Há umas semanas atrás, foi lançado o trailer da “nova” animação dos X-Men no Disney Plus; “nova” entre muitas aspas, X-Men 97 teoricamente é uma sequência direta da animação dos X-Men dos anos 90, exibida pela Fox. No entanto, o assunto que mais rendeu não foi nem o trailer em si, mas a falta da anatomia abundante de uma das x-women favoritas dos fãs, a Vampira. Simplesmente drenaram a bunda da personagem. Tem até aquela célebre cena em que há o close da bunda da Vampira em contraposição ao Apocalipse que até virou meme, e, comparando com a Vampira da nova animação, percebemos que passaram a faca na bunda da personagem.
Muita gente vai dizer
que isso é mi mi mi de nerdola, virjão e incel, mas na verdade o buraco é mas
embaixo (e não é bem o buraco anal) e vou provar o porquê neste post. Se
formos dar uma olhada em artistas que desenharam a Vampira ao longo dos anos,
iremos notar que o design da personagem mudou. Nem sempre ela foi
retratada como uma personagem sensual e voluptuosa. Por exemplo, a Vampira de
Paul Smith não era assim; ela inclusive vestia roupas largas, para mostrar seu
incômodo em tocar nas pessoas. Também é assim com a Vampira de John Romita Jr.,
que também usava roupas largas para cobrir sem corpo. Então, nem sempre a
Vampira foi desenhada gostosa, mas a grande maioria das pessoas que está
criticando quem não gostou de terem tirado a bunda da personagem não sabe disso.
Costumam creditar a
gostosura da Vampira ao Jim Lee, mas isso não é bem verdade. Quem começou a
desenhar a personagem gostosa foi Marc Silvestri, quando assumiu a arte dos
X-Men. Nessa época, a Vampira já tinha características voluptuosas e começou a
usar roupas apertadas, que destacavam seu belo corpo. No entanto, quando Jim
Lee passou a desenhar os X-Men, destacou ainda mais a Vampira gostosa. Ela
inclusive passou a ter uma mudança de personalidade, se tornando mais confiante
à medida que ficava mais gostosa. E a Vampira também passou a ter uma personalidade
mais tarada também. Ela muitas vezes roubava os poderes de um herói ou até
mesmo de um vilão que achava atraente com um beijo na boca, quando poderia
apenas tocar no cara para fazer isso. Ela era a eterna virgem explodindo de
tesão reprimido.
Obviamente, isso era
uma característica da época, que começou no final dos anos 80 e se prolongou
por toda a década de 90 e por parte dos anos 2000. Era a era das grandes top
models. É só notar que a Mary Jane desenhada por Todd McFarlane foi
inspirada na Cindy Crawford, símbolo sexual da época. E a característica dessa época
foi o estabelecimento de personagens femininas estilo mulherão, gostosas.
Praticamente era o padrão. Tanto que se destacaram nessa época artistas como
Adam Hugues, Frank Cho, Terry Dodson, Kevin Maguire, Mike Deotado, J. Scott
Campbell, entre outros.
Na realidade, o grande “tabu”
ou a grande polêmica, que, a bem da verdade, é uma “não polêmica” é o óbvio ululante: os
leitores de quadrinhos de super-herói sempre foram majoritariamente masculinos.
E, como a maioria dos leitores é marmanjo, mulheres gostosas nas revistas
sempre ajudaram (e muito) nas vendas. É claro que existem mulheres que leem HQs
de super-herói, mas são minoria. Pode ter aumentado um pouco nos últimos anos
por causa da moda de filmes de herói, mas deve se destacar que quem lê os
quadrinhos é um nicho, bem menor que quem assiste aos filmes. Se, antes, de cada
vinte leitores, um era mulher, hoje deve ter duas ou três entre dezessete ou dezoito
marmanjos. Teve uma pesquisa nos EUA dizendo que mais de 40% dos leitores de
HQs eram mulheres, mas parece que botaram os mangás no meio, o que aumentou o
número de mulheres. É a mesma coisa quando uma pesquisa indicou que a maioria
dos gamers hoje em dia é mulher, mas depois notaram que elas jogavam
mais jogos de celular, tipo Candy Crush.
Essa questão de “sexualização”
nos quadrinhos passou a ser mais problematizada depois que a Marvel publicou a
capa da Mulher-Maravilha de Milo Manara. As feministas de Twitter caíram de pau,
e a Marvel foi muito pusilânime, acovardou-se, e passou a vetar mais as
gostosas em suas revistas. E a DC também seguiu a Marvel nessa orientação. Foi
também a época da tal Hawkeye Iniciative, em que desenhavam personagens
masculinos em posses femininas, mas homens e mulheres têm corpos diferentes e
sensualidades diferentes. Até a Dynamite vestiu a Vampirella e a Sonja, mas, ao
contrário de Marvel e DC, que têm grandes corporações por trás, a Disney e a Warner,
ela precisa vender HQs e, depois do prejuízo, voltou com os trajes clássicos de
Vampirella e Sonja, ainda bem.
Uma das acusações a tal
“sexualização” das personagens de quadrinhos, desenhos e jogos é que ela
representa “padrões de beleza inalcançáveis e irreais”, e essa é uma meia verdade.
Existem sim mulheres com um corpo semelhante ou muito parecido com o das
gostosas da ficção. Na academia que frequento, às vezes aparecem umas moças com
corpo bonito, bem gostosas. Você encontra várias musas fitness ou
modelos na internet. Então, não é um padrão de beleza inalcançável ou irreal.
Porém, concordo que é uma minoria das mulheres; a maioria está
fora desse padrão. E quer saber? Está tudo bem. É normal. Com os homens, também
é assim. Eu mesmo não tenho o físico de Bruce Wayne, por exemplo, sou mais gordinho,
mas não fico chorando as pitangas por causa disso.
Está certo que isso é
mais complicado para as mulheres que para os homens; as mulheres importam-se mais com comparações de beleza. No entanto, uma feminista gorda de Twitter que surta com personagens femininas gostosas de quadrinhos, animações ou
jogos está externalizando um incômodo dela, e não de todas as mulheres. A
maioria das mulheres não liga nem um pouco para a bunda da Vampira. As mulheres
normais têm outras preocupações: preocupam-se com os filhos, o marido, o
namorado, o trabalho, a academia, o salão de beleza, a manicure, com roupas,
sapatos, maquiagem, procedimentos estéticos, dieta, carro, escola dos filhos, dívidas,
a igreja, viagens, sexo etc. Isso é que é preocupação de mulher normal. Quem
tem ataque de pelanca com personagens gostosas de ficção são apenas as
militantes. E pior que tem homem sojado que também entra nessa. A molecada ou
os mais novos, até entendo, por que fazem parte da geração “descontruída”, mas
me surpreende é ver homens da minha faixa de idade, 40 anos, que se incomodam
com a bunda da Vampira, quando mais jovem apreciavam.
Enfim, dito isso,
também sei que não dá para chorar pelo leite derramado. Essa “embarangamento”
das personagens femininas da ficção é sim inexorável. Talvez as empresas voltem
um pouco atrás, mas elas são bem suscetíveis à patrulha. Dessa forma, quem
quiser ver a bunda da Vampira vai ter de ou ler as HQs antigas ou assistir à
animação dos anos 90, isso se não forem redesenhar a bunda dela nos quadrinhos
em novas impressões ou não apagarem digitalmente no desenho, o que,
francamente, não acho tão improvável.
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