OPINIÃO: COBRA KAI APOSTA NA NOSTALGIA E REFERÊNCIAS À DÉCADA DE 80!


Confesso que lá em 2018 quando foi lançada a série COBRA KAI, não me interessei muito em assistir por achar uma continuação muito tardia. Mas, devido a insistência de uma conhecida (apaixonada pela série) e pelas várias declarações do tipo "melhor série em exibição", resolvi ceder e assistir as duas temporadas disponíveis. É uma boa série, mas a declaração "melhor série em exibição" deve vir acompanhada de uma ressalva...


...Isto porque pessoas diferentes, darão indicações diferentes! Alguns dirão que a melhor série seria "The Mandalorian", outros "Expanse", outros ainda "Lovecraft Country" (excelente por sinal!). Claro que aqui se poderia alegar que são de gêneros diferentes. E ai chegamos a ressalva de que falei. É a melhor série em exibição...dentro de seu gênero. E qual seu gênero? Drama!


A série não é sobre caratê. Porque ela meio que denigre a luta. Uma vez que mostra que seus praticantes, independente da escola (ou 'dojo') que pertençam, se tornam irascíveis, intolerantes, não dispostos a acordos ou comunicação, violentos e agressivos! 


A série poderia ser sobre recomeço. Pois ela é uma continuação direta do primeiro filme "Karate Kid" de 1984 (os outros dois são apenas citados vagamente. O quatro é ignorado - pelo menos até agora...). Acho que todas as pessoas no planeta já devem ter assistido, mas aviso que vou dar um spoiler


No final do filme de 1984, temos um combate entre Daniel Larusso (o bonzinho da história) e Johnny Lawrence (vilão especialmente convidado). E claro, o bem deve vencer, então Larusso vence por um ponto. Nesta luta final, por uma fração de segundo, se mostra que Johnny tem um certo senso do que é correto dentro de si, quando seu mestre Kreese (super vilão) manda que de um golpe sujo...




Os produtores pegaram esta pequena demonstração de bom caráter de Johnny e trouxeram para a série. Naquela noite Johnny perdeu muito mais que o torneio. Sua vida toda 'desceu pelo ralo' a partir de então. E no inicio do seriado temos um Johnny derrotado pela vida e alcoólatra (claro!), que vê uma chance de recomeçar reabrindo a academia de caratê Cobra Kai (desculpem, academia não! Dojo...). A série poderia ser (ou é em parte) sobre isto, mas envolve algo mais...


A série é uma declaração de amor pela década de 80!! Desde seu inicio (parecendo mudar um pouco ao final da temporada 2) a série é mostrada sob um ponto de vista da década de 80. O roteiro mostra dois tipos de pessoas desta década, lidando com os dias atuais. Um deles conseguiu se adaptar bem (com ressalvas), o outro (Johnny) nem tanto...


Em especial por ter perdido mais do que Daniel. Assim temos algumas cenas que mostram todo o estranhamento diante da 'cultura' atual. Por exemplo em uma cena alguém liga para Johnny e lhe pergunta sobre a 'politica de diversidade de gêneros da academia'. Johnny tem um ataque por não entender plenamente sobre o que se falava, afinal ele é de uma época em que tais coisas eram ignoradas...


Além disto, temos uma série de referências aos filmes da cine série, a outros filmes da década, a musicas, a carros e a costumes da década de 80. Os produtores apostaram nisto: no saudosismo (na moda atualmente) e em tais referências que por incrível que pareça, fazem parte de nosso cotidiano...


Algumas pessoas elogiam mais a segunda temporada, porém ela demonstra um certo desvio do caminho inicial do seriado. A estrutura da primeira temporada é em cima do filme do cinema e inclusive quando termina, temos a sensação de estarmos assistindo de novo ao primeiro filme. Claro com um final diferente. Aliás, o final da temporada tem um retorno que considerei um tanto cedo demais para acontecer...




A segunda temporada perde um pouco o caminho utilizado na primeira. Começamos a assistir uma série impressionante de maus entendidos que sempre terminam em pancadaria. O seriado passa a se utilizar mais de lutas para disfarçar uma certa falta de assunto. 


Aliás, os maus entendidos frequentes acabam por irritar ao expectador e acaba tirando da série o titulo de "melhor em exibição". Tantos maus entendidos acabam transformando o seriado em uma espécie de "Malhação", naquela fase em que um guri guitarrista se interessa por uma lutadora e põe nela o apelido de 'esquentadinha'. Era um mau entendido em cima de outro para separar o casal...


Em "COBRA KAI" acontece o mesmo! Toda vez que vemos que Johnny e Daniel ou Miguel e Samantha, vão se entender, sabemos COM CERTEZA que ocorrerá um mau entendido e tudo vai por 'água abaixo'. E isto se estende a todos os outros personagens. 


Assim, a soma de ressentimento, má comunicação e maus entendidos sem fim, levam a situações cada vez piores que culminam com uma inacreditável guerra no colégio no primeiro dia de aula! O final da batalha se torna previsível, quando as lutas infindáveis se encaminham para a escadaria da escola...




Saindo um pouco do estilo década de 80, há uma tentativa de se subverter a posição heroi/vilão, pois não há um vilão no pleno sentido da palavra na série. Algumas vezes Johnny 'mete os pés pelas mãos' por ser 'pavio curto' (e as vezes estar bêbado) e se coloca no lugar do vilão, mas as vezes (talvez maior parte delas) é Daniel que se porta como se fosse o lado ruim da história...


Estes 'deslizes' de Daniel,  levaram alguns fãs da série a começarem a fazer postagens perguntando se era errado torcer pela Cobra Kai. Porém, se prestarmos atenção, a Cobra Kai atrai pessoas de má índole ou a transformam em alguém assim. 


Exemplo disto é o preferido de todos Miguel, que vai aos poucos se tornando o que mais odiava: um valentão, cabeça quente. Outro exemplo é 'Hawk', que a certa altura me provocou simpatia, mas que se torna um babaca de 'carteirinha', que gosta de fazer bullying com os mais fracos...


Quando chegamos aos "40 minutos do segundo tempo", as pressões devem ter sido enormes (além claro, da negociação com a Netflix) e os produtores acrescentam o que não havia aparecido ainda. No nono episódio da segunda temporada, se inclui o que é obrigatório em qualquer série atual: o relacionamento homo afetivo. O modo como é incluído, pode significar que não era algo planejado e também uma espécie de protesto (convenhamos que foi quase patética a situação...).


Vejam bem: é algo esperado (já que é obrigatório). Porém, no caso de uma série que tinha inicialmente uma visão da década de 80 (e agradou aos fãs por isto), isto indica que a próxima temporada pode ser bem diferente e mais próxima as demais séries adolescentes que infestam os canais. 


A boa notícia é que a terceira temporada nem estreou e a série já foi renovada para uma quarta! Esperemos que a  mudança para as 'asas' da NETFLIX não roube a essência da série, mas que colabore para o crescimento dela, com melhores roteiros e cenários...Aliás, há boatos que a próxima temporada envolverá situações em Okinawa....


Então...nos encontramos lá! 


Hawk (bom personagem que se perdeu) - Sensei Lawrence - Miguel Diaz


Amanda Larusso - ótima personagem desperdiçada na série

Tory - entrou na série para dar problema...




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