Por que animes na TV aberta estão fadados ao fracasso hoje?



[Texto da tag “Escritor Convidado”, escrito por LUCAS RODRIGO, do blog UNIVERSO LEITURA, publicado originalmente em:
http://universoleituracontoscreepys.blogspot.com/2018/08/por-que-animes-na-tv-aberta-estao.html]




Estou praticamente desabafando aqui, com muito desapontamento e certa tristeza: A TV aberta está simplesmente à beira da morte. As doses dessa "injeção letal" são homeopáticas. No que tange aos animes, especialmente, eu pouparia esse texto de comentários super-prolongados, só que tamanha insatisfação, mesmo não mais acompanhando esse veículo, me leva a fazer exatamente o contrário, mas vou me conter. A questão é: Por que diabos ainda insistem em pedir exibição de animes em rede de televisão aberta em época de Netflix, Crunchyroll e inúmeros serviços online, oficiais ou não, dominando esse meio, tornando-se altamente acessíveis e se fazendo alternativas insubstituíveis?


"Ah por que ver na TV é mais nostálgico"

Peguemos como exemplo mais notório a Rede Brasil que em 2016 investiu numa programação contendo animes iniciando com Dragon Ball Z e Cavaleiros do Zodíaco, dois pesos-pesados que dispensam comentários em matéria de saudosismo e nostalgia. No entanto, um tempinho depois, vieram as reprises. CDZ parou no meio do arco das 12 casas.

Isso não faz lembrar uma certa emissora extinta? Pois é, parece que a Rede Brasil levou muito a sério a alcunha utópica que os fãs atribuíam à ela sobre ser a "Nova Manchete" e ainda deu uma desculpa esfarrapada de "seguir a tradição". Tradição de quê? De deixar os telespectadores a ver navios? Dragon Ball Z também não escapou dessa artimanha cabulosa, sendo reprisado desde o início da saga dos saiyajins quando o arco de Freeza ainda nem estava na metade. Obviamente o rage pra cima da emissora correu solto nas redes sociais – e com bastante razão –  pois em tempos de internet facilmente acessível. isso é um tremendo desrespeito com os fãs que resolveram satisfazer a emissora dando sua audiência única e exclusivamente pela nostalgia que nutrem pelo produto. Ou vai dizer que estão errados pela emissora ter dito estar seguindo obrigações contratuais? Não é uma justificativa muito segura, pelo menos na minha visão. Reprisar com tantas opções de consumo disponíveis é um ato retrógrado. É como se a emissora acreditasse que os próprios fãs nostálgicos ainda vivem nos anos 90, pararam no tempo completamente. Isso pra mim só tem um nome: Sacanagem.

Fizeram de novo e de novo e de novo... Nem sei quantas vezes repetiram os episódios pois enquanto rolava a primeira reprise eu já tinha perdido minha TV à cabo e recorria ao (péssimo) streaming da Rede Brasil, mas desisti por motivos óbvios. Há pouco tempo alcançaram a Saga de Boo, a exibição foi interrompida por uma semana inteira por conta de aluguel de horário para uma igreja e quando voltou... Adivinha... Exato. Mais reprise e mais um pisão na bola pela emissora. E ainda direto ao começo de DBZ quando tinha avançado tanto.


Qual a intenção disso, afinal?
Segurar a audiência?
É risível, simples assim. Existe o bloco da Crunchyroll, cuja meta é apenas divulgar a plataforma e nada mais, o programa é apenas uma vitrine para um serviço muito mais abrangente. Na programação constam oito animes dublados e legendados, algo nunca antes visto em TV aberta. A estratégia é compreensível, o problema se encontra quando o modo de propagandear o serviço venha por meio de uma emissora com baixa projeção. Chamaria atenção há um tempo, como a RedeTV fez com Pokémon, Super Onze e diversas outras atrações. Mas a mudança dos tempos agravou esse quadro.

Então, a conclusão que se chega, pra mim, é tão simples como incontestável: Animes em TV aberta não funcionam mais. O SBT? Jamais. A Globo? Cuspiu no prato que comeu. Record? Impossível! RedeTV? Pokémon retornou à programação, mas durou tanto quanto doce na mão de criança. Se for depender de uma Rede Brasil da vida... Me desculpe quem depositou confiança, mas quem teve suas altas expectativas traídas e ainda reclamou, não passa de alguém muito trouxa. Eu particularmente não botava tanta fé ciente dessa era que vivemos hoje. Não tô dizendo que você não deve reclamar porque foi tapeado. O certo é direcionar o seu pensamento à realidade e não comprar cegamente o "mundinho de fantasia" que a emissora prometeu.
Se tivesse sabido do histórico nada exemplar da Rede Brasil referente a animes e tokusatsus, ainda que a aquisição de DBZ fosse de maneira oficial, teria encarado tudo com um pé atrás. Alguém plenamente consciente dos tempos atuais faria isso. Portanto, não adianta chorar pelo leite derramado. Não quero promover nenhum tipo de boicote, mas acho que nesse caso a opção mais sensata por parte do público que apostou todas as fichas na exibição dos animes é simplesmente parar de assistir e dar ibope para uma direção que parece presa ao passado e aparentemente trata os telespectadores como idiotas (e não sei quem é mais nessa história: se os fãs que veneram uma emissora porca dessas como "nova Rede Manchete" ou o pessoal da alta cúpula do canal que acha que estamos ainda na década passada ou retrasada).
 O mínimo de competência que se esperava de um canal aberto é um tratamento que fosse em proporção a qualidade técnica dos animes. Mas de canal aberto, nenhum anime merece sobreviver aqui no Brasil.