Conan versus Thongor

 




Todos sabem que o licenciamento de Conan, o Bárbaro para a Marvel Comics foi um grande sucesso e basicamente o ponto de partida para a chamada Era de Bronze dos quadrinhos. Porém, a história de como aconteceu esse licenciamento é interessante e merece ser revisitada.





O então editor e escritor da Marvel Comics na época, o lendário Roy Thomas, um grande fã do gênero “espada e magia”, havia conseguido convencer o à época presidente da editora, o também lendário e bastante infame Martin Goodman, a investir em um licenciamento de um personagem do gênero. Obviamente que o mais pedido pelos leitores era Conan, de Robert E. Howard. Entretanto, como Goodman era um pão duro de primeira, preferiu que o personagem licenciado fosso Thongor da Lemúria, um genérico do cimério criado por Lin Carter, que também foi um dos escritores que sucederam Howard nas histórias de Conan.





No entanto, o agente literário de Lin Carter era do tipo ganancioso e pediu um valor maior do que os 150 dólares por edição publicada que Goodman estava disposto a pagar. Isso travou as negociações pelos direitos de Thongor, o que deixou Roy Thomas desesperado. Calhou de, por essa época, ele ter folheado uma edição de Conan de Howard em uma livraria, o que o inspirou a enviar uma carta para o agente literário da Fundação Robert E. Howard, oferecendo 200 dólares por edição para o licenciamento de Conan. Surpreendentemente, ele aceitou a proposta de Thomas, e assim o cimério foi agregado à Casa das Ideias.

Porém, Roy Thomas entrou em pânico quando percebeu que o valor do licenciamento de Conan para a Marvel era 50 dólares a mais do que Martin Goodman estava disposto a pagar. A solução de Thomas foi propor a Goodman abater essa diferença de seus honorários de roteirista.  E ainda propor que ele fosse o escritor da revista.

Após isso ser acordado, precisava-se encontrar um desenhista para a HQ de Conan. Roy  Thomas e Stan Lee tinham predileção por John Buscema; porém, Martin Goodman bateu o pé e exigiu um artista mais barato. A solução foi contratar Barry Windsor-Smith, que era um ilustrador em começo de carreira na época.


Dessa forma, em outubro de 1970, chegava às bancas (em uma época em que quadrinhos da Marvel eram vendidos em bancas, antes da ascensão das comic shops) Conan, The Barbarian no 1, trazendo um personagem e um gênero completamente novo para a editora. Afinal de contas, com exceção do Hulk, que era um anti-herói, todos os demais personagens da Marvel eram super-heróis, que, por mais problemáticos que fossem, tinham uma noção de moralidade sólida.

Conan, por sua vez, era um protagonista violento e com código de honra próprio e errático. Em muitas de suas aventuras, era mostrado como ladrão, mercenário e pirata, além de ser um personagem violento como nenhum antes que foi publicado na Casa das Ideias. Wolverine e Justiceiro ainda não tinham sido criados. Isso bugou a mente dos leitores um tanto simplórios dos anos 70.

No entanto, apesar dos primeiros números da revista terem vendido bem, os seguintes foram tendo declínio de vendas. Roy Thomas novamente entrou em pânico e ficou com o cu na mão, temendo ser demitido por Goodman, quando o venerável Stan Lee veio em seu auxílio e sugeriu que Thomas conversasse com Barry Windsor e alterasse o padrão das capas de Conan, pois “havia bichos demais”. Ou seja, Conan sempre estava enfrentando um monstro ou algo assim, em vez de adversários humanos. Como de praxe, Stan Lee estava certo, e, ao mostrarem o bárbaro enfrentando inimigos humanoides na capa da revista, a HQ de Conan teve um aumento substancial de vendas.

O resto é história. Conan não só passou a ser um best seller da Marvel, como também fundou uma vertente dos quadrinhos nos anos 70, que foi a “espada e magia”. Logo o bárbaro ganharia outra revista, a lendária The Savage Sword of Conan, que seria a primeira revista “adulta” da Marvel, ilustrada por John Buscema, entre outros grandes artistas, com direito até a peitinhos sendo desenhados.







E, como a história é cíclica, posteriormente a Marvel conseguiu fazer um novo contrato de licenciamento e chegou a publicar a revista de Thongor da Lemúria, que lamentavelmente não foi muito bem-sucedida. Entretanto, Thongor chegou a influenciar outros dois personagens de desenhos animados, Thundarr, o Bárbaro e He-Man. Digo isso porque as histórias de Thongor não eram apenas ambientadas em um mundo de fantasia, mas também científico. Thongor dirigia uns veículos voadores e demais coisas do tipo, o que serviu de base para os universos de fantasia/ciência dos personagens dos desenhos.

Enfim, no fim das contas, Conan deve ser grato ao fracasso de Marvel com Thongor, o que é irônico, visto que, se não fosse pela intenção de criar uma HQ de Thongor, jamais veríamos o quadrinho de Conan pela Marvel, o que sem dúvida deixaria o personagem bem menos conhecido do que é hoje. Ele faria parte de um nicho literário e jamais seria interpretado por Arnold Schwarzeneger, que o deixou conhecido entre o “povão”.


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