O Retorno de Wolverine no 1 - Review



Adiantando minha pilha de leitura, finalmente consegui ler O Retorno de Wolverine, que tinha comprado uns dois anos atrás, mas não lido até há pouco. Enfim, mortes e retornos de heróis de quadrinhos são coisas relativamente comuns há tempos na indústria, por razões financeiras. Afinal de contras, morte gera comoção e curiosidade e vende muitos gibis, e assim as editoras podem rachar o rabo de dinheiro. No início, como na época da morte do Superman, o óbito de um personagem realmente tinha grande impacto. Hoje em dia, já é banal. Ainda assim, continua a ser um estratagema que rende frutos. É só verificarmos as inúmeras “mortes e retornos” que tivemos nos últimos anos, incluindo-se as de Batman, Capitão América, Lanterna Verde etc. Há caso mais singulares, como a morte do Flash Barry Allen em Crise nas Infinitas Terras, que foi quase definitiva, pois Barry demorou mais de vinte anos para voltar e tomar o manto de volta das mãos de Wally West, e a morte do Capitão Marvel, o Mar-Vell, que, de tão marcante que foi, os leitores não aceitaram quando a Marvel quis trazer o personagem de volta. Aliás, o caso do Capitão Marvel merece um parêntesis à parte, em razão de todas as implicações legais.






Chegamos então à morte de Wolverine. No entanto, essa morte não teve uma motivação puramente financeira, como foi o caso das outras. Houve uma razão corporativa, que foi a guerra entre a Marvel/Disney e Fox. No final dos anos 90, a Marvel estava falida, deficitária, totalmente fudida. Então, a solução que encontrou para tirar o pé da lama foi vender os direitos de seus personagens para estúdios de cinema, e as joias da coroa eram os X-Men e o Homem-Aranha, os personagens que mais vendiam quadrinhos e que tinham mais adaptações para desenhos e videogames. A Fox, que já produzia o desenho dos X-Men, abocanhou os mutantes, e o resto é história e uma longeva franquia cinematográfica.


Entretanto, o posterior sucesso dos Vingadores no Marvel Studios azedou a relação da Marvel com os X-Men, os transformando em personagens de segunda classe na editora, a despeito de nos anos 90 eles terem a levado nas costas. Houve a decisão de matar o Wolverine, o mutante mais popular, para não dar cartaz para a versão do personagem interpretada por Hugh Jackman. A conjuntura mudou com a compra da Fox pela Disney, que criou um novo estúdio monopolista e possibilitou a realização de uma provavelmente vindoura nova franquia cinematográfica dos mutantes. Assim, por que não elaborar uma nova saga com o retorno de um dos maiores heróis da editora?

Sim, porque, apesar de alguns ainda declararem que Wolverine é um anti-herói, há muitos anos que ele foi alçado à condição de herói. Ele é um herói que mata. Logan efetivamente foi um anti-herói lááá atrás, no começo, quando era um outsider. Porém, quando gradativamente começou a ter uma importância cada vez maior e, por fim, se tornou um dos maiores personagens da Marvel, ele passou a ser um herói. Wolverine ocupa uma posição mainstream demais no universo Marvel para ser um anti-herói. Ele era membro dos Novos Vingadores, é amigo do Capitão América, de Reed Richards, do Coisa, de praticamente todo mundo. E olha que ele começou como um lobo solitário e um maluco que saia retalhando gente. Na verdade, ele continuava a ser um maluco que retalhava gente, mas foi obtendo outras camadas. Logan é um colega de equipe valoroso e até mesmo um guru para algumas pessoas. Kitty Pryde foi sidekick dele. Jubileu também. Nos anos 80 e 90, ele foi um dos campeões de vendas da Marvel, tendo revista mensal e várias graphic novels e edições especiais. Concordo que Wolverine muitas vezes tem atitudes de anti-herói, por causa de sua fúria assassina e seu senso de justiça por vezes implacável; porém, ele tem muitas atitudes de herói também, sendo um grande protetor dos inocentes, com um código de honra de um samurai. E não raras vezes ele ficava em conflito com sua natureza mais selvagem e assassina.

Para trazer Wolverine de volta, apenas uma minissérie não bastaria. Por que não lançar umas quatro minisséries e assim ganhar ainda mais dinheiro em cima dos fanboys? Dito e feito. E dessa forma criou-se Hunt for Wolverine e todas as minisséries derivadas.





Na primeira história da revista, escrita por Charles Soule e ilustrada por David Marquez, os tradicionais inimigos dos X-Men, os ciborgues Carrascos, liderados por Donald Pierce, invadem o santuário onde deixaram o corpo do Wolverine preso em um invólucro de adamantium, pois estavam interessados em vender o corpo de Logan para pessoas mal-intencionadas. Óbvio que os X-Men não deixariam isso barato, e uma confronto ocorre. Os Carrascos conseguem abrir o invólucro, mas qual é sua surpresa quando descobrem que este está vazio. Foi uma trollagem. É revelado então que Kitty conseguiu tirar Logan do invólucro com seus poderes e o deixou vazio para enganar os bestas. Logan foi enterrado em um túmulo comum. Mas Kitty é meio necrófila e está sempre visitando seu túmulo. Numa dessas, descobre que o túmulo está vazio. E fica a pergunta: onde está Wolverine. Ao mesmo tempo, o mostram assassinando um cara, e parece que, além de Logan estar vivo, tem alguém o controlando. Quem será? Kitty decide organizar uma busca por Wolverine, e ela pedirá ajuda para alguns dos maiores heróis da Marvel. 








Na história seguinte, Operação Adamantium, com roteiros de Tom Taylor e arte de R.R. Silva, Kitty pede para que Tony Stark ajude na procura por Logan. Tony diz que fará isso porque tem uma dívida com ele. Que dívida é essa? Isso é mostrado parcialmente em um flashback dos Novos Vingadores, em que Wolverine tem a tarefa de desarmar uma bomba. Tony então convoca o Homem-Aranha, Luke Cage e Jessica Jones para averiguarem uma dica de que estariam vendendo o DNA do Logan em um leilão realizado em um submarino em águas internacionais. Os quatro conseguem entrar disfarçados no leilão, mas o que descobrem não é bem a venda do DNA do carcaju. Vale a pena lembrar que, dos quatro personagens dessa história, o que tem uma relação mais longeva com Wolverine é o Aranha. Porém, anteriormente, eles eram aliados ocasionais que não se davam muito bem, mas formavam uma dupla divertida e com contrastes. Depois dos Novos Vingadores, Wolverine e Aranha ficaram mais amiguinhos.









A história subsequente, Arma Perdida, escrita por Charles Soule e desenhada por Matteo Bufagni, é protagonizada pelo Demolidor. Kitty pede ajuda ao herói da Cozinha do Inferno, em nome da “longa história que ele tem com o Wolverine”, o que na verdade não é bem verdade. Demolidor e Wolverine são aliados ocasionais, mas não grandes amigos, e não se encontraram tantas vezes assim, até onde me lembro. Inclusive, no primeiro encontro com o Demolidor, Wolverine quase o matou porque o herói queria impedi-lo de dar fim no Guerrilheiro, um assassino de mutantes. Apesar disso, o Demolidor ajudou Logan a tentar descobrir quem tinha sido responsável pelo assassinato do Capitão América. Na saga Terra das Sombras, Wolverine tentou matar de novo o Demolidor, quando este estava possuído pela Besta do Tentáculo. Óbvio que, como um herói, o Demolidor não vai se negar a auxiliar Kitty. Sendo assim, ele requisita Frank McGee, um policial inumano que o ajudou a prender um criminoso e assassino inumano na fase do Demolidor escrita por Soule. McGee, apesar de ter certa ojeriza por mutantes, uma vez que inumanos têm uma rixa com essa raça, não resiste ao desafio de tentar descobrir onde está o mutante mais famoso do mundo. Demolidor e McGee então vão atrás de Misty Knight, que, a princípio está bem avessa a participar da missão, mas, depois de uma conversa com McGee, aceita. Misty leva-os até o mutante Cifra, mas ele, além de não estar em seu juízo perfeito, também não parece ter todas as pistas de onde está Wolverine, ou talvez seja o contrário, tenha pistas demais.








Por fim, a última história da revista, mas não menos importante, apesar de, a bem da verdade, ser a mais fraquinha em roteiro, Mistério em Madripoor, escrita por Jim Zub e ilustrada por Thony Silas. Essa história é centrada nas X-Women, Psylocke, Kitty Pryde, Tempestade, Vampira, Jubileu e Dominó, que se dirigem a Madripoor, atrás do paradeiro do Wolverine. Parece que Madripoor agora é o pedaço do Magneto, que voltou a ser vilão de novo. Ele é o típico personagem com problemas de identidade, que vive oscilando entre vilão, herói e anti-herói. Magneto tem uma longa história de desavença com Wolverine, uma vez que ele arrancou o adamantium de seus ossos uma época. Posteriormente, Logan quase o feriu mortalmente e quase o matou. Kitty suspeita que Magneto talvez tenha roubado o corpo de Wolverine e parte para Madripoor com as X-Women. Essa é a história mais “empoderada” da revista. Chris Claremont gostava de dar destaque para as mulheres mutantes porque ele era meio “feministo”, mas parece que no caso dessa história o escritor faz isso porque mandaram, por questão de agenda mesmo.








As X-Women são recebidas por Magneto e convidadas para um jantar em um restaurante grã-fino mais tarde. Nesse meio tempo, elas ficam matando o tempo no Bar Princesa, que era um dos lugares em que Wolverine era habitué em Madripoor. Há também referência a Mariko Yashida, a amada de Logan. À noite, elas encontram Magneto no restaurante, de smoking, todo playboy, parecendo que ele quer fazer uma orgia com as X-Woman (o que não é má ideia). Obviamente, o que acontece a seguir é uma armadilha.

Em suma, apesar de se tirar muitas referências desse primeiro número de O Retorno do Wolverine, as histórias são de medianas para fracas mesmo. A morte do Wolverine foi medíocre, e parece que seu retorno também será. Diga-se de passagem que as últimas histórias do personagem estavam uma bosta, e olha que eu não lia muito frequentemente. Nos anos 2000, o personagem já estava em um período de histórias fracas, com exceção das fases de Greg Rucka e Mark Millar. Nos anos 2010, foi o fundo do poço mesmo; houve a fase escrita por Paul Cornell que é ok, mas a maioria das histórias dessa época é ilegível de tão ruim, fazendo os olhos do leitor sangrarem. Espero que O Retorno do Wolverine melhore, mas é capaz de que piore consideravelmente. Acredito que uma nota 6,5 de 10 esteja de bom tamanho para essa revista.

 

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