio. No início, só Kaoru é que sabe que a identidade de Kuuga é Yusuke, mas depois praticamente todo o departamento de polícia sabe. É a identidade menos secreta que existe. Há muitos personagens coadjuvantes na série, e praticamente todos são razoavelmente bem desenvolvidos. Há a irmãzinha de Yusuke; o tiozinho do café onde ele trabalha; a sobrinha do tiozinho que é apaixonada por Yusuke, mas que ele não dá bola, porque é um daqueles típicos personagens de tokusatsus que não liga para mulheres; o médico da polícia obcecado para saber como funciona o corpo de Yusuke; a doutora mãe solteira da polícia que tem problemas para criar o filho; e Jean, um colega pesquisador francês de Sakurako que não faz muita coisa na série. Dá-se a entender que Sakurako gosta de Yusuke, mas ele não está nem aí para ela, pois não se interessa mesmo por mulheres. É outra mocinha de tokusatsu que ficou para titia.







Como é uma série para vender brinquedos, Kuuga tem várias formas. Mas o interessante é que cada forma tem um tipo de habilidade específica. Tem uma primeira forma que é a branca, na qual Kuuga é um pouco mais forte que um humano normal. Depois, há a vermelha, que garante grande força física para o herói. Na forma azul, ele perde força, mas ganha velocidade e leveza e pode usar espadas. Na forma verde, Kuuga pode usar armas de tiro ou flecha e tem grande pontaria. Na forma roxa e dourada, ele tem grande resistência física. Na forma preta, Kuuga é quase invencível. 



Na série, há uma certa preocupação com verossimilhança, não realismo, e mostram que a transformação em Kuuga causa mudanças no corpo de Yusuke, e nos primeiros episódios ele ainda está aprendendo a ser um Kamen Rider. Não chega já se transformando e matando o monstro. Ele tem de aprender a dar o rider kick e tudo. E há muito fan service também; os primeiros monstros que ele enfrenta são os monstros aranha e vampiro, exatamente os primeiros monstros que o Kamen Rider original enfrentou. Há uma referência ao Kamen Rider original entre os Gurongi também; um deles lembra muito Takeshi Hongo, o Kamen Rider Ichigo. Ele até anda de moto e tem um cachecol, e sua forma monstro é um gafanhoto. A série acho que só decepciona um pouco no final, justamente no confronto contra o último inimigo, que é meio anticlimático. O duelo final é contra o antecessor de Kuuga, que se transformou no líder dos Gurongi.

Depois dessa série, Joe Odagiri se tornou um dos atores mais famosos do Japão, considerado o Johnny Depp japonês, e ficou falando mal de tokusastu, mas depois teve de se desculpar com os fãs, pois isso pegou muito mal. A trilha sonora da série também é ótima; a abertura com uma pegada mais metal cantada por Masayuki Tanaka, também vocalista da música de abertura de Hokuto no Ken, é excelente.

                                                   

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