Oh, e agora quem poderá defender-nos?



"Gênio? Essa palavra está desgastada. Posso ser um artista razoável ou um bom escritor, Mas isso é tudo. Se as pessoas quiserem me considerar um gênio isso é problema delas, eu agradeço a intenção, é bastante lisonjeiro, mas realmente não é algo que eu vá perder o meu tempo pensando acerca".

Palavras de um gênio ao ser questionado sobre como é ser um gênio. Talvez não seja exatamente aquilo que usualmente esperaríamos ouvir. Mas eles têm dessas. Lembro que Pablo Picasso deu uma resposta semelhante ao ser questionado numa situação semelhante. "O que você procura com a sua arte?". "Eu não procuro. Eu acho.". No filme A Culpa é Das Estrelas a menininha tinha a maior ilusão de conhecer seu escrito favorito até que conseguiu e o descobriu uma pessoa insuportável. Sabe, esses caras não são muito de falar. Sua obra fala por si mesma. Todo esse preâmbulo não quer dizer que o nosso Chespirito fosse um desses chatos intragáveis, na verdade bem longe disso, jamais tal poderia ser dito de alguém que em seu derradeiro tweet desejou todo seu amor aos fãs brasileiros. O ponto não é esse. O ponto é que a obra sozinha fala por si mesma.


Há uma semana atrás o mundo perdeu um gênio. É, eu sei, essa palavra "gênio" está muito desgastada. Mas aqui é a única que cabe, a única que faz jus. Eu li no Facebook alguém falando algo do tipo "Nossa, agora que o Chaves morreu todo mundo virou fã dele!". Fale por você, eu não virei porra nenhuma. Simplesmente pelo fato que jamais deixei de ser. Veja, como eu disse mais acima, a obra sozinha fala por si mesma.



Roberto Gómez Bolaños foi diretor, escritor e ator. Humorista de rara qualidade e artista invulgar. Conhecido em seu país como Chespirito, ou que para nós seria Pequeno Shakespeare. Palavra de alguém que passou o rodo em A Comédia de Erros e Muito Barulho Por Nada, A Megera Domada e As Alegres Matronas de Windsor e em tantas outras obras do referido bardo, a comparação não é nenhum exagero e está bem longe de ser algum favor. Chespirito criou o Chaves e o Chapolin, e nos deu uma coletânea de histórias impagáveis absolutamente inesquecíveis. E se fez ser ouvido no mundo todo apesar de ser proveniente de um país de terceiro mundo, nesse ponto sozinho ele colocou o senhor Shakespeare no bolso. Ainda quinze dias atrás numa noite de domingo procurávamos aqui na rede um bom programa para fechar o fim de semana e nem determinada site paramos no Chapolin Colorado e começamos a assistir. Incrível. As mesmas risadas de quando éramos pequenininhos, nada da magia do texto se perdeu, funciona agora como funcionava antes, um texto afiadíssimo aliado a uma execução perfeita. Chavinho, você foi a nossa infância. Obrigado. Não, aqui não vão existir palavras à altura, as suas palavras é que eram flechas certeiras que jamais erravam o alvo. Roberto pode não estar mais conosco, mas ele foi e deixou Chaves e Chapolin para nos fazer companhia. E que coisa mais um artista pode desejar além de haver criado algo que sobreviva a si mesmo? Esse é o prêmio máximo, um legado que a maioria dos escritores não pode sequer sonhar alcançar. Poucas palavras para alguém que nos deu tanto. Que no céu tenha muitos sanduíches de presunto para você, Chavinho! E obrigado de novo, uma, duas, uma centena de vezes ou mais, tantas quantas nós assistimos o seu programa sem nunca cansar.

 - Ítalo Azul -


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