LIGA DA JUSTIÇA – DEUSES E MONSTROS


“Luthor era um elitista frustrado cuja influência estava diminuindo. Eu venho do povo, Srta. Lane. Eu fui criado por um casal de imigrantes, eu já passei por dificuldades. Se eu faço justiça com a mão pesada é porque eu estava no lado que sofria, mas eu estou aqui quando o meu país precisa de mim. Cadê o Lex Luthor? Sumido! Ausente!”  

Um brinde a Jack kirby, sem ele, não estaríamos aqui.
  Criatividade e nostalgia: dois elementos que se combinam e fazem dessa animação um material de qualidade que há muitos os fãs queriam com a Liga. Somos apresentados a uma versão sombria e violenta da Liga que crescemos assistindo, algo que temos tudo para não gostar, e acabamos nos rendendo ao exercício bem executado do “e se”. E se Super-Homem fosse filho de Zod e criado por pais imigrantes ilegais dos EUA? E se Batman fosse de fato seu adversário Kirk Langstron, aqui sobre a forma de um controlado vampiro? Diana uma guerreira cruel filha dos Novos Deuses? (Ah Rei Kirby, se o Sr estivesse vivo para ver isso).

Luthor, no ápice da genialidade e frustração com a própria humanidade.

Parece ser mais um “Eu já vi isso antes, mais uma das histórias de Terras Paralelas” se não fosse à execução corajosa que a animação segue. Não apenas referenciando o extenso universo DC, ele até manda indiretas como o Lex Luthor não limitando o intelecto dele a alguém tão “pequeno” quanto o Super-Homem, quando de fato há universos a serem descobertos. E está ai a síntese do que a animação se propõe: ao invés de ficar nos velhos confrontos, romper de fato a barreira que faz com que personagens que não evoluem significativamente em décadas nas mensais, possam transgredir nos poucos mais de 60 minutos de projeção, deixando o telespectador incrédulo com o que acabou de ver, ansioso para que aquele universo continue e expanda-se mais.

“Uma das melhores histórias da Liga”, mas que de fato não é sobre a Liga seria meu modo de definir, tão qual dizem semelhante com o “Supremo” de Alan Moore, só que esse com a figura do Homem de Aço. O que parecia ser só mais um desenho bobo se mostra uma excelente parábola sobre “o meio influir no que o individuo tende a ser, mas sua essência ser uma escolha inegável de si”, com flertes a obras como Watchmen, Exterminador do Futuro 2, e Authority para citar os mais expostos. É necessário dizer que um “flerte” de uma obra com outras sempre é algo contraditório. O que pode ser uma jogada inteligente quando bem executado, pode se tornar um plágio ridículo sem personalidade própria, felizmente, Deuses e Monstros é o primeiro caso.


Também existe o viés cínico do desenho em relação à suposta postura genérica que o super-herói deve seguir. Um claro exemplo disso é o Super-Homem não ser o clássico patriótico que veste as cores do país, mas um amargurado ser poderoso sem a inocência e otimismo conhecido do personagem, um fator, reforço, dentro do contexto maior que a obra oferece. Batman se mostra um exímio detetive como sua contraparte tradicional, embora seja ainda mais introspectivo, e eu diria, mais humilde, embora carrasco, eis mais outras das irônicas complexidades dos personagens, por ultimo, mas de relevância igual, a Mulher-Maravilha não como amazona, mas pertencente a um conflito maior que pode ser o tema da sequência da animação.

 

O calcanhar de Aquiles da obra talvez seja o vilão, embora o objetivo desse, seja uma versão extremista do domínio do mundo inicial que o próprio Super-Homem idealizava, embora a execução de seu plano maior seja brilhante no decorrer do desenho, uma espécie de Ozymandias mais ficcional e menos realista.

Nota: 8.4 Sim, as notas voltaram.

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Até o próximo.



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