O velho professor, que há tempos ultrapassou os limites da exaustão e do desânimo - que foi trespassado por eles, em verdade -, que há tempos desenvolveu a arte de respirar o vácuo e a eterna derrota, trôpego e coxo, arrasta-se para o fim de mais um ano letivo, de mais um ano de nada; se muito, de indignidade.
O velho professor senta-se e espera pelas dúvidas, que sabe que não virão. Onde não há vontade de pensamento, não há dúvida.
Para distrair-se até o soar do sinal, o velho professor começa a ler um livro emprestado por uma colega, Aforismos para a Sabedoria de Vida, de Arthur Schopenhauer, o alemão ranzinza e pessimista.
Procurar no pessimismo de Schopenhauer um anódino para o seu cotidiano. Começa a ler. Uma página, duas, vinte e duas. Pessimista, o Schopenhauer? Sempre superestimados, os tais filósofos, ainda mais se alemães.
Pessimismo? Frente ao contexto do velho professor, um mar de rosas, isso sim, um mar de rosas a visão Schopenhaueriana.
O tão afamado pessimismo de Schopenhauer?
Sabia de nada, o inocente e ingênuo alemão.