A morte de Jean DeWolff – Minha história favorita do Peter David

A morte de Jean DeWolff – Minha história favorita do Peter David

Nesse sábado passado, dia 24 de maio, perdemos um dos grandes escritores das hqs, Peter David.

Tendo sido responsável por trabalhos como sua fase em personagens como Aquaman e Hulk, Peter David era um excelente roteirista, conseguindo escrever uma variedade de histórias distintas em tom, algumas cômicas e outras sombrias, mas com um roteiro emocionante e retratação complexa dos personagens.

Nesse texto, pretendo falar sobre uma das histórias David escreveu, que eu considero ser um de seus melhores trabalhos: “A Morte de Jean DeWolff” (também conhecida como A Saga do Devorador de Pecados).

Publicada The Spectacular Spider Man 107 a 110, esse arco se trata de uma história de suspense, que colocou o Amigo da Vizinhança e o Homem sem medo numa caçada a um perigoso serial-killer.

Trama

A saga começa com uma narração da Capitã Jean DeWolff, contando sobre sua infância, sua entrada na polícia de Nova York e sua relação com o Homem Aranha. Numa reviravolta chocante, essa cena termina com policiais encontrando DeWolff morta em seu apartamento.

Logo em seguida, um assassino mascarado, conhecido como Devorador de Pecados, começa a agir em Nova York, fazendo várias vítimas por onde passa. Seus ataques acabam chamando a atenção tanto do Homem Aranha quanto o Demolidor, que juram encontrar o Devorador e impedir sua onda de assassinatos.

No entanto, uma tensão entre os heróis começa a brotar conforme o Aranha vai expressando seu desejo de vingar a morte de DeWolff, deixando os leitores ansiosos para saber o que acontecerá quando o Aranha encontrar seu alvo. Ele será capaz de preservar seus valores morais ou irá se rebaixar ao nível de seu inimigo?

Mais suspense, menos ação

Normalmente, histórias do Aranha costumam ter um aspecto mais fantasioso e quadrinesco. Elas podem ter momentos sombrios (Morte da Gwen Stacy), mas raras vez abrem mão desse tom das histórias de super herói. Elas continuam sendo sobre um herói fantasiado que salva sua cidade e luta contra super vilões coloridos.

O conhecimento desse detalhe torna inesperado quando se percebe que essa saga segue uma direção oposta. No lugar de uma história épica, cheia de cenas de ação grandiosas e exageradas, Peter David optou por escrever um drama policial noir, com o focus sendo dado mais para investigação, com personagens discutindo o assassinatos do Devorador de Pecados tentando deduzir sua identidade secreta.

O tom mais pé-no-chão e urbano contribui para a atmosfera e suspense do arco, com os leitores não sabendo qual próximo twist poderá ser revelado, quem será o próximo alvo do Devorador de Pecados, ou até mesmo se o Aranha o Demolidor conseguirá salvar essa vitima a tempo.

As faces da justiça

Falando nos dois heróis, é neles que Peter David revela o segredo por trás dessa saga e da maioria de seus trabalhos: A dinâmica entre os personagens.

Embora Peter Parker e Matt Murdock sejam ambos heróis que buscam ajudar os inocentes, Peter David se aproveita do cenário para desconstruir suas personalidades e, assim, expor suas diferentes ideologias.

Peter é mostrado num estado muito mais vulnerável. O luto pela perda de DeWolff (que ele descobre que era secretamente apaixonada por ele) combinado com a violência que tem testemunhado, levam o herói aracnídeo ficar tão cheio de frustração que ele começa a tomar atitudes questionáveis para encontrar o Devorador de Pecados, não chegando a considerar que suas ações poderão prejudicar a vida de inocentes.

Como contraste ao Aranha nesse estado emocional, Demolidor age como sua consciência não oficial, sendo um herói que ainda acredita na justiça (especialmente considerando sua vida civil como um advogado). No entanto, a hq não deixa o Demolidor ser representando como 100% certo, mostrando como o sistema que ele acredita não é perfeito e suas ações, embora bem intencionadas, acabam auxiliando criminosos a escaparem da punição.

Isso torna o momento onde o a tensão entre os dois explore num conflito bem compreensível, pois o leitores conseguem entender as duas perspectivas, seus acertos e erros e, a partir da discussão deles, se fazer questões similares.

Peter David também expande essa temática no clímax, onde Aranha e Demolidor tem que lidar com uma multidão enfurecida, buscando matar o Devorador de Pecados, querendo submete-lo a sua forma de justiça. Dessa forma, o grande teste do Aranha é salvar seu inimigo e, ao mesmo tempo, lidar com essas pessoas, que agem como um reflexo do que ele poderia se tornar caso se deixa-se ser tomado por sua obsessão.

Considerações finais

Uma crítica comum que muitas pessoas tem quanto personagens de cultura pop é o tom de suas histórias. Alguns julgam que um personagem só pode funcionar com um tom específico e, se alterado, ele apenas criaria confusão e prejudicaria suas histórias. Se um personagem é conhecido por ser light, ele deve permanecer light, e se ele for conhecido por ser sombrio, deve permanecer sombrio. Alguns vão a extremos achando que o tom é o que define seu sucesso.

O que eu gosto de Peter David e seus trabalhos ele como ele quebra essa regra, sabendo pegar personagem e colocá-lo em histórias e ambientes diferentes. As vezes elas são cômicas e exageradas. Outras vezes são sombrias e complexas. Mas, não importa o tom, ele conseguia entregar uma história de boa qualidade, com personagens interessantes, com os quais o leitores se conectavam.

A morte de Jean DeWolff é um exemplo disso. É um arco que coloca os heróis numa situação diferente das típicas histórias que nós, leitores, estamos acostumados e ainda assim apresenta algo emocionante, com temáticas complexas sobre moralidade, uma história que atrai o interesse de muitos e desenvolve o Aranha e o Demolidor, evoluindo sua parceira.

Essa hq é uma obra que demonstra a marca que o Peter David deixou na indústria das hqs e nos fãs e não será esquecida.

Nota: 10/10

Então é isso! Qual a opinião de vocês quanto a Morte de Jean DeWolff? Também consideram o arco o melhor trabalho do Peter David ou vocês preferem outras histórias? Sintam-se a vontade para colocar suas opiniões e ideias nos comentários abaixo.