Carnaval, Café e Oscar

Lula curtindo Carnaval. Imagem gerada por IA (Grok from X)

As pessoas costumam dizer que o ano só começa depois do Carnaval. Bem, nunca concordei muito com isso, mas, para os meus textos, realmente está certo.

O Carnaval sempre foi uma celebração em nosso país, com seus bloquinhos, carros alegóricos, sons altos e tudo o que o brasileiro aprecia há muito tempo em total plenitude. Como de costume, é uma oportunidade perfeita para que a população esqueça acontecimentos relevantes do Brasil e do mundo, seguindo a famosa política do "pão e circo", que distrai povos desde a Roma Antiga. O "pão e circo" consistia em festas e entretenimentos para divertir a plebe, evitando que ela se atentasse aos problemas políticos de sua época.

Lula como Imperador Romano. Imagem gerada por IA (Grok from X)

Desde o começo do mandato do atual presidente Lula, há inúmeras turbulências, que se acentuaram ainda mais neste ano, levando sua desaprovação a níveis extremamente altos. Isso, diga-se de passagem, é fruto de suas inúmeras decisões equivocadas na área econômica e dos próprios discursos do presidente, que afastaram até mesmo seus eleitores mais ideológicos, os quais não conseguiam encontrar maneiras de defendê-lo.

"Se está caro, não compre"

"O governo não está cumprindo o que prometeu"

A primeira frase, no contexto da alta dos preços, evidencia o impacto direto na alimentação das pessoas de baixa renda, que representam a maioria da população em nosso país. Uma declaração que demonstra uma completa falta de noção ao lidar com temas reais e presentes no cotidiano da população. Já a segunda frase trata das decisões do governo que podem ter levado ao desempenho abaixo do esperado nas pesquisas eleitorais dos últimos meses, nas quais ele afirma que essa queda é consequência do descumprimento de promessas feitas antes da eleição de 2022. Sendo assim, uma prova cabal de uma gestão em ruínas.

Café se tornado precioso com o seu preço inflado. Imagem feita por IA (Grok from X)

O Carnaval de 2025 veio em um bom momento, proporcionando a diversão necessária para que a população esquecesse, por algum tempo, os reais problemas do país. Os carros alegóricos, com suas imagens que rapidamente viralizaram, geraram grande repercussão — uma delas, inclusive, retratava Dom Pedro II sendo decapitado por um chefe indígena, o que foi visto como uma falta de respeito pela própria história do Brasil, pois ele foi um dos poucos mandatários que falava tupi e mantinha boas relações com os povos indígenas.

A cabeça de Dom Pedro II nas mãos de um chefe indígena. Imagem do site CM7

Para completar a oportunidade, o Oscar de Melhor Filme Internacional foi concedido a Ainda Estou Aqui, um filme amplamente explorado politicamente pelo governo em algumas ocasiões como resposta às tentativas de golpe do ex-presidente Jair Bolsonaro. Com esse combo, o governo voltou a transmitir uma imagem positiva para seu eleitorado, mesmo sem ter tomado medidas concretas para justificar essa melhora. Principalmente porque incendiou o debate entre direita e esquerda, desviando o foco das questões econômicas para um embate cultural e midiático. Esse caminho, que há bastante tempo alimenta as guerras ideológicas, desvia a atenção dos reais problemas que assolam o país, com uma direita popular que pouco se importa com os crimes cometidos pela ditadura militar e uma esquerda que finge ainda viver nos anos de repressão.

Walter Salles recebendo o Oscar. Imagem por Jeff Kravitz.

No fim do Carnaval, tudo volta ao normal. Os preços do café, dos ovos e das carnes continuam altíssimos, sem perspectiva de melhora. A vida do brasileiro, que foi uma "festa" por alguns dias, agora retorna à longa penitência que já dura anos. E, como consequência do Carnaval e de Walter Salles, restam as ruas extremamente sujas e os juros abusivos cobrados pelo Itaú.

Dê as pessoas pão e circo, certifique-se de que suas barrigas estejam cheias e que elas tenham algo para ver e se distrair. Assim elas não tomam as ruas para protestar.

-Júlio César Otaviano Augusto