Batman Ano Um - A origem definitiva do cavaleiro das trevas

Batman Ano Um - A origem definitiva do cavaleiro das trevas

Todo super herói tem uma origem, o ponto onde ele começou jornada para se tornar o personagem icônico aos olhos dos fãs. Na cultura pop, uma das origens mais conhecidas de todas é a origem do Batman. Sendo um dos personagens mais reconhecidos do mundo, a história do cavaleiro das trevas é tão marcada na memória do fãs quanto seu protagonista, tendo sido contada e adaptada inúmeras vezes. A quantidade de versões da origem do Batman é tão grande que hoje em dia muitos fãs, incluindo esse que vos escreve, consideram desnecessário um filme do Batman mostrar a morte dos pais deles. Isso é uma evidência de como a origem do Batman é um conhecimento do publico geral, além dos fãs de hqs.

De todas as origens do Batman a versão mais conhecida e celebrada por muitos bat-fãs é o Batman Ano Um. Publicado originalmente em Batman vol 1 404 a 407, no ano de 1987, essa obra escrita pelo lendário Frank Miller (que escreveu o O Retorno do Cavaleiro das Trevas e Demolidor A Queda de Murdock) , com a arte de David Mazzucchelli, foi responsável por restabelecer a origem do Cavaleiro de Gotham após o reboot da Crise nas Infinitas Terras além de introduzir uma nova geração de fãs leitores de hq ao homem morcego. Mas por que, de todas as histórias do Batman, essa é considerada uma das mais memoráveis? Vamos descobrir!

Uma história simples porém complexa

A história se passa no dia em que Bruce Wayne retorna a Gotham, após passar anos de treinamento, se preparando para iniciar uma guerra contra os criminosos da cidade, motivado pela morte dos seus pais. Após uma fracassada tentativa de combater o crime, Bruce percebe que para enfrentar o submundo de Gotham ele precisa ser mais do que um homem aos olhos de seus inimigos. Algo que passe terror ao coração dos criminosos Ao ver um morcego quebrar sua janela, Bruce julga isso um sinal e se inspira no animal alado e se tornar o protetor de Gotham City... o Batman.

Só por essa trama, dá pra notar que a história no papel soa bem simples, não muito diferente do que foi mostrado nas hqs anteriores, se mantendo a história do Bob Kane e o Bill Finger. No entanto, onde a história se destaca é nas mudanças que o Miller realiza nos pequenos detalhes, que enriquecem a mitologia do Batman e tornam a história bem mais fascinante.

O Mundo do Cavaleiro das Trevas

Um desses detalhes é a retratação de Gotham City. Nas hqs anteriores Gotham não era uma cidade tão diferente das outras como Metrópolis e Nova York, sendo fácil o leitor confundi-la com a cidade de outro herói. No entanto, a partir dos anos 70, quando as hqs do cavaleiro das trevas foram assumidas por Dennis O'Neil a cidade passou a ganhar novos elementos como o Beco do Crime e o Asilo Arkham, assim como personagens como a médica Leslie Thompkins, ajudando a tornar Gotham uma identidade própria, com o ano um sendo o ponto de chegada desse desenvolvimento. Tal como fez no Retorno do Cavaleiro das Trevas, Miller trouxe Gotham de volta a suas origens da década de 30/40, mostrando-a como uma cidade bem barra-pesada, controlada pelo crime e por gangsteres e mafiosos. Isso ajudou a legitimar o tom sombrio que as histórias do Batman estavam adotando assim como justificou a necessidade de um vigilante pra proteger os cidadãos de criminosos.

No entanto, essa retratação de Miller não teria tido tanto impacto se não fosse pela arte fantástica de David Mazzucchelli. Tendo já trabalho com Miller antes escrevendo a Queda de Murdock, Mazzucchelli tinha experiência em ilustrar história com um clima bem noir, conseguindo retratar Gotham como uma "cidade dos anos 30 da época atual". Apesar de terem elementos da década de 80, o visual dos personagens e alguns elementos dos cenários, como os carros e a arquitetura da cidade, lembravam muito elementos da década de 30/40, tipo dr filmes clássicos como o Poderoso Chefão. Isso ajudou a dar aos leitores a imagem definitiva de Gotham, permitindo que eles conseguissem identificar a cidade só pelo visual gótico e noir, algo que veio ser adaptado em futuros filmes e séries como os filmes do Tim Burton e a série animada do Bruce Timm.

Destaque para o uso de sombras e cores, com Mazzucchelli sabendo variar elas dependendo da atmosfera, fazendo com que elas combinem com o contexto da história e a emoção dos personagens. Um dos melhores exemplos é a morte dos Wayne. Seria fácil ele dedicar uma página a mostrar o evento trágico do Batman, porém Mazzucchelli retrata o flashback com cores bem frias e forte uso de sombras e rasuras, principalmente quando o bandido dispara contra o casal, dando um atmosfera bem impactante, fazendo o leitor sentir aquela lembrança como algo que o Batman carrega desde a infância

A Criação da lenda

Além de apresentar o mundo do Batman, Miller buscou também explorar a evolução do recém chegado Bruce Wayne no seu alter ego mascarado. Apesar da evolução do Bruce ter sido mostrado em outras histórias anteriores, a obra de Miller soube fazer uma abordagem diferente, mostrando um Bruce Wayne que, embora treinado, ainda possui defeitos e comete uns pequenos erros.

Em certa ocasiões, um problema comum que histórias como essa podem ter é o autor abusar da inexperiência do herói a ponto que ele se torna um completo incompetente, que não aprende com os erros até chegar ao ponto que o publico perde interesse pelo personagem e sua história. No entanto, Miller soube apresentar uma versão do Batman com pontos fracos, mas também pontos fortes. Embora ele seja mostrado tendo certas inexperiências e cometendo uns deslizes nas primeiras aventuras, ele é mostrado como um cara astuto, que reconhece os erros e tenta concertá-los e se tornar um herói melhor. E o legal ainda é que essa mudança não acontece no final da história e sim ocorre durante o desenvolvimento. Cada vez Batman comete um erro ele já de cara reconhece e pensa numa solução. Por exemplo: Ele falhou em enfrentar criminosos como um civil, ele já pensa em alter ego diferente; Ele tá tendo problemas com a policia, ele tenta se aproximar do policial Jim Gordon e tê-lo como um aliado. Embora isso pareça um desenvolvimento bem pequeno para alguns, não deixa de ser um desenvolvimento bem significativo para o Batman, ajudando os leitores a criarem desejo de investir na história dele.

Outro ponto de destaque é a forma como Miller preserva o mistério por trás do passado do Batman. Hoje em dia, muitos roteiristas tentam seguir o exemplo do Nolan e revelam demais sobre o passado do herói, dizendo onde ele treinou, quem foram seus mestre, quais desenvolvimentos ele teve e tal, ignorando o fato do Batman ser uma figura sombria e misteriosa com uma personalidade bem reservada. No caso da versão do Ano Um, não é mostrado muitos detalhes do treinamento do Bruce ou onde ele treinou, porém não necessário o leitor saber disso, com a história dando apenas os detalhes que eles precisam para entender quem o Batman e quais são suas motivações (ex: A morte dos pais dele e seu desejo por vingança contra os criminosos).

James Gordon Ano Um

Apesar de ser o personagem título, Batman não é o único protagonista dessa hq. Ela também foca no Sargento Jim Gordon, mostrando o futuro aliado do Batman chegando a cidade, testemunhado a corrupção na policia e aos poucos passando a apoiar Batman e sua causa. Esse fato gerou umas criticas de alguns fãs que julgam a trama do Jim Gordon desnecessária, achando que ela rouba foco que poderia ser dedicado ao Batman. Embora eu respeite a opinião desses fãs, acho que eles estão olhando a história por apenas um ângulo narrativo, achando que o Batman tem que ser o foco das atenções pra ser o protagonista. Na verdade

Existem muitas formas de contar uma história. Nem todas precisam focar apenas no protagonista, contando os eventos por meio da perspectiva dele. As vezes pode-se contar a história de um personagem explorando a perspectiva que outros tem dele e como esse personagem afeta a vida deles. No caso do Batman Ano um, enquanto o inicio da história se foca em mostrar os eventos que levam Bruce a adotar a capa e a mascara, na hora que ele se torna o Batman, a história sofre uma mudança narrativa, se tornando sobre a reação das pessoas ao cavaleiro das trevas e a influência que ele acaba tendo sobre elas.

No caso do Jim Gordon, ele começa a história como um policial que age pela regras e quer tentar Gotham um lugar melhor para viver com sua esposa e seu filho que está pra nascer. No entanto, conforme ele vai encarando a corrupção na policia de Gotham e vendo os atos heroicos do Batman, sua perspectiva começa a mudar, com ele indo de um policial encarregado de prender Batman para um aliados mais próximos do morcego. A história do Gordon não atrapalha a história do Batman, ela apenas enriquece, mostrando como os atos do herói estão tendo uma influência positiva nos habitantes da cidade.

Legado do Ano Um

O sucesso de Ano Um tornou-a uma das histórias mais influentes de todas na mitologia do herói. Até os dias de hoje, poucos roteiristas tentaram mexer nela. Tiveram umas tentativas como Ano Zero do Scott Snyder, mas sempre voltava a ser parte da continuidade. Até mesmo outras versões da origem como Terra Um pegavam elementos de Ano Um na representação do Batman e de seu mundo.

Além de ter gerado a série de hqs Lendas do Cavaleiro das trevas, cheia de arcos focados no inicio da carreira do Batman, muitos elementos de Ano UM também foram usados como base de futuras adaptações do herói incluindo o filmes do Tim Burton, Batman Begins do Nolan, a série Gotham e até mesmo o filme animado Batman Máscara do Fantasma.

Além disso, em 2011, a hq foi adaptada num filme animado que segue fielmente a hq, mostrando a origem do Batman e o inicio de sua parceira com o Gordon, tendo um elenco de dublagem fantástico e uma animação que recria perfeitamente o estilo noir de Mazzucchelli.

Atualmente, Batman ganhará um novo filme, dirigido por Matt Reeves e estrelando Robert Pattinson. Embora o filme ainda não tenha sido exibido as informações deixam claro que terá alguns elementos de Ano Um, mostrando os primeiros anos do Bruce como o cavaleiro das Trevas de Gotham.

Considerações finais

Nos dias de hoje, Frank Miller caiu na qualidade como roteirista, virando praticamente uma parodia dele mesmo, e suas histórias são bem polêmicas e não tão bem recebidas pelos fãs como antigamente. Contudo não há como negar a importância que ele teve para hqs, incluindo o Batman, tendo feito essa obra que eu considero uma das melhores histórias do morcego.

Embora não seja minha favorita (essa será sempre Guerra ao Crime), essa história é com certeza uma das minhas hqs favoritas, conseguindo ser um ponto de partida perfeito para qualquer um que queira conhecer o cavaleiro das trevas e o inicio de sua mitologia icônica.

Eu não sei como o filme do Reeves irá introduzir essa nova versão do Batman, porém eu só espero que The Batman consiga fazer uma história tão boa, senão até melhor, que essa hq tão influente e marcante.