Golgo 13 é o James Bond japonês?

 

Dia 29 de setembro, quarta-feira, foi anunciado o falecimento de Takao Saito, um dos grandes autores de mangás, criador do personagem Golgo 13. O que alguns podem não conhecer muito a respeito é que Golgo teve uma íntima relação com o célebre James Bond, o espião mais famoso da ficção, criado por Ian Fleming. Mas o que um espião e um assassino têm em comum? Pode-se dizer que um mesmo arquétipo.

 



Takao Saito foi responsável por escrever e desenhar o mangá de James Bond, em 1964. Porém, como a obra foi tendo cada vez mais um distanciamento do material original, Saito por fim perdeu os direitos de licenciamento de personagem. Espertamente, ele fez o que os japoneses sabem fazer melhor, que é pegar algo e fazer uma cópia genérica. É só lembrar da indústria automobilística japa, que imitava as concessionárias norte-americanas e alemãs. Dessa forma, surgiu Duke Togo, o assassino profissional Golgo 13, em 1968, cuja base foi realmente o espião inglês.




No entanto, apesar de Duke Togo ter sua origem vinculada a James Bond, eles são personagens bem diferentes. Em comum, têm o fato de que são assassinos. Porém, Bond é um assassino do MI6, o serviço secreto britânico. Ele mata a serviço de seu país e da rainha. Duke Togo é um assassino profissional; portanto, ele mata por sua própria conta. Bond é um funcionário público e Togo, um freelancer, por assim dizer.

 

Há mais diferenças. Ao menos nos livros de Ian Fleming, Bond eventualmente questiona seu ofício; ele não é um assassino tão frio como aparenta e não sente prazer em matar seus inimigos, ainda que a maioria seja composta por homens maus. Claro que, no fim das contas, ele termina por eliminar mecanicamente os vilões, e Bond é muito bom em matar, mas não que isso não lhe pese um pouco na alma. Ao contrário dos filmes clássicos, nos livros de Ian Fleming o leitor é apresentado aos pensamentos e sentimentos de Bond. Nos filmes clássicos da franquia, particularmente nos de Sean Connery e Roger Moore, parece que Bond se diverte matando seus inimigos, mas na realidade não era bem assim nos livros. Isso só foi mudar um pouco quando Daniel Craig assumiu o papel do espião inglês. Nos longas de Craig, apesar de ele ser um dos Bonds mais violentos, transparece o peso das mortes.




Duke Togo, por sua vez, é um assassino frio que, ao aceitar um contrato, nunca vacila, independentemente do alvo ser uma pessoa má ou não e realmente merecer morrer. Geralmente, ele acaba sempre sendo envolvido em alguma intriga e termina por ter um embate com um bandido bem pior que ele, mas Golgo 13 realmente é um personagem mais amoral, que faz o que foi contratado para fazer. Dá para dizer que ele tem um senso de honra profissional distorcido.




A sensualidade dos personagens também é distinta. Bond é um homem que, apesar de ter certa frieza com as mulheres, é um grande apreciador delas. Ele frequentemente encontra uma mulher que desperta o desejo de possuí-la. Isso se reflete nas Bond girls, que são variadas e têm características distintas, mas que no fim das contas sempre terminam na cama com Bond. Como disse Raymond Chander: “James Bond é o que todos os homens gostariam de ser e o que todas as mulheres gostariam de ter embaixo dos lençóis”.

 



Em Golgo 13, já é diferente, Duke Togo é adepto do “sexo estóico”. Ele se envolve com várias mulheres, mas é por causalidade das missões na maioria das vezes. Eventualmente, para cumprir um contrato, ele tem de transar com alguma mulher, mas geralmente tem muito pouco envolvimento emocional.




Na verdade, se Duke Togo existisse no universo de Bond, ele provavelmente seria um vilão. Se enquadraria nos arquétipos dos “anti-Bonds”, que são os vilões que têm características semelhantes a Bond, mas direcionadas para o mal. Como é o caso de Francisco Scaramanga, vilão do livro e do filme O Homem da Pistola de Ouro, e de Alec Trevelyan, o ex-006, vilão de 007 contra Goldeneye.

 

Enfim, quem não conhece Golgo 13, sugiro que corra atrás, porque ele é um personagem que tem ótimas histórias de ação, intriga, violência e sexo, tudo o que o Bond-fã também gosta. Particularmente, conheço melhor James Bond que Golgo 13, mas tudo que vi do personagem, seja mangá, anime ou filme, me agradou bastante também.

 

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