Noite de Trevas - uma peculiar autobiografia


"Chega de Batman. Não vejo muito sentido em escrever fantasias tolas de luta contra o crime com heróis que sempre salvam o dia. Não acredito mais nisso."

"Noite de Trevas: Uma História Real do Batman" é uma preciosidade do tipo que normalmente ficaria pouco conhecida por não compartilhar de personagens multimidiáticos famosos. Mas envolvendo o universo do Batman, a Panini nos trouxe em um encadernado que chamou bastante atenção (mesmo que pelo preço).


A história é narrada pelo próprio roteirista Paul Dini, contando desde sua infância como um garoto introspectivo e bem inseguro, sendo viciado em escapismo por meio de histórias em geral, principalmente desenhos animados. O gordinho viria a fazer história na Warner, quem é dos anos 90 como eu deve lembrar de Tiny Toons e principalmente, "Batman: A Série Animada", que mesmo sendo um desenho infantil era bem denso e dramático, sendo um ótimo lugar pra se divertir com histórias do vigilante de Gotham.

QUE SAUDADE DO CARALHO!!!!
A história se passa até a época em que o clássico "Batman: A Máscara do Fantasma" estava em processo de produção. É bem interessante ver algumas influências que levavam o Dini a fazer os roteiros mais dramáticos.




Isso inclusive me levou a chutar que a personagem Arlequina, que foi ele que criou, reflita um pouco a forma como ele estava sempre se ferrando em relacionamentos dando muita moral pra gente que não ligava pra ele (quem nunca sofreu desse mal?).



Desde o princípio é mostrado como Paul Dini compensava a sua introspecção pensando em desenhos animados o tempo inteiro, da infância até a vida adulta. Ele imaginava o que os personagens estariam fazendo constantemente, isso o mantinha indo em frente. É a grande identidade da história, a forma que os personagens aparecem ao redor dele como se fossem manifestações paranormais, tudo EXCELENTEMENTE feito pelo Eduardo Risso (100 Balas), que mescla vários estilos diferentes que vão correspondendo com as diferentes situações da narrativa, que prioriza bastante o subjetivo do protagonista.


Tem partes que fica TÃO parecido com o Tim Sale que eu cheguei a achar que era um trabalho mesclado de vários artistas diferentes, aí olhei os créditos umas duas vezes e notei que não, era só o Eduardo Risso mesmo.

O talentoso argentino responsável pelas ilustrações

Toda essa dinâmica que funcionava na cabeça dele, pensando nos personagens o tempo inteiro tentando evitar sua baixa-estima, foi a peculiar forma que ele foi achando de superar um trágico momento em que foi violentamente espancado por dois nóias de noite. Você soma o fato do Dini ter sido um cara bem perturbadinho com essa desgraça que rolou com ele e tem aí um quadro bem rico psicologicamente, um quadro que é muito bem retratado pelo próprio. Como eu disse logo no início, é valioso. É uma história nem um pouco legal de você contar sobre você mesmo, o cara arregaça as próprias feridas e inseguranças pro mundo, anos depois disso tudo ter acontecido, e eu fico feliz que ele tenha tido essa coragem! Apesar de ter sempre a mesma fórmula do cara dialogando com os personagens fictícios, me cativou até o final, não chegou a ficar cansativo e repetitivo, prova do bom trabalho de ambos os colaboradores.


Bom dizer que a história é bem pesada mesmo no sentido dramático, note o selo "Vertigo" na capa e os personagens ao redor do cara todo esmurrado, você vai ter o que a capa promete, eu te garanto. No sentido de identificação também é muito interessante. Levando em consideração a popularidade do Batman, ele tem uma importância afetiva pra milhares de pessoas no mundo, pra mim teve bastante na adolescência, claro que de uma forma diferente do que pro Dini, mas também fica interessante ver essa versão do cara. Sinceramente, achei uma ótima história, poderia até ser um filme.

Resumindo: Vale muito a pena, é diferente e interessante. Inclusive, por todo o dramão que tem da biografia do cara, eu realmente recomendo pra qualquer pessoa, mesmo que ela não seja fã do Batman.


Quem é o Paul Dini?

Vocês gostam dele? Eu gosto bastante. Além do desenho antigo, eu curti principalmente os games "Batman: Arkham Asylum" e "Batman: Arkham City", tanto que quando ele saiu da produção das sequências eu rapidamente senti falta do toque dele, pude identificar em pouco tempo que o game tinha perdido boa parte da riqueza que tinham os anteriores.

Top 5 melhores jogos que eu joguei na minha vida e deve continuar lá pra sempre. BEIRA A PERFEIÇÃO!!!
Mais ou menos em 2010/2011, também curtia algumas HQs que o Dini fazia do Batman na época que tava tendo o run do Grant Morrison. Em especial, gostei muito de "O Coração de Silêncio". Eu gostava mais dessa fase do que a principal que o Morrison tava fazendo. Eu até curtia mais a utilização do vilão Silêncio do que na época Jeph Loeb/Jim Lee. Também tinha várias participações pontuais mas muito boas de personagens como Espantalho, Mulher-Gato e afins, pra mim era característica do Dini, ele era bom. Ele sabia usar os melhores fatores daquele universo.


Outra que ele fez e eu gostava bastante era "Sereias de Gotham City", protagonizada por três das principais vilãs do Batman: Mulher-Gato, Arlequina e Hera Venenosa. Era MUITO legal, muito divertido e muito bem feito, eu acompanhei a série inteira. Lembro que fiquei preocupado quando Dini saiu dos roteiros mais pro final, mas continuou bom até a conclusão. Lembro que era como se fosse aquela série "Sex in the City", só que com as vilãs do Batman (o que, é claro, faz toda a diferença).


Também cheguei a ler uma série da Zatanna dele, mas não era muito legal, então nem terminei. Enfim, é um artista que eu aprecio, espero que ele continue sempre produzindo bastante. Foi interessante pra mim me aproximar descobrindo a história dele, ainda mais por meio de um quadrinho tão bom! Houve uma grande polêmica em torno do preço, então, levando isso em consideração, eu posso te garantir que são mais de 100 páginas de uma história muito bacana e bem feita. O preço original de 70 reais é realmente muito caro, mas pegando uma promoção em sites como Amazon e Saraiva, vale a pena pegar por um preço mais justo!

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