AQUAMAN DO GEOFF JOHNS – A FASE QUE INFLUENCIOU OS FILMES

 


AQUAMAN DO GEOFF JOHNS – A FASE QUE INFLUENCIOU OS FILMES

Nesse mês de dezembro vai ser lançado nos cinema “Aquaman 2”, a sequência do filme de James Wan lançado em 2018. 



Mesmo apresentando uma versão nova do rei dos mares, a adaptação utilizou elementos de várias histórias da mitologia do Aquaman, com o maior exemplo sendo o visual do personagem do Jason Maomoa, claramente inspirado pela fase do Peter David.




De todas as histórias usadas como inspiração, a que teve mais influência foi a fase do Aquaman de 2011, escrita pelo Geoff Johns. Tendo durado por 25 edições, essa fase buscou redefinir o Aquaman para a nova continuidade pós-Flashpoint, combinando elementos de suas versões passadas como novos. Isso resultou na hq do Rei dos mares sendo um grande sucesso, virando um dos títulos mais populares da DC Comics nos Novos 52.



Mas qual o motivo desse sucesso? O que contribuiu para que essa HQ do Aquaman, um personagem visto como uma piada para muitos fãs, tivesse uma qualidade melhor que outros títulos da época?

Eu vou explicar...

O EQUILIBRIO DE TONS

Para falar do sucesso do Aquaman do Johns é importante falar do contexto em que ele foi criado. No ano de 2011, DC Comics realizou seu novo reboot, os Novos 52, buscando reinventar a história de seus personagens para uma nova geração de fãs. Infelizmente, apesar de um sucesso inicial, as HQs logo caíram de qualidade devido a vários problemas, desde discussões entre editores e roteiristas (com muitos saindo ou sendo demitido da editora incluindo George Perez e Gail Simone), confusões na continuidade e, o principal, a forma como muitos personagens ficaram descaracterizados, com DC tentando dar uma abordagem muito ultra sombria, retratando os personagens como antipáticos, sem carisma e violentos, ignorando aspectos que tornavam eles interessante e diversificados (basicamente o que eles tentaram fazer nas animações e os filmes do Snyder).



O título do Aquaman foi um dos casos que conseguiu manter uma qualidade consistente, com Johns dando um equilíbrio melhor no tom da revista. Tinha momentos sombrios, mas combinava com momentos light e de humor, tornando a narrativa imprevisível e ao mesmo tempo interessante. Numa hora a história poderia uma aventura fantástica no oceano em outra poderia ser sobre a vida do Aquaman e a Mera na cidade.



MITOLOGIA DOS SETE MARES

Tal como ele fez na sua fase de Lanterna Verde, com a criação de outras tropas de lanternas, Johns também reinventou a mitologia do Aquaman e de Atlantis. 



Não só ele reintroduzir ideias de HQs clássicas, como a existência de 7 reinos, junto com Atlantis, mas também introduziu personagens ligados ao passado desse reino como as criaturas do Fosso e a lenda do rei Atlan, cuja backstory acaba tendo ligação não só com o evento que afundou Atlantis mas também com os ancestrais do Aquaman.




REDEFINIÇÃO DOS VILÕES

Outro aspecto que Johns desenvolveu bem na sua fase do Aquaman foram os vilões do herói submarino. Se aproveitando da mitologia por trás de Atlantis e o mundo das profundezas, o roteiristas introduziu novos vilões como as Criaturas do Fosso, um grupo de peixes humanoides selvagens, e o citado Rei Atlan, agora conhecido como o Rei Morto, o antigo rei de Atlantis que ressuscitou como um zumbi e busca reclamar seu trono.




Mas os dois vilões que se destacaram muito na HQ foram os inimigos principais do Aquaman: O Arraia Negra e Orm, o Mestre do Oceano. Assim como fez com o Adão Negro e Sinestro, Johns reinventou os personagens, que antes eram um pouco genéricos, em figuras com motivações complexas, parecendo algo saído de uma obra de Shakespeare.

No caso do Arraia Negra, ele continuou sendo o mercenário cruel que o público ama odiar, porém tinha uma ligação mais pessoal com Aquaman. Nessa nova versão, o Arraia tinha sido sido responsável pelo incidente que resultou a morte o pai de Arthur, e o jovem, em resposta acabou acidentalmente matando o pai do Arraia, criando um ciclo de vingança e ódio entre os dois.



Já o irmão do Aquaman, Orm, que em versões anteriores era um Loki 2.0 foi representado como uma figura mais trágica. Ao invés de odiar seu irmão, Orm na realidade ama e se importa com Aquaman. Mas, ele também possui uma desconfiança dos seres da superfície e uma dedicação para proteger o povo de Atlantis, mesmo que signifique declarar guerra ao mundo, criando uma dinâmica bem trágica entre ele e Arthur, com ambos tendo que escolher entre seus laços de família ou seus deveres.



DESTAQUE AO ELENCO DE APOIO

Além dos vilões, Johns também reinventou o elenco de apoio do Aquaman, levando os personagens para direções bem inesperadas. Um exemplo disso é Vulko, que, tal como sua versão pré-novos 52, começa como um aliado do Aquaman, agindo como um conselheiro para o futuro rei de Atlantis. Mas, durante a fase, Vulko toma decisão que prejudica a confiança do Aquaman, demonstrando os limites que ele está disposto a cruzar para que Arthur aceite seu legado atlante.





Do outro lado desse spectrum temos o Doutor Shin, um personagem introduzido nessa fase que é mostrado como um antigo mentor de Arthur que teve sua reputação arruinada após tentar expor o segredo do Aquaman e Atlantis e foi quem enviou Arraia atrás do jovem Arthur, levando ao incidente que resultou na morte do pai do herói. 



A princípio parece que Shin iria se tornar um novo inimigo do Aquaman,  mas, num twist, ele prova estar do lado do rei dos mares após se recusar ajudar o Arraia Negra no presente. A relação dele e Arthur não volta a ser amigável, mas a ação do doutor demonstra que ele não é um completo covarde ou incapaz de aprender com seus erros.



Contudo, a personagem mais desenvolvida por Johns foi Mera. Continuando seu trabalho com a personagem em HQs anteriores, Johns retratou Mera como uma completa badass que não aceita desrespeito vindo de ninguém, sendo uma personagem independente, com sua próprio arco e dilemas. 



Ela é também muito leal ao Aquaman e sempre lutando ao seu lado, mas não é uma mera namorada do herói (ba dum tss) sabendo quando aponta os erros de seu amante.



A relação dela com Arthur é um dos pontos altos dessa fase. Esse aspecto não está na história apenas para dar fan-service para os shippers e fãs das HQs clássicas, mas sim ter um papel na evolução dos dois heróis. Conforme a fase vai se desenvolvendo, tanto Arthur quanto Mera aprendendo mais sobre um ao outro e se ajudam a lidar com seus traumas do passado, demonstrando a importância que um tem para a vida do outro e seu relacionamento contribui para se tornarem melhores.





A JORNADA DO REI



Como eu disse antes, por causa da fama que tem de ser um “herói tosco”, muitos autores tentaram redefinir o personagem, retratando muitas vezes como um cara fortão, rabugento e sério, tentando ao máximo afasta-lo dessa imagem que o público tinha dele. Já que os Novos 52 tinham feito tal abordagem com muitos dos personagens da DC, era de se esperar que Aquaman também seguiria por um caminho, mas esse não foi o caso.

Ao invés de seguir o exemplo de versões como a do Peter David, Geoff Johns optou por trazer o Aquaman de volta a sua versão clássica, sendo um aventureiro heroico, mas mantendo traços da personalidade badass das HQs mais modernas.



Já na primeira edição Johns apresenta o Aquaman como um herói subestimado por todos: Enquanto os habitantes de Atlantis o rejeitam por ser mestiço, o povo da superfície o enxerga como uma piada. 



Esse drama não só uma boa referência a forma como os leitores enxergam o Aquaman, mas o torna um protagonista bem relacionável, contribuindo para tornar os momentos em que Aquaman resolve os problemas com um uso criativo de seus poderes, demonstrando o nível de seu poder, bem memoráveis e ao mesmo tempo muito divertidos.




Entretanto, enquanto a fase faz um bom trabalho de retratar a dedicação do Aquaman e seu esforço para proteger os inocentes, até mesmo aqueles que o criticam de forma injusta, ela também dá um foco nos defeitos. Por baixo da imagem do super herói, Arthur é um homem lidando com traumas de seu passado (ex: a morte de seu pai, ele ter matado o pai do Arraia, ser rejeitado tanto pelas pessoas da superfície quanto pelo povo de Atlantis, etc...) e inseguranças surgidas da pressão que ele sofre de muitos, sejam o povo de Atlantis ou os habitantes da superfície, com a tensão entre os dois tornam a situação ainda mais difícil. É um conflito interno bem natural considerando todo o peso que vem com o papel de ser um herói e também um herdeiro ao trono de Atlantis.




Por esse motivo que, quando introduzido, Aquaman não é mostrado ainda sendo um rei, querendo evitar ter que assumir essa responsabilidade. É praticamente ele se recusando a atender ao chamado para aventura (referência a Jornada do Herói de Joseph Campbell).


 

Mas, conforme figuras de seu passado vão retornando em sua vida, Arthur, com a ajuda de Mera e seus aliados, acaba tendo que confronta os medos que tentou ignorar por tanto tempo, assim como as consequências de seus atos.



O auge dessa evolução é no evento “Trono de Atlantis”, onde, após ver um incidente quase provocar uma guerra entre Atlantis e a superfície, Arthur finalmente assume seu posto como rei de Atlantis, buscando a tentar criar paz entre os dois mundos. 



Embora tenha cometido erros no seu passado e ainda que tenha incertezas sobre si mesmo e sua capacidade para ser um bom rei, Aquaman aceita as responsabilidades por suas decisões com confiança e determinação, no processo inspirando outros como Mera a seguirem seu exemplo e confrontar seus próprios medos e dilemas. Isso que o torna digno de ser um rei.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Infelizmente a fase do Johns terminou antes que ele pudesse continuar a expandir essa mitologia do Aquaman e seu desenvolvimento, com história dos Sete Reinos seguiu por uma direção diferente.  Mas esse detalhe não prejudica a qualidade das histórias que Johns fez antes, com o final dado tendo sido bem satisfatório.

É irônico como nos Novos 52, uma época em que maioria super heróis tá DC estavam passando por reformulações e sendo retratados como versões mais sombrias e violentas para poderem “ser levados a sério”, Aquaman, o personagem que já passou por essas reformulações, conseguiu ser um sucesso fazendo o completo oposto, demonstrando como tom sombrio exagerado não torna uma história boa, mas sim a qualidade do roteiro e os personagens cativantes e bem desenvolvidos. Tal como o próprio Aquaman, a fase dele feita pelo Johns é um exemplo de não julgar um livro pela capa e uma boa recomendação para quem quiser saber mais sobre o Rei dos Sete Mares.



Então é isso, concordam comigo? Discordam? Qual a opinião de vocês quanto ao Aquaman do Geoff Johns? Sintam-se a vontade para colocar suas opiniões e ideias nos comentários abaixo.


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