Os Maiores Super Heróis do Mundo - A Essência dos Heróis da DC

 


Os Maiores Super Heróis do Mundo - A Essência dos Heróis da DC

 

 

Quando se pergunta qual a diferença entre os heróis da Marvel e da DC a resposta que muitos dão é : Enquanto os heróis da Marvel são personagens com os quais nós (leitores) nos relacionamos, os heróis da DC são os heróis que nos inspiram. Eles são esses "deuses modernos", um panteão de heróis altruístas, que se esforçam para fazer o que é certo. Claro que há algumas exceções e tudo depende do ponto de vista do leitor. As vezes pode-se achar um herói da Marvel que é inspirador ou um herói da DC com quem ele consegue se relacionar. Mas, de forma geral, essa forma como a maioria dos heróis são representados nos dois universos.

 


Quando se trata dos heróis da DC, o fato deles serem esses heróis inspiradores tem sido uma dificuldade que eles tem passado nos dias atuais. Muitos criadores e até fãs de HQs criticam os heróis da DC por serem "perfeitos", não tendo falhas ou drama em suas vidas que os torna interessantes comparados aos heróis da Marvel. Isso é usado como justificativa não só para adaptações como os filmes do Snyder e os filmes animados da DC pós - Ponto de Ignição, como também para os reboots nas HQs da editora, como os Novos 52, cujo propósito é de recontar a histórias dos heróis da DC para uma "nova geração de leitores, apresentando versões mais sombrias e "maduras" desses personagens.

 




Em meio as  controvérsias que essas tentativas de "modernizar" os heróis da DC geraram existem uma questão interessante : Os heróis inspiradores como os da DC são ultrapassados? É impossível fazer histórias relevantes  com personagens altruístas como eles?



Um dos maiores exemplos  de histórias que tocam nesse assunto é a HQ "Os Maiores Super Heróis do Mundo", que compila 5 histórias simples superficialmente, mas que representam o verdadeiro espírito dos heróis da DC e sua relevância  para os dias atuais. Mas como elas conseguem representar isso? Bem, vamos descobrir

 

TRAMAS

 


Como eu falei a HQ não é apenas uma história mas sim um compilado de 5 histórias diferentes, todas escritas pelo  Paul Dini, famoso por ter trabalho com Bruce Timm na criação de animações como Batman Série Animada, Superman Série animada e Liga da Justiça Sem Limites:

 

"Superman Paz na Terra" tem como foco Superman salvando uma jovem faminta descobrindo sobre crises geradas pela fome no mundo. Querendo ajudar as pobres vitimas desse problema, Clark decide usar seus poderes para distribuir alimentos pelo mundo, tentando melhorar situação para essas pessoas. No entanto  ele logo descobre que esse problema global pode ser mais difícil de resolver e que muitas de suas ações, embora bem intencionadas, podem estar mais dificultando as coisas do que ajudando.



Em "Batman Guerra ao Crime" é mostrado o Cavaleiros das Trevas tentando proteger um bairro em Gotham de ser demolido e substituído por um complexo industrial. No entanto, ao descobrir que um garoto órfão se tornou membro de uma das gangues, a luta de Batman se torna bem mais complexa, com ele lutando não apenas para salvar o bairro mas também o pobre garoto, com quem ele se identifica pela perda dos pais.

 


"Shazam O Poder da Esperança" mostra o Billy Batson sendo avisado pelo Mago Shazam que ele irá encontrar uma criança desesperada, que virá a ele em busca de esperança. Quando o herói visita umas crianças no hospital, ele encontra um jovem que bate com as descrições. No entanto, apesar de tentar animar o jovem com seus atos grandiosos, aos poucos Shazam vai percebendo que talvez a forma certa de dar esperança ao jovem não seja por meio do seus poderes mas sim através do garoto bom por trás deles.

 


"Mulher Maravilha O Espírito da Verdade" tem uma história que explora a relação da Diana com o mundo dos homens, com a heroína lidando com as incertezas políticas e o medo e preconceito que a população tem da amazona, por representar o governo, e encontrando formas diferentes de ajudar a humanidade.

 




Por fim, "Liga da Justiça Liberdade Justiça" mostra os maiores heróis da Terra lidando com um vírus que começa a infectar a população mundo. Enquanto tentam encontrar uma cura, os heróis tentam controlar o pânico dos civis e acabam sendo forçados a usarem táticas contra as pessoas que eles juraram proteger, aprendendo uma dura lição sobre as decisões que eles tem que tomar como heróis.

 

 


Heróis no mundo real

 




Algo que se pode reparar nas histórias  é o fato de não terem a presença de nenhum super vilão. Não tem cenas de ação, pancadaria ou lutas entre heróis e vilões ou invasores alienígenas. Isso ajuda a tornar histórias um pouco mais pé no chão e realistas, porém nunca a ponto de ignorar o fato de envolverem personagens fantasiados. Ao invés disso, todas as história tem foco nesses grandiosos heróis lidando com problemas relacionáveis, fáceis de serem identificados na vida real como a fome no mundo, violência urbana e domestica e o preconceito e discriminação.

 

Através dessa temática, Dini explora, através do seus roteiros um argumento trazido por muitos críticos, de que heróis como os da DC não funcionariam no mundo real. No entanto, Dini trabalha esse conceito não por meio de palavras mas sim por meio de história visual, mostrando cada herói tentando resolver esses problemas globais porém encontrando dificuldades em atingir seus objetivos visto que esses problemas não podem ser resolvidos simplesmente pelo uso de seus poderes. Por exemplo, a história do Superman é mostrado vários momentos épicos como o herói encarando animais selvagens, ou salvando uns inocentes de uns soldados, porém quando se trata da trama principal, dele tentando resolver a fome no mundo é mostrado os problemas que o Superman encara como a resistência de uns governos dele interfere no seu território ou o fato de muitas pessoas ficarem dependentes dele lhes trazer comida, algo que o herói sabe que não irá conseguir fazer eternamente. No caso do Batman, mesmo derrotando vários bandidos, mas ele não consegue mudar a opinião do jovem Marcus apenas batendo nos membros de sua gangue, e por aí vai.

 


Isso ajuda aumentar tornar os desafios dos heróis bem mais difíceis e torná-los bem próximos da realidade, mostrando que até super heróis como os da DC não são infalíveis, não sendo capazes de resolver por completo todos os problemas do mundo.

 

Contudo, apesar da pegada mais realista, as histórias nunca vão a ponto de serem cínicas com os personagens e o mundo que eles habitam, com os heróis passando por problemas mas tendo momentos de vitória, permitindo uma variação melhor no tom de um clima positivo para um negativo e legitimam a mensagem no final das histórias.

 

Os humanos por trás dos deuses

 


Outro ponto importante da HQ é a forma como Dini humaniza os heróis, criando uma conexão entre eles e os leitores.

 

Como eu mencionei antes, algumas pessoas criticam os heróis da DC por serem "perfeitos demais para atualidade, muito bonzinhos e sem tragédia, incapazes de serem humanos". Na minha opinião, eu sou totalmente contras essas criticas e acho que elas limitam muito a visão das pessoas da variação de tom que uma HQ pode ter. É possível fazer histórias sobre personagens heroicos que lidam com temas sérios e complexos da realidade mas conseguem transmitir uma mensagem otimista e inspiradora e desenvolver os heróis sem precisar descaracteriza-los.

 

Através da escrita de Paul Dini, os heróis da DC são mostrados como indivíduos de personalidades distintas, mas todos compartilhando o desejo de ajudar as pessoas e tornar o mundo um lugar melhor. No entanto, ele nunca deixa os personagens parecerem perfeitos, mostrando as dificuldades que eles passam ao tentar resolverem problemas como a fome no mundo ou violência urbana, usando esses erros não para descaracterizar os heróis mas sim fortalecer ainda mais suas personalidades e emoções diante desafios.

 

Superman, por exemplo, é retratado como muitos fãs o conhecem: Um herói gentil e corajoso que sempre busca ajudar as pessoas, porém Paz na Terra explora o lado emocional do herói, mostrando sua frustração diante dificuldades que ele encontra na luta contra a fome no mundo e sua preocupação de confessar isso para a população, demonstrando o quão dedicado ele é em proteger os inocente e como o ele teme decepcioná-los não ser capaz de atender suas expectativas.

 




Batman começa seu arco como um vigilante sombrio que quer honrar a promessa que fez aos seus falecidos pais e proteger sua cidade dos criminosos que a controlam. No entanto a dedicação é testada quando ele descobre que Marcus é um dos membros da gangue. Sabendo das circunstâncias que o levaram a essa vida criminosa, Batman fica em conflito sobre o que fazer diante Marcus, demonstrando como por trás de sua personalidade sombria, existe um senso de compaixão pelos outros e uma capacidade de se conectar com a dor de outros.

 


Mulher Maravilha é retrata como uma guerreira mitológica, mas com um bom coração, que se sente incomodada diante o desrespeito  que muitos lideres do mundo tem em relação a ela e aos seus ideais e os métodos  que eles adotam que resultam em ações agressivas por parte da população, guiados pelo medo, chegando até mesmo rejeitar a heroína, mesmo após ela  ter feito uma ação tão nobre salvando as vidas deles. É diante desses casos de ignorância e preconceito que Diana revê seus conceitos heroicos e encontra formas táticas diferentes para ajudar as pessoas não como uma deusa mas como parte da sociedade.

 




Shazam é mostrado como um garoto pobre, solitário, porém com um bom coração, que deseja ajudar as crianças de um hospital pro se identificar com elas, sabendo como é ser um jovem vivendo em condições tão difíceis. No entanto ele logo conhece crianças que ele não pode ajudar completamente, mesmo com todos seus poderes.com seus poderes. É graças a orientação do Mago que o herói reconhece como sua presença ajudou a dar esperanças para as crianças e no processo o ajudou a encontrar o mesmo sentimento em si mesmo como um herói.

 


Já a Liga da Justiça, embora os personagens não tenham desenvolvimentos individuais, eles tem uma evolução em comum, diante a forma como eles agem contra uma pandemia. Enquanto tentam encontrar uma cura, a Liga tenta controlar o pânico na população, sendo forçados a usarem seus poderes contra os civis. A história explora o questionamento dos heróis sobre o papel deles como heróis e o que estão disposto a fazer para cumprir com seu dever.

 


Apesar das diferenças, todas histórias mostram esses heróis, visto por muitos como, lidando com problemas que não podem ser resolvidos facilmente com seus poderes mas conseguindo salvar o dia não através de seus dons, mas sim através de seus ideais e suas personalidades altruístas, provando que o humano por trás do herói é mais importante do que o super herói em si. Basicamente mostra a evolução desses "deuses modernos" em humanos, aceitando suas falhas diante esses problemas mas reconhecendo valor suas vitórias obtidas, passando uma mensagem importante sobre as pequenos triunfos serem tão importantes que as vitórias definitivas, representando um sinal de esperança para o futuro humanidade.

 

 

A representação artística dos heróis da DC

 






Além dos roteiros de Paul Dini, a HQ consegue se destacar graças a arte icônica de Alex Ross. Sendo considerado por muitos um dos maiores artistas das HQs, o estilo realista de Ross, combinado ao seu uso de cores  ajuda a representar visualmente os heróis da DC como um panteão moderno, com o tom de cores claras e luminosas nos heróis (menos no Batman)  fazendo eles de figuras mitológicas, com uma aura de confiança e otimismo quando estão em cena. Em comparação, muitos dos humanos com quem os heróis interagem possuem um visual menos colorido e mais balanceado com cores escuras, fazendo-os parecer meros mortais diante os "deuses modernos" que são os heróis.

 




O estilo artístico de Ross também condiz com a variação de tom da história, com uso de cores claras dando aos momentos light uma sensação de conforto e alegria e os momentos sombrios um senso de intensidade e suspense. As vezes ele faz uso do contraste entre os tons para ilustrar a situação retratada na história. Por exemplo : No clímax de Batman Guerra ao Crime, Batman confronta Marcus e convence o garoto a desistir de ser um criminoso. Com sua arte, Ross representa o momento de forma fantástica, com Batman abraçando Marcus, com os dois sendo iluminados diante uma luz que se espalha pelo ambiente escuro, representando o garoto finalmente encontrando salvação na compaixão do cavaleiro das trevas.

 

Considerações finais 

 



Muitos podem ver heróis inspiradores como os da DC e julga-los chatos, perfeitos demais para terem histórias relevantes, porém são histórias como essas que representam o oposto, mostrando como os heróis da DC não só podem ser tão humanizados quanto os do Marvel, mas suas histórias podem ser bem relevantes até os dias de hoje. É possível ter histórias de heróis  trágicos, sombrios, que sofrem com os problemas da vida, mas, por mim, é bem mais interessante um herói altruísta e esperançoso, que testemunha a dura realidade mas continua a seguir em frente e tentar encontrar formas de ajudar.

 

Claro que essas histórias são diferentes das típicas histórias de super herói, que apresentam super vilões, grandes aventuras e lutas épicas, porém a falta desses elementos ajuda no foco dado aos heróis e seu conflito com esses dilemas tão sérios e reais,  tornando a mensagem por trás dessas histórias bem inspiradora.  Essas HQs são realmente  leituras muito recomendáveis não só para fãs da DC, mas para leitores em geral, pra lembrar que não importa o quão ruim e difícil sejam os problemas encarados no mundo, qualquer vitória, por menor que seja, sempre representará um brilho de esperança para o futuro da humanidade.

 

E então? Concordam comigo? Discordam? Podem livremente deixar sua opinião nos comentários.


 

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