Picolé de Cerveja

Pensando bem, demorou a acontecer. Demorou a se dar a desgraça.
Primeiro, foi a heresia gastronômica da pizza doce - banana, goiabada, chocolate, chocolate branco etc -, aberração culinária que provoca em mafioso italiano bom de garfo a justa ira de mandar matar o pizzaiolo que a criou, não sem antes pedir a excomunhão do sujeito ao Papa, que é para garantir que a alma do maledeto vá direto para o pau do capeta após a sua execução com três balaços na cabeça.
Sem dizer - e já dizendo - de outros pecados menores, pecados veniais, digamos assim, contra a culinária tradicional de diversos países : lasanha de berinjela, strogonoff de frango, "trufa" com licor de maracujá, cereja etc.
Agora, porém, a injúria dos hereges foi para além da sagrada gastronomia, ultrapassou todos os limites aceitáveis : agora, a mira dos blasfemadores se voltou contra a sacrossanta cerveja!!!
A tradicional empresa pernambucana de sorvete Frisabor, gigante nordestina do segmento de chupadores e lambedores, se aliou à também pernambucana cervejaria artesanal Ekäut, líder do nicho mercadológico de "degustadores" e, juntas, lançaram o Picolé de Cerveja, a cerveja artesanal que harmoniza com um pauzinho. Cerveja no pau, o sonho de consumo de todo viadinho gourmet!
E o Frisabor Cerveja é mesmo artigo para boiolas e delicadinhos, para mulherzinhas, para belas, recatadas e do lar, é mais fraco que coice de porco, seu teor alcoólico é de apenas 3,25%, contra os usuais 5%, 5,5% das cervejas pilsen e lager, as mais consumidas pelo brasileiro. E artigo pra boiola rico, pra baitola com o cu cheio de grana. Cada picolé tem, segundo o fabricante, 60 ml de cerveja (do tipo American IPA) congelados, e sai pelo absurdo de R$ 7,00 a unidade.
Fiz umas contas. Um litrão de Brahma (teor alcoólico 5,5%) fornece 55 ml de álcool à minha sedenta alma, e pago R$ 6,00 por ele no boteco da esquina. Um picolé de cerveja de 60 ml a 3,25% de graduação alcoólica tem apenas 1,95 ml de álcool. Ou seja, para eu consumir, na forma de picolé de cerveja, a mesma quantidade de álcool de um litrão da Brahma, eu teria que chupar aproximadamente 28 picolés. Eu ficaria com a boca despregueada! E desembolsaria R$ 196,00. Ficaria com os bolsos arrombados!
De acordo com Diogo Chiaradia, diretor-executivo da Ekäut, a cerveja escolhida foi a American IPA, por ser "bastante encorpada, com amargor alto e sabor frutado". Pois é, cerveja pra frutinha. Mas a herege parceria não quer parar por aqui. Caso a meta de 30 mil unidades vendidas até o fim do Carnaval seja batida, há planos para picolés de outros tipos de cerveja.
Não chupei. Não vou chupar. E não aprovo tal híbrido transgênico. Macho que é macho entorna cerveja é no gargalo. Mama a cerveja direto da copiosa teta de uma ampola âmbar. Não chupa pau gelado. Nem quente nem morno.
De mais a mais, voltemos ao exemplo inicial da pizza doce. Caso eu coma uma pizza de brigadeiro, vou pedir o que de sobremesa? Um sorvete de aliche? Um pudim de calabresa? Uma compota em calda de frango com catupiry? O mesmo irrefutável raciocínio vale para o picolé de cerveja. Alguém já viu cerveja de groselha? De menta? De nata? Então, não tem que ter picolé de cerveja!
Quer tomar cerveja, abra um bom e gelado latão! Quer chupar, vá atrás de uma rola, ora porra!
Contudo, ao que parece, o picolé de cerveja está com boa aceitação no Recife, capital pernambucana. Um vendedor teria declarado, em off, ao Diário de Pernambuco : "ontem, chegou um xibungo velho e perguntou se aqui vendia sorvete de cerveja, eu falei que vendia, aí ele pediu : então me dá um picolé e duas bolas".

Pãããããta que o pariu!!!! 
Para finalizar, só me resta fazer a pergunta que não quer calar ao meu amigo recifense Cássio, leitor assíduo do Marreta : e aí, Cássio? Já provou da guloseima? Vai dar a sua chupadinha?

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