Há mais de sessenta anos, mais precisamente em 1954, foi criado o Comics Code Authority que era o selo de censura para as HQs, basicamente as de terror e super-heróis, criado pelos próprios editores alegando que seus conteúdos precisavam ser supervisionados antes de irem para venda nas bancas a fim de não transmitirem imagens sugestivas ou violentas, seria como você assistir um filme no cinema com censura para maiores e depois na TV aberta, após ele passar pelos censores da emissora que mutilam algumas sequências por julgarem que o conteúdo das cenas é impróprio ou pode passar uma mensagem de erotismo, perversão sexual ou violência desnecessária, fica claro que alguma coisa sumiu no meio da história, ou como dizíamos: “Pularam aquela cena tal em que o cara fazia aquilo”, no caso das HQs só se via o que era julgado permitido ou apropriado. Hoje em dia temos uma visão mais livre e aberta para assuntos que, naqueles tempos, eram considerados subversivos e ameaçadores para as mentes das crianças.
Isso tudo começou com a publicação de um livro chamado A Sedução dos Inocentes do psiquiatra alemão Fredric Wertham aonde ele alegava que as histórias em quadrinhos transmitiam mensagens que levavam a distúrbios no comportamento das crianças ao ponto de torná-las delinquentes. Em uma sociedade conservadora e moralista como a americana da década de 50, o efeito foi rápido e levou os pais a questionarem a verdadeira natureza das histórias de heróis como Batman e Robin e a eterna acusação de uma possível relação homossexual entre eles ou que a Mulher Maravilha era o estereotipo da mulher “fora dos padrões femininos naturais”, manchando a imagem de mocinha que as personagens femininas possuíam nas HQs, até então as coadjuvantes que existiam para serem salvas pelos heróis, a exemplo de Lois Lane, a eterna amada do Superman sempre em perigo.

Desde o final dos anos 70 para os anos 80, com todas as mudanças no mundo pop com as músicas, filmes e quadrinhos, não se pode mais considerar que os leitores de HQ são inocentes ou que tiveram seu comportamento deturpado pelo conteúdo publicado. E ficamos felizes que essa visão retrógrada perdeu forças com o tempo, do contrário nunca teria chegado a nossas mãos obras como O Cavaleiro das Trevas, Watchmen, Demolidor de Frank Miller, American Flagg, Fritz The Cat, Maus, Dreadstar e Camelot 3000, porque nunca antes temas como vício em drogas, mortes terríveis, homossexualismo, lesbianismo, corrupção e realidades apocalípticas foram retratados de maneira tão clara.