POR
QUE O SUPERMAN DE JOHN BYRNE É SUPERESTIMADO?
Uma das histórias mais importantes do Superman é o Homem de Aço. Escrita por John Byrne, essa minissérie de 6 edições serviu como ponto de partida para sua fase nas HQs do escoteiro azul após o evento da Crise nas Infinitas Terras.
Tendo assumido as HQs do herói na década de 80, Byrne foi responsável por reintroduzir o Superman na
pós-Crise continuidade do universo DC, realizando mudanças que modernizaram o
herói. Essas alterações foram bem aceitas pelo público, com Homem de Aço de Byrne se tornando uma inspiração para várias adaptações do herói e seu mundo, como a série
animada do Bruce Timm e o seriado Lois & Clark.
Quando li essa HQ pela
primeira vez e a fase que ela iniciou, eu compartilhava da opinião, sendo um
ponto partida para qualquer um que queira conhecer o Superman. Mas, conforme fui
vendo outras versões do personagem, percebi certa falhas na história de Byrne
que revelam o quão superestimada a fase dele no Superman.
Para explicar o porquê
dessa opinião, falarei das mudanças que Byrne realizou e o motivo de não achar
que elas foram tão boas decisões quanto muitos pensam.
Vamos lá...
REPRESENTAÇÃO
DE KRYPTON
Já na primeira edição,
Byrne apresenta uma nova versão de Krypton, retratando seus habitantes como uma
sociedade muito mais “aliens”, sendo bem frios e tendo emoções reprimidas. O Jor-El até diz que ele e a Lara foram
escolhidos para ficar juntos, indicando que o casamento deles inicialmente não foi uma união
nascida de amor.
Eles também são
mostrados sendo bem xenofóbicos, com Lara expressando desgosto ao ver os
humanos que habitam o mundo que o Jor El pretende enviar o filho deles, ainda
perguntando se Kal El usará seus poderes para converter a Terra nos costumes
kriptonianos.
Essa mudança tornou os kriptonianos aliens bem genéricos, tirando o visual criativo das HQs clássicas (onde todos vestiam trajes coloridos similares ao do Superman, com uns aspectos lembrando trajes greco-romanos).
Além disso, ao retratar os kriptonianos sendo frios e
sem emoções, Byrne prejudica o drama emocional que o Jor-El e a Lara passam
para tentar salvar o bebê Kal El. Os leitores se importam com esse momento
porque sentem o que o casal está passando, tentando salvar o filho deles,
sabendo que nunca mais irão vê-lo. Se os personagens não tem emoção, dificulta
se conectar com o drama deles.
SIMPLIFICOU
A INFÂNCIA DO CLARK KENT
Outra alteração que
Byrne fez no Superman foi em sua vida em Smallville: Nessa nova Clark só veio a ter controle de seus poderes quando ele atingiu a maturidade, logo ele
nunca foi Superboy; Clark e Lex Luthor não se conheceram em Smallville; Clark
nunca se encontrou com a Legião dos Super Heróis; Os Kents continuam vivos.
Embora seja indiferente
quanto algumas dessas mudança (ex: O Clark não ser superboy, a falta da
presença do Krypto), eu acho que a exclusão delas tira vários momentos
importantes para o Clark e seu crescimento como um herói:
- O Clark ter seus
poderes ainda jovem criava drama bem relacionável, com ele lidando com as inseguranças e dilemas que vinham com essas habilidades (na HQ do Byrne já é mostrado o Clark acostumado com seus poderes
enquanto os flashbacks ele não parece ciente ou confuso com o que pode fazer).
- O Krypto não é apenas
um mascote pro Clark, ele é também um dos primeiros seres de Krypton que o
rapaz conhece, ajudando-o a não se sentir sozinho (uma bela mensagem de como
animais ajudam pessoas com problemas de perda e solidão).
- A Legião dos Super
Heróis foram os primeiros super humanos que o Clark conhecem e também seus
primeiros amigos com quem ele compartilha seu segredo. As aventuras dele
no futuro da Legião não só permitem o Clark viver numa época em que ele não
precisa se esconder seus poderes das pessoas, mas, ao ver o legado que ele poderá
ter no futuro, com humanos e aliens coexistindo, ele sente inspirado a ser o Superman
e tentar construir esse futuro.
- A morte dos Kents
serve pro Clark aprender uma dura lição de que ele não pode resolver todos os
problemas, como impedir seus pais de morrerem de causas naturais. A ausência deles
também fortalecer o simbolismo do Clark deixando de ser Superboy e virando
Superman, não tendo mais mentores para guia-lo, assumindo responsabilidade e
independência.
Sem esses eventos, o
crescimento do Clark fica muito simples e sem momentos que foram importantes
para sua evolução no homem que viria para Metrópolis.
Mas essa não foi a
única coisa do passado Superman que o Byrne mexeu.
TORNOU
O CLARK KENT NUM “GALÃ COMPETENTE”
Quando se trata da
diferença Superman pro Clark Kent, maioria das adaptações mostram que Superman sendo
confiante e heróico enquanto Clark é tímido e meio atrapalhado. Já na fase do
Byrne, o Clark é apresentando como um galã, confiante e jogador de futebol
americano.
Essa ideia do Clark ser um bobão antes do Byrne é um erro interpretação. O Clark nas HQs clássicas se fazia tímido mas continuava sendo um bom repórter investigador, como demonstrado em histórias da Era de Ouro. Isso era o que criava uma dinâmica divertida entre ele e a Lois, com a profissional ficando frustrada por muitas vezes ser superada por esse “novato atrapalhado do Kansas”.
Ele também tinha
interesses românticos além da Lois como a Lana Lang, a sereia Lori Lemaris
entre outras.
O fato do Byrne ter
tirado a dualidade do Clark e o Superman não só torna a identidade secreta
ainda mais motivo de zoeira (já que agora Clark nem tenta agir diferente do
Superman) como também tira o drama entre as duas identidades, com o Clark tendo
que bancar esse cara tímido para manter seus poderes em segredo, o que
consequentemente, tendo esse comportamento afetando sua relação com as pessoas.
TRANSFORMOU
O LEX LUTHOR, EM EMPRESÁRIO CORRUPTO
Apesar das minhas críticas,
não acho que todas as mudanças de Byrne foram ruins. Uma das melhores, e também
uma mais influente foi transformar o Lex Luthor de um cientista louco para um
empresário corrupto e intocável, um oponente que o Superman não pode prender
tão facilmente.
Isso foi uma boa
modernizada no personagem, fazendo o Luthor ser uma figura mais realista e a
perfeita antítese ao homem de aço, além de ser uma boa referência as HQs da Era
de Ouro em que o Superman enfrentava empresários e políticos corrupto.
Então por que estou
citando o Luthor do Byrne como algo superestimado?
Embora popular, a
versão Byrne tem falhas chave:
- Lex não é mostrando
sendo um gênio super inteligente, sendo dependente de outros cientista que ele
contrata. Ele nem sequer demonstra ter uma paixão por ciência, o que tira muito
da personalidade que torna o Luthor único e distinto de outros vilões corruptos
como Rei do Crime ou o Norman Osborn.
- Ele não possui a
relação com o Clark Kent em Smallville, um aspecto que criava uma conexão mais
pessoal entre eles, com Luthor sendo pro herói não só um inimigo mas também uma
falha, uma pessoa que o Clark não consegue salvar ou redimir (reforçando a
lição de que ele nem sempre pode salvar todo mundo).
- Pra fortalecer ainda
mais a rivalidade do Luthor com o Superman, Byrne fez o Lex ter um interesse
pela Lois, o que foi muito "clichê de novela".
Em suma, o Lex Luthor
do Byrne, apesar de um bom conceito, só foi ser bem executada depois em outras
histórias (ex: Quatro Estações, Legado
das Estrelas, Origens Secretas) e adaptações (o Universo Animado do Bruce
Timm).
TORNOU SUPERMAN NO ÚNICO KRIPTONIANO
Sabem o detalhe do Superman ser chamado de “O Último Filho de Kripton” quando existem vários kriptonianos em suas histórias, algo que muita gente já brincou? Pois é... os editores da DC notaram esse detalhe e, não levando na brincadeira, deciriam que no universo pós-crise Superman seria o único kriptoniano vivo. Nada de Krypto o supercão, Kara, a Cidade Engarrafada de Kandor ou os prisioneiros da Zona Fantasma.
Essa ideia não só foi
mal executada, com Byrne e a DC reintroduzindo os personagens com origens bem
confusas, mas foi mais uma mudança desnecessária. A “importância” do Superman
ser o Último Filho de Kypton é o equivalente ao Homem Aranha ter que
sempre ser um adolescente ou o Batman ser sempre um vigilante solitário: Não é
algo permanente.
A presença de
personagens como a Kara, Krypto ou os habitantes de Kandor não mudam nada a
origem do Clark. Kypton ainda explodiu, Jor El e Lara morreram, Clark ainda foi
enviado pra Terra e criado pelos Kents. Na verdade eles enriquecem ainda mais a
mitologia do Superman, com ele finalmente conhecendo pessoas de seu mundo
natal, algo que ele nunca conseguiu quando criança, ao mesmo tempo personagens
como a Kara e os habitantes de Kandor encontram um novo lar na Terra, sendo
inspirados pelo Superman e os valores que ele aprendeu com seus pais
terráqueos.
Sem eles a mitologia do
Superman fica pequena e um pouco chata, não tendo esse lado cósmico que a
mitologia de Krypton poderiam fornecer.
“HUMANIZOU”
O SUPERMAN
Como eu falei num texto
atrás, Superman é um personagem que é representado de formas diferentes por
seus autores. Alguns julgam que Superman é a identidade dominante, com o Clark
Kent sendo um disfarce. Outros retratam Clark Kent sendo a verdadeira
personalidade enquanto Superman é apenas uma “máscara” que ele usa para ajudar
as pessoas.
John Byrne foi quem popularizou a segunda abordagem, representando o Superman como a versão “mais humana do personagem”. O problema é o método extremo que ele adota para reforçar que Superman é HUMANO, desde a forma como o Byrne retrata os kriptonianos (com o holograma do Jor El tentando "apagar" a humanidade do filho quando se encontram), o Clark ser concebido em sua nave quando chega na Terra (deixando claro que ele não nasceu em Krypton) ou como a história fica lembrando 3 vezes que o Superman é americano.
Clark nem sequer demonstrar estar curioso ou se questionando sobre seus poderes ou sobre quem ele é até o final da minissérie e quando ele finalmente descobre sobre sua origem, um momento representando como algo recheado de emoções, ele simplesmente rejeita seu lado alien e fica num monólogo de o que importa é que ele nasceu na Terra e na América
Basicamente o Byrne
tentou apagar esse lado estrangeiro do Clark, dele ser um imigrante das
estrelas vivendo entre os humanos e tê-lo se assumindo como um humano e um símbolo
americano. Alguns podem não vê problema com isso, porém, pra mim, excluir esse
aspecto do Superman é um grande erro.
Quando analisada, a
abordagem do Byrne parece quase xenofóbica, com ele alterando a imagem dos kriptonianos para
fazer a criação do Clark na Terra superior em moralidade e determinando que o Clark só virou
quem ele é por ter nascido na América e na Terra, ao invés da influência positivas que ele teve na vida.
Isso é aberto a
interpretação, mas depois de ter lido várias HQs do Superman (Legado nas Estrelas e Superman Esmaga a Klan sendo os melhores exemplos), eu comecei a
ver a história dele como um “imigrante espacial” não é sobre renegar um lado
dele em favor de outro, mas sim dele aprendendo que pode ser os dois. Ter sido
criado na Terra não anula que o Clark é um kriptoniano ao mesmo tempo que ele
ser um alien não muda quem ele é, as lições que aprendeu com seus pais ou seus
relacionamentos. Ele valoriza sua vida na Terra e as pessoas que o aceitaram
mas também respeita a memória de seu planeta natal.
A fortaleza da solidão
dele é praticamente um museu, homenageando essa herança de ambos mundos, assim como o fato do uniforme que ele veste ser feito por sua mãe adotiva mas ser baseado no visual dos kriptonianos, com o simbolo S pertencendo a sua familia, a casa dos Els.
No final de tudo, o que
tornou Clark quem ele é não é fato dele ser um alien ou humano, mas sim a forma
como ele foi criado, as pessoas boas que o inspiraram (no caso os Kents), e o indivíduo
que ele escolheu ser: Uma pessoa boa.
Os elementos da fase
Byrne pode até ter sido importante para mitologia do Superman e serviu de
inspiração para muitas histórias boas do herói, seja nas HQs ou adaptações, mas
a fase dele, pelo menos pra mim, tá longe de ser a melhor representação do
Superman como muitos dizem. Por isso que eu considero o Superman dele uma das
versões mais superestimadas de todas.
Então isso? Qual a opinião de vocês quanto ao Superman do John Byrne ? Sintam-se a vontade para colocar suas opiniões nos comentários abaixo.
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