Setembrochove !



Por vários anos, venho afirmando e confirmando aqui no Marreta : Setembrochove!!!
Pouco importam as predições em contrário ou em negação : Setembrochove!!!
A previsão do tempo, a tal da Meteorologia e seus prognósticos pouco exatos, sempre sujeitos a chuvas e a trovoadas, só são de certa confiabilidade em onze meses do ano.
Inúteis, em setembro. Besteira. Perda de tempo consultar a previsão do tempo em setembro. Setembro é uma zona morta para os balões e sondas meteorológicos. Até para os satélites do Inpe. Digam o que digam os instrumentos dos homens, Setembrochove! E ponto.
Inda ontem reclamei aqui da aridez de Atacama que estava a se abater sobre a cidade, do seu ar mais seco e empoeirado que cu de camelo. Numa quase esperança motivada pelo desespero, ainda que a sabendo vã, consultei um site de meteorologia. Nada. Nenhuma gota prevista para a Califórnia brasileira nos próximos 15 dias.
E não é que hoje, domingo, acordo e respiro um ar mais úmido ao ir fazer o café e abrir a janela da cozinha? Saí à sacada e o asfalto estava molhado, bem molhado. O cenário esbranquiçado a ocultar parte da paisagem ainda persistia, porém, nuvens de boa água substituiam a névoa seca. Vai ver alguma deusa da chuva apiedou-se de meus queixumes e decidiu nos aspergir do turgor de suas generosas tetas.
Negue o quanto você quiser, leitor do Marreta : Setembrochove.
Uns quarenta minutos depois, ela voltou a cair. Em bom volume. Chuva boa, prazenteira. Sem ventos, estardalhaços e estragos. Como costumam bater por aqui as primeiras chuvas depois de longo estio.
Quando, por volta da hora do almoço, estava a sair para comprar cerveja num posto a uns quatro quarteirões de casa, ainda precipitava fina garoa. Vendo-me à porta sem um guarda-chuva, minha esposa me alertou de que ainda chovia. Tô sabendo, eu disse. E saí. Sem lenço, sem documento e sem guarda-chuva. Apenas com máscara.
A garoa me abraçou, molhadinha. Abracei-a de volta. Saí a calçar um genérico do chinelos havaianas, propositalmente. Esquiei meus pés pelas enxurradas residuais. Suspiraram em alívio, meus calcanhares rachados. Cheguei em casa com as roupas úmidas, os pés molhados e a prata do cabelo orvalhada.
Assim que entrei, meu filho, que me esperava à tocaia atrás da porta, apontou para os meus pés : - andou na enxurrada, né? Eu sabia. Meu filho nunca pôs os pés descalços numa enxurrada. Não por falta de oportunidade. Não por falta de insistência de minha parte. Muitas vezes, a caminhar comigo após uma chuva, tentei fazê-lo descalçar-se e me acompanhar no caminho das águas. É sujo, ele diz. Tem nojo, para o meu desgosto.
Apesar da educação das antigas que recebe, ele parece já ter nascido mesmo parte dessa geração atual, dessa geraçãozinha do "limpinho", do "nojinho" do que é natural. Ele nem sequer mija na piscina! Sai da água para ir urinar no banheiro. Dá pra acreditar?
O que terá ele para se lembrar quando tiver a minha idade? Se dos doces prazeres da infância, nem do de chapinhar os pés numa enxurrada barrenta e do de dar uma mijadinha na piscina, ele se aproveita? De minha parte, eu mantenho os dois. Sempre que posso. Mas já o adverti várias vezes : se adolescente, ele se meter a besta de depilar as pernas e o saco, eu o boto pra fora de casa! Pãããããta que o pariu se boto!
E a chuva voltou. Enrodilhou-se o dia todo, feito gato no céu.
Setembrochove, meus caros. É inevitável.


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