Existem certos filmes que se colocam no rol de obras-primas só pelo modo como são realizados e Angst, definitivamente, é um deles. A história é simples, mas todo o trato formal que o Gerald Kargl dá ao filme é extremamente elegante e único e fazem, por si só, o filme ter todo esse impacto que tem. É incrível como a câmera dialoga muito bem com a dinâmica frenética do enredo e cria uma ligação muito harmoniosa com a loucura do protagonista. Neste sentido, lembra bastante o cinema do Andrzej Zulawski, que tem nesse frenesi um elemento central do seu ideal estético.
Além disso, alguns momentos em Angst são fantásticos porque a câmera sempre está transitando, mesmo nos momentos em que os personagens e o cenário estão estáticos. Por conta disto, urge da câmera um sentimento de pertencimento à cena que torna tudo muito realista. Isso fica ainda mais evidente pela forma como o monólogo interior do protagonista intui essa natureza sombria da psicopatia de maneira extremamente crua e sem fazer concessões.
Essa falta de concessões, contudo, não se rende ao apelo visual puro, já que o filme (embora possua algumas cenas de violência um pouco mais gore) não cede ao slash por ele mesmo, em um exploitation sem propósito. Muito pelo contrário, esse aspecto mais visceral das imagens, assim como a trilha-sonora sombria que potencializa o ambiente macabro da narrativa, fazem parte de toda uma atmosfera lancinante que é muito bem articulada pelo diretor em uma unidade extremamente harmoniosa.
Por conta de tudo isso, o filme consegue mesclar muito bem o gore e o psicológico, sem soar pedante demais nem sádico demais. Talvez o fato de ter se baseado em uma história real contribua com essa proximidade com uma representação mais sóbria da natureza desse medo que o título sugere. Medo este que, sobremodo, sempre está imbrincado intimamente com um êxtase – eu diria que até com uma espécie de compulsão – pela dor. Seja como for, é uma obra de valor grandioso e que - para os fãs do gênero - merece a devida atenção.
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