Mulher-Maravilha 1984: Minha Inominável Opinião (COM SPOILERS)

 


Poster por psychboz



Inomináveis Saudações a todos vós, Realistas Leitores! 


Primeiramente, bom ano de 2021 a todos desejo. Que possam ter tranquilidade para suportar a Crise Mundial na qual estamos e sem uma data para acabar. Aqui vai, nesta minha primeira postagem do ano no Ozymandias Realista, minha, opinião sobre o filme Mulher-Maravilha 1984. Não analisarei detalhes técnicos, apenas expressarei o que o filme me causou como um todo. Não sou um crítico profissional e, muitas vezes, um deste tipo acaba por esquecer de pôr o coração em suas críticas, deixando-as frias e sem vida. Aqui vou expressar-me com sinceridade sobre a produção e falando com o que meu coração me pede. Porque o filme me tocou, algo que eu não estava aguardando, acabando por me identificar existencialmente com ele nas partes que considero como as de grande profundidade. 


Aproveitei a madrugada do primeiro dia do ano para assistir aos dois filmes da Mulher-Maravilha e ADOREI os dois! A versão da Patty Jenkins para a Diana é a que mais se adequa para a personagem, a Gal Gadot me surpreendeu com uma moderada sensível interpretação (principalmente em 1984, neste estando mais amadurecida e segura no papel) e os roteiros dão valor aos princípios originais da personagem com alguns acréscimos adicionais que se destacaram com o tempo. Não chegam a ser obras-primas, nem filmes que revolucionam a Indústria Cinematográfica e nem podem vir a ser referências em melhores listas de filmes de todos os tempos. No entanto, eles são honestos e simples, uma forma por demais sensível de fazer um registro imagético condensando o histórico de quase cem anos da personagem. Todos ou quase todos já devem ter assistido o primeiro e muita coisa dele devem em demasia sabia. Então, diretamente vou me concentrar apenas no segundo filme. 





Em primeiro lugar, sobre aqueles que estão escrevendo resenhas, fazendo videozinho para o YouTube cheio de mimimi de hater e comentando fora da Internet que o segundo filme é "ruim", só tenho isto a dizer: eles não conhecem a Mulher-Maravilha, a essência desta. As  pessoas que estão detonando o filme sem nem conhecer a personagem é sinal destes tempos onde tudo se baseia em vazio intelectual. São somente pessoas vazias de conhecimento que não vão além da borda de qualquer assunto, atacando por atacar um filme cuja mensagem não compreenderam e nem se esforçaram para obter qualquer forma de compreensão, pelo menos. Como eu especifiquei no começo, o filme não é uma peça rara dentro da História Cinematográfica e tem falhas, muitas falhas, tanto em sua continuidade quanto no roteiro. Nada que atrapalhe a experiência, a meu ver, ao assisti-lo, coisas que podem, de boa vontade, ser ignoradas. 


Não sou especialista na Mulher-Maravilha como o Blue Hammer, autor da postagem onde ele expressa a opinião dele sobre o filme (não li a mesma ainda, apenas lerei após ter publicado este texto aqui no blog). Mas, conheço-a desde criança porque lia histórias dela, me informei pela Internet sobre as origens de seus conceitos e compreendi que nos filmes a Jenkins processou tudo que admira na personagem em uma visão bem diferente dos demais personagens retratados nos filmes da Marvel e da própria DC. Ela é uma heroína que luta mais com o coração do que com os punhos; muitas vezes mesmos, põe o coração nestes e se torna uma Guerreira que não se estabelece pela ultraviolência, mas lutando em nome da Justiça por um mundo melhor. Essa é a Diana que conheci nas histórias antigas e no desenho dos Superamigos. E eu cito esta Animação pelos motivos que explicarei a seguir. 





No filme, o ar leve e o fresco aroma de um grande passeio no parque equivalem a um certo tipo de visão quase Romântica da época retratada. 1984 não foi tão cor-de-rosa ou festivo quanto se pensa baseado no que a cena do Shopping Center anuncia, mas havia na época uma sensação de novo a cada dia, de certa esperança e criatividade. Os anos 80 como um todo (eu tenho 44 anos e os vivi integralmente) foram de muita velocidade e intensidade, considerados por muitos como os melhores anos do Século Vinte. Tão velozes e intensos que criavam certa sensação de alienação e um desejo frequente de passar um domingo no parque com os amigos e familiares quase sempre. O filme é como um episódio dos Superamigos apenas com a Diana salvando o mundo de uma ameaça que interrompe todo o ar de graça e o colorido do momento histórico retratado. É preciso que o colorido volte, que o correto seja feito e a Justiça prevaleça. E ela fez valer, como a Super-Heroína que é, todos os valores heróicos clássicos. 


Eu poderia terminar este texto aqui e dizer que a película é uma espécie de Show da Xuxa em uma versão melhorada com apenas uma loura e cheia de crianças. No entanto, se eu assim interpreto a atmosfera geral do filme em sua superfície, no subterrâneo, bem lá no fundo, o mesmo tem muito mais a oferecer. Diana aprende que vitórias fáceis não são frequentes no mundo real e nem todos os desejos podem ser realizados concretamente apenas porque queremos. Bater o pé no chão e fazer birra pedindo a algum "Ser Superior" pela realização de algum sonho é a maior das infantilidades humanas. E a figura de Maxwell Lord (Pedro Pascal, um verdadeiro gigante na interpretação) surgindo como um pretenso realizador de todos os desejos, através de um Poder suspeito e enganoso adquirido, deu às crianças humanas de todas as idades no filme mais um ídolo para ser venerado cegamente. Mas, toda idolatria tem um preço, junto com o amargo choque de realidade de um preço ainda maior pago por quem almeja alcançar facilmente todas as realizações de seus mais altos sonhos. 




Diana conseguiu realizar o sonho dela de reencontrar seu amado Steve Trevor (Chris Pine, carismático e divertido em uma interpretação toda natural). Barbara Minerva (Kristen Wiig, outra membra do elenco com uma visceral atuação) conseguiu igualmente realizar o dela. O próprio Maxwell Lord realizou o dele com o propósito de ser grandioso e magnânimo. Todas as pessoas realizaram seus sonhos, obtendo tudo o que desejavam, pequenos tiranos egoístas e pretensiosos que se julgam o centro da Criação. Sim, todos os personagens do filme retratam o que nós, Seres Humanos, somos sem nossas máscaras e correntes que pretendem por sob controle os predadores que somos. A corrida alucinada vista nas sequências mais aceleradas do filme (velocidade, algo que nitidamente tem grande palco nele) das pessoas em busca de seu Novo Deus, da muleta preferida da vez, reflete bem toda a Sociedade Mundial Contemporânea com seus excessos, dos cinzentos aos coloridos. Ou misturados como vemos durante as duas horas e meia da produção, Contos de Fadas contados para cada um em posse da premissa de absoluto trono de grandes possessões e importância na Terra.





Cada um tendo tudo e querendo mais, como o homem que queria ser rei; o terrorista que pediu por uma bomba atômica; o abastado egípcio que desejava restaurar sua Dinastia; a mulher que desejou ser famosa; o homem que queria ter uma criação de gado; o Presidente que queria ser Imperador Mundial; e todos no mundo ajoelhados em adoração diante do Deus Lord. Este, uma representação de todos aqueles que prometem Salvação e se julgam Salvadores, que se sentem no direito de dominar e subjugar a tudo que é material, não é o vilão do filme. O Verdadeiro Vilão é cada Ser Humano que alimentou o Poder temporário, frágil e enganoso que ele adquiriu. A Verdadeira Vilania é de toda a Humanidade se voltando para um Ídolo de Barro apenas para poder adquirir o que ferozmente não consegue obter com as próprias forças. 


E no meio dos Vilões e Vilãs de uma Espécie inteiramente voltada para o Deus Pai Lord como criancinhas mimadas e melequentas demais, Diana e Lord foram os únicos que conseguiram se manter racionais. Os muitos arroubos românticos de Diana e Trevor, demais até, soaram monótonos em alguns momentos, para mim. Poderiam ser diminuídos sem atrapalharem a sequência de acontecimentos vertiginosos do filme, que para muitos dá a noção de confusão. No entanto, o ritmo da fome de Lord em querer realizar os desejos das pessoas e ser ainda mais importante e poderoso para todas elas requeria mesmo um tipo de aceleração fora do normal. A avalanche de acontecimentos conturba o mundo inteiro e exige respostas de rápidas direções, sem pausa para meditação, o que os críticos ferozes do filme não entenderam. E dentro da avalanche, da tempestade de situações dramáticas e insanas, o casal foi percebendo que O Desejo também é uma faca de dois gumes. Desejo por dinheiro, Desejo por honrarias, Desejo por glórias, Desejo por jóias, Desejo por carros, Desejo por um amor eterno… Todas as possíveis manifestações do Desejo em um mundo materialista se propõem a ser escravizantes em suas essências, nada libertadoras ou evolutivas, nada boas ou seguras. Voltando-se para o coração, apenas para o único Desejo que não se deixa corromper quando é puro e verdadeiro, eles puderam se separar. Tinham vivido o que eram para ter vivido durante a Primeira Guerra Mundial. Diana precisava continuar, lutar para libertar a Raça Humana da autodestruição por si mesma iniciada. Diana precisava alçar um vôo em direção à vitória, o Desejo Puro e Incorruptível de uma Verdadeira Guerreira





E ela voou, literalmente. Porém, há mais simbolismos presentes no primeiro vôo dela do que podemos pensar. Ao voar, ao se pôr acima da loucura terrestre, ela se igualou às mais frondosas e imperiais Águias que se recuperam de suas debilidades nas mais altas montanhas. Uma Deusa nada de Barro, mas moldada no Ouro com o qual são feitos os Verdadeiros Heróis, de todos os Gêneros e Etnias, no Mundo Ficcional. Toda a Era de Prata se condensou em apenas uma cena, demonstrando que os valores de tal época nos Quadrinhos ainda são hoje possíveis em um mundo Pós-Século Vinte, Pós-Onze de Setembro e, atualmente, bem catastroficamente Pandêmico. Toda a Heróica Mitologia dos Verdadeiros Vencedores se concentrou em Diana a partir de tal particular momento. Verdadeiros Vencedores agem, lutam e vencem com o coração, acima de tudo, como antes aqui foi citado. Com o coração, ela encontro a chave da vitória contra Lord. Com o coração, ela tocou nos corações corrompidos pelos impuros atributos do Desejo no mundo inteiro. Com o coração, ela tocou no coração de Lord e o fez ver, através do Laço da Verdade, que toda Verdadeira Riqueza, Importância e Grandiosidade na Terra nisto reside: no Amor


No mais profundo dos simbolismos do filme, a relação de Lord com o Alistair é tocante no que tem a oferecer como a expressão de algo que muitos pelo mundo nem mais dão valor algum. O outro personagem que se manteve racional no filme foi exatamente o filho do antagonista e aqui vai mais um simbolismo notável. Crianças não possuem os sonhos e objetivos viciados dos adultos, nem ainda possuem os corações corrompidos com todo o materialismo selvagem que é filho da Revolução Industrial. Crianças não são naturalmente  propensas a ser animais capitalistas quando em idade adulta, são seus pais que, inconscientes do quanto apenas pensar no material é prejudicial, corrompem-nas. Crianças apenas vivem com o coração, o que quase todos os adultos esquecem de fazer, mantendo a infância bem distante de si. O coração de Alistair batendo no mesmo ritmo do coração de Lord, quando o Laço da Verdade a este mostrou o que de mais precioso poderia ser dele retirado, é o ponto mais alto do filme. E com uma sensibilidade que personagens moldados para a guerra e a luta não possuem, a Mulher-Maravilha que eu vi neste filme é uma encarnação da que originalmente foi criada por William Moulton Marston







A presença de Lynda Carter na cena pós-crédito como Asteria, denuncia exatamente o que digo no final do parágrafo acima. A Mulher-Maravilha de Marston serviu de base para a da clássica série dos anos 70, sendo uma heroína que não matava seus inimigos. O Laço da Verdade era usado para que aqueles que praticassem erros tivessem seus corações modificados. Muito fácil hoje, em certas histórias, matar um antagonista e estabelecer uma sensação de paz até que outro antagonista pior ainda surja. O mais difícil é estabelecer em qualquer história ficcional um ou uma protagonista que dê a um ou uma antagonista a chance de mudar. Os haters mais radicais do filme aguardavam, certamente, que Diana quebrasse o pescoço do Lord, como ocorreu nos Quadrinhos da DC Pós-Crise Nas Infinitas Terras. Um ato de um certo modo esquecido de heroísmo, o que posso chamar de Verdadeiro Heroísmo, o qual não se vê mais frequentemente em qualquer história de Superseres, foi um choque para quem aguardava todo um tresloucado derramamento de sangue. Gosto de histórias sangrentas, mas no caso de Mulher-Maravilha 1984 o enfoque da perspectiva de resolução do conflito a ser superado pela Heroína foi o mais coerente possível. Um dos caminhos mais duros de punição para um criminoso é a prisão, não a morte. Mas, ao final, Lord não é aprisionado, sendo dada a ele a oportunidade de recomeçar reconhecendo que o Verdadeiro Tesouro que ele busca já lhe é tudo que possa querer: o filho e o Amor a este dirigido


Jenkins optou por não mostrar o que ocorre após todo o Apocalipse de acontecimentos por uma questão de simpatia para com os antagonistas do filme. Não vemos Lord preso e nem a Barbara Minerva; e nem houve também punições para os Verdadeiros Vilões da obra, os membros da população planetária inteira que apenas aguardam sempre um motivo para soltarem as Bestas Interiores em prol do macabro materialismo do Desejo. Nenhum cadáver ao fim de duas horas e meia de sessão como estatística para corroborar os excessos alucinantes da predatória corrida em prol da realização de cada desejo. Sou do pensamento de que conviver com a lembrança de um nefasto erro é bem mais punitivo, seja dentro ou fora de uma prisão. A colorida sequência final retoma o ar de parque de diversões (cada cidade mundial representada em uma cidade) tranquilo após o conserto de todos os seus brinquedos quebrados (cada habitante mundial representado pelos habitantes de uma cidade). Brinquedos bons e maus que enlouqueceram e não queriam obedecer à ordem natural das coisas dentro desta verdade: não se pode ter tudo, realmente, na existência terrestre, por mais que teimemos em desejar com fervor e desespero. Não foi fácil para mim me ver espelhado em cada um dos enlouquecidos, do Lord à Barbara e aos demais personagens. Contudo, foi fácil me ver na pele da Diana e na decisão tomada por ela ao não matar o vilão. Parte de mim o mataria, a parcela irracional e nada agradável; a parcela maior, obedecendo meu coração, teria a mesma atitude da Guerreira de Themyscira.


Momentos memoráveis possui Mulher-Maravilha 1984 junto a falhas nítidas de nível técnico e de condução narrativa, acima dito. Se um pouco mais de cuidado com o resultado final na sala de edição fosse feito, ele se tornaria um clássico instantâneo. O que fica de inesquecível a partir da experiência que me agradou por assisti-lo é toda a carga de mensagens nele depositadas. 1984 e 2021 não são assim tão distantes e heterogêneos por causa do que a População Humana ainda é: um amontoado de brinquedos que se quebram brincando de ser superiores em um parque de diversões que de divertido nada possui. Apenas por este detalhe, o filme é impactante, nada além disso. E eu agiria com desonestidade intelectual se aqui disesse que ele é muito mais do que isso. Senso crítico é o meu melhor amigo e ser cego às falhas de uma obra que, curiosamente, tem assim mesmo uma Alma, seria imbecil de minha parte. Uma Alma que 99% dos recentes filmes de Supers não possui, sejam da DC mesmo ou da Marvel. Outro ponto positivo que apenas muitas poucas pessoas vão reconhecer como eu reconheço. 


Esta é toda a minha sincera opinião sobre Mulher-Maravilha 1984, escrita como sempre escrevo: com o meu coração


Saudações Inomináveis a todos vós, Realistas Leitores! 






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