A bruxa da ilha - Um dos arcos mais sombrios da Mulher Maravilha


 

Feliz halloween, pessoal!

Hoje comemora-se o Dia das Bruxas, um dia em que a cultura pop é dedicada a destacar figuras do gênero de terror, como fantasmas, monstros e assombrações da noite.

Mas, esse mesmo mês foi também comemorado o aniversário de 84 da heroína mais icônica da cultura pop, a Mulher Maravilha.



Como passei maior parte do mês focado na retrospectiva do Hulk, não tive tempo para montar um texto na data desse aniversário.

Por isso, decidi compensar por essa falta fazendo uma review de um arco da Mulher Maravilha que mergulha nesse clima de terror do Halloween: A bruxa da Ilha.

Originalmente publicada em Wonder Woman vol.2 nº17 a 19, em 1988, esse arco consiste em uma trilogia de histórias que foram escritas e desenhadas pelo falecido George Perez, um dos roteiristas mais influentes da Mulher Maravilha.






O arco não é um capítulo importante da fase de Perez, por marcar o primeiro confronto da Mulher Maravilha com sua grande inimiga, a feiticeira Circe, na continuidade pós-crise, como também é um exemplo de como Perez sabia pegar conceitos da mitologia grega e aplica-los com um tom voltado para terror, representado tanto pelo seu roteiro quanto por sua arte expressiva.

Mas afinal do que se trata essa trilogia que me refiro? Quais são as temáticas abordadas por ela? O que ela tem de tão sombria?

Bem, eu explicarei conforme irei falando em partes sobre esse arco. Vamos começar...

Trama

Depois de batalhas contra Ares, Mulher Leopardo, os monstros do submundo, Cisne Prateada e Darkseid, Diana sai numa merecida viagem com sua mentora Julia Kapatelis e sua filha Vanessa, até a Grécia. 



Enquanto visitam os pais de Julia e passeiam pela região, Diana desmaia ao passar perto de uma ilha, que, de acordo com os habitantes, pertencem a rica reclusa. Tendo sentido uma estranha magia vindo do local, Diana decide descobrir mais sobre a ilha e a misteriosa proprietária, o que causa certo incomodo em algumas pessoas.




De repente, Diana acaba tendo que entrar em ação, quando Vanessa é ataca por um exército de criaturas mitológicas. Para o choque da amazona, essas criaturas são moradores da região. 



Apesar de sua força e habilidade de luta, Diana sendo nocauteada por um estranho relâmpago. Ao desperta, ela se encontra imobilizada e diante a líder desses monstros, a feiticeira Circe, que busca eliminar a princesa amazona, revelando que o destino das duas está pode estar entrelaçado por uma profecia envolvendo um conflito entre deuses.



Incapaz de se soltar sozinha, como Diana conseguirá escapar dessa situação e derrotar essa poderosa inimiga?

 

O lado negro da mitologia grega

Quando se fala em histórias da mitologia grega, muita gente costuma associa-las a epopeias, contos sobre heróis, deuses e mortais, aventuras e feitos extraordinários. É por isso que costuma-se dizer super heróis são mitologia moderna, sendo comparados com essa figuras clássicas.




No entanto alguns se esquecem que mitologia grega também envolve tragédias, com cenas violentas e de terror. Melhor exemplo disso sendo com a icônica medusa, cuja origem é sobre uma bela mulher sendo transformada por uma invejosa Atena num monstro incapaz de olhar para outros sem petrifica-los.



Esse aspecto de horror corpóreo é muito bem representado nesse arco, com o visual dos servos de Circe e a forma como eles se transformam sendo bem detalhadas, com um tom e expressões bem macabras.



Perez também consegue construir de forma efetiva a ameaça que eles representam, com o início da história já estabelecendo a habilidade deles se disfarçarem entre os animais, o que aumenta o suspense, visto que qualquer personagem na história pode se revelar um agente da Circe, aguardando o momento para agir.



Espirito da verdade vs a feiticeira da mentira

Como explicado na introdução do texto, o destaque desse arco é o encontro da Diana com a Circe. Embora a personagem tenha aparecido na histórias pré-crise, suas participações eram bem raras, com ela sendo caracterizada mais como uma vilã feiticeira genérica.



Nessa nova continuidade, Perez reimaginou Circe como o completo oposto da Diana: Enquanto a amazona é uma princesa gentil, compassiva e sempre busca ajudar pessoas e se criar um mundo mais unido entre homens e mulheres, Circe é manipuladora, egoísta e adora espalhar caos e destruição. Ela é o tipo de vilã que os leitores amam odiar.






Seguindo o modelo de mitos grega presente em sua fase, Perez constrói a rivalidade de Diana e Circe não só estabelecendo a feiticeira como responsável por várias tragédias na Grécia antiga, incluindo a morte da tia de Diana, Antíope, mas também revelando como as duas são conectadas a Hécate, a renegada deusa da lua e da feiticeira, com uma profecia dizendo que, se uma matar a outra, a alma de Hécate possuirá a vencedora.



Basicamente as duas estão presas num destino traçado pelos deuses. Uma não pode cumprir seu objetivo enquanto a outra viver, mas também não podem matar uma sem levar a destruição da outra.

Tal como protagonistas da mitologia, suas batalhas não são se resume a uma heroína vs uma vilã, mas duas figuras tentam desafiar o destino de suas próprias maneiras: Circe busca encontrar outras formas de infernizar Diana enquanto a Mulher Maravilha tenta preservar seus valores resistir à tentação de eliminar Circe.



 

O heroísmo dos mortais

Tendo como protagonista uma princesa amazona, com poderes dos deuses do Olimpo, pode-se argumenta que um arco não tem nada de terror. Qual motivo de se preocupar com o protagonista da história quando ela pode bater de frente todos os monstros aterrorizantes?

É aí que Perez subverte a expectativa dos leitores, tendo a Diana sendo capturada pela Circe, e a responsabilidade de salva-la e derrotar Circe sendo passada para Julia Kapatelis e os habitantes da região.



Ver Julia e seus amigos se arriscando para salvar Diana, usando seus conhecimentos sobre mitologia grega para invadir a fortaleza de Circe e lutando contra os monstros dela é muito legal e inspirador, visualmente representando como pessoas tem o potencial para serem heróis também.




Isso também serve para desenvolver a personagem da Julia, que se torna uma segunda figura materna para Diana, sendo o tipo de senhora que iria até o fim do mundo para salvar seus entes queridos. É um perfeito exemplo do quão subestimado o elenco de Mulher Maravilha realmente é e os grandes tipos histórias que eles podem ter quando bem utilizados.



Considerações finais

“A bruxa da ilha” é um dos melhores arcos que o Perez escreveu em sua fase memorável da Mulher Maravilha. Pode até não ser uma história que tem muitos momentos de ação da Mulher Maravilha, mas continua sendo uma história importante, que abraça os aspectos mitológicos da Mulher Maravilha, reinventando uma de suas inimigas mais esquecíveis em uma de suas mais importantes, ao mesmo tempo em que continua o desenvolvimento da Diana e sua relação com as Kapatelis, algo que iria durar até o final da fase.

É uma recomendação tanto para os fãs da princesa amazona quanto aqueles que procuram uma leitura de quadrinhos nesse halloween.

Nota: 9/10



Então é isso! Qual a opinião de vocês quanto A bruxa da ilha ? Sintam-se a vontade para colocar suas opiniões e ideias nos comentários abaixo.