Jambo e Ruivão - Review



 Última leitura. Essa é a versão reimaginada dos pueris Jambo e Ruivão do desenho da Hanna-Barbara, escrita pelo lendário Howard Chaykin e desenhada por Mac Ray, mas de pueris eles não têm nada aí. Confesso que não me lembrava de muita coisa a respeito do desenho, mas a proposta dessa linha da DC e reformular os personagens para os leitores adultos, que têm boas memórias do cartum em sua infância. E devo dizer que essas memórias são destruídas nessa nova versão.




De Howard Chaykin, nem é preciso dizer muita coisa. Ele é uma lenda viva dos comics americanos há décadas, mas que infelizmente não tem o mesmo reconhecimento que Alan Moore, Frank Miller ou Neil Gaiman. A molecada nem sabe quem ele é. Mas Chaykin é um grande contador de narrativas e um grande conhecedor da história e da cultura pop norte-americana, autor de excelentes HQs como O Sombra: Crime e Castigo, American Flagg, Black Kiss e muitas outras.




Nessa reinterpretação, o gato Jambo e o cachorro Ruivão são dois comediantes que conseguem se tornar astros de Hollywood, em seus anos dourados. No entanto, a convivência mútua faz os dois não se suportarem mais, e a parceria é desfeita. Jambo, depois de tentar alguns trabalhos solo, acaba por perder sua fortuna em um esquema de pirâmide. Ruivão torna-se um viciado e termina por trabalhar em um supermercado.



Eis que surge a jovem caçadora de talentos Pamela, que enxerga nos astros decadentes a chance de galgar a escada dourada dos empresários de celebridades, e ela não pretende deixar essa chance escapar. Pamela consegue reunir a reticente dupla, e Jambo e Ruivão voltam a conquistar o show business.



Essa HQ é uma crítica mordaz, com um humor bem ácido, a Hollywood e ao ramo do entretenimento nos estados unidos. A sociedade hollywoodiana não é brincadeira, e se aproveita dos talentosos incautos, suga tudo o que pode, mastiga e cospe fora. O próprio Chaykin tem experiência nisso, uma vez que foi roteirista de séries de TV, como a do Flash dos anos 90 e Mutant X. Há paródias bem evidentes a Arthur Miller, a HBO e inúmeras outras redes de TV norte-americanas, bem como a talk shows como o Late Show. Até South Park e Doctor Who são satirizados, assim como a Comic Com e os fanboys, retratados como imbecis, o que de certa forma realmente são.



Não há espaços para cães e gatos entre os tubarões de Hollywood. Não que Jambo e Ruivão sejam inocentes, muito pelo contrário. No entanto, a gente fica com um pouco mais de pena por Ruivão, que realmente é o menos calhorda da dupla. Quando o veterano Aldo Schrafft consegue “roubar” Jambo e Ruivão de Pamela, o troco ainda irá por vir, ainda que demore.  


Há uma cena um tanto controversa na HQ, de uma sex tape de Jambo e Ruivão fazendo ménage a trois com uma humana ruiva, o que pode ser entendido como zoofilia, mas, perto de outras obras de Chaykin, como Black Kiss, isso é bem light. E da zoofilia de Howard, o Pato ninguém reclamava. Sem contar que não sei dizer se quando uma mulher faz sexo com animais antropomorfizados é zoofilia, até mesmo porque animais antropomorfizados não existem.

Enfim, Jambo e Ruivão é uma HQ excelente e que agrada a quem gosta de humor mais corrosivo, mas não sei se indico para todo mundo. Em certa medida, talvez ofenda algumas pessoas, principalmente as da geração mais nova, que parecem feitas de cristal. No entanto, a molecada nem conhece os personagens, não é uma HQ feita para ela. Se você perguntar para alguém que tem menos de 30 anos quem são Jambo e Ruivão, duvido que esse alguém irá saber. Nota 9 de 10.

 


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