ROGER WATERS: MAIS UM TIJOLO NO MURO


N
os últimos dias, muito se comentou sobre a manifestação política de Waters contra o “neofacismo”, elencando nomes (e com uma incômoda interrogação no nome de Vladmir Putin) dessa “onda” no mundo, entre eles, o candidato a presidente Jair Bolsonaro - vindo de um primeiro turno à 5% de uma vitória nesse último domingo. – De súbito veio a divisão entre a Esquerda, classificando a direita como inculta, visto a crítica política ser um dos pilares desde que o músico era do Pink Floyd, enquanto esta, devolveu que Roger apenas caiu de paraquedas em um cenário complexo, no qual é um completo ignorante. Não posso discordar de ambas “declarações”.


As canções de PF sempre oscilaram entre uma crítica ao autoritarismo como forma de suprimir o indivíduo perante o “coletivo” (leia-se um Estado com mãos de aço), castrando-o emocionalmente e moldando o cidadão, tal qual no clipe “Another Brick in the wall –part 2”, afim de transformá-lo em uma massa padrão, um tijolo sem destaque em um grande muro, sem alma, com propósito idem, sendo “The Wall” sua expressão máxima no quesito político, embora envolvido na época com o muro de Berlim e toda divisão ideológica que se seguira. O álbum não é de fácil compreensão, embora se mostre tão atual em 2018, como fora em 1979. Ao listar nomes de “neofacistas” ou coisa que o valha, o velho Waters trai a própria crítica quanto a doutrinação que tanto se opôs outrora, “mastigando” um conteúdo complexo e instigante a um público que está longe de precisar disso.

Trump segundo Waters

O brilhantismo de suas canções deveria falar por si só, indo além da “agenda” do músico. Ter que por em imagens de forma explicita “Pigs” (do LP Animals, 1977) com imagens de Donald Trump, me parece no mínimo um desespero a trair toda uma construção intelectual de Roger, quase uma regressão. Logicamente, é dado a ele e qualquer artista, o direito da livre expressão, mesmo com ela sendo desperdiçada em lacradas colegiais, muito aquém do esperado quando se pensa em um dos maiores compositores da história do rock, antes um questionador, agora mais um tijolo no muro, voluntário, a uma causa que não se aprofundou. Como um fã – incondicional – de Pink Floyd, digo de minha parte que ações como essas de nada arranham no legado das realizações artísticas. Torço para que Roger largue o modo vitimista de “censura”, “golpe” e derivados, e possa primeiramente entender uma situação sociopolítica antes de criticá-la, para quando a fizer, realizar com uma grande letra, sem subestimar a plateia, como fizera em sua “era de ouro” nos palcos.

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Até o próximo.



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