Shang-Chi e a Lenda dos Dez Aneis - Review com spoilers

 


Esses dias, assisti a Shang-Chi e a Lenda dos Dez Aneis por "meios não oficiais".  Bom, o que achei sobre o filme? Na verdade, sabe o que esse Shang-Chi tem em comum com o Shang-Chi dos quadrinhos da Marvel? PORRA NENHUMA! De Shang-Chi, só tem o nome mesmo.





Nos quadrinhos escritos por Doug Moench, havia um enredo que misturava artes marciais com espionagem. O personagem trabalhava para sir Denis Nayland Smith no MI 5. Tinha um elenco de coadjuvantes fascinantes, Black Jack Tarr, Clive Reston, Leiko Wu. Shangi-Chi era o Mestre do Kung Fu, um peixe fora d'água no mundo ocidental, cujo objetivo era destruir seu pai, o maligno doutor Fu Manchu. Esse Shang-Chi do filme, interpretado por Simu Liu, trabalha de manobrista, canta karaokê e tem uma amiga/namorada gordinha, Kate, cujo papel é feito por uma tal de Awkafina, que parece ser uma comediante famosa nos EUA, mas que é desconhecida por aqui. Acho que até pensaram em dar o nome de Leiko para a personagem dela, mas aí perceberam que o fanboy raiz iria chiar, porque seria outro caso em que a única coisa em comum com a personagem do quadrinho seria o nome.

 



O pai de Shang-Chi no filme não é um gênio do mal, é uma mistura de gângster com executivo chinês típico da abertura econômica da China. É um personagem completamente diferente tanto do Fu Manchu quanto do Mandarim da Marvel. Apesar de ser um dos méritos do filme, pois é interpretado pelo excelente ator chinês Tony Leung, que atuou em filmes como Amor à Flor da Pele de Wong Kar-Wai. E existem sim os dez anéis alienígenas que são os do Mandarim nos quadrinhos, mas no longa estão mais para braceletes e não têm as características dos anéis nas HQs, em que cada um tinha um poder específico. E, sim, há menção ao falso Mandarim de o Homem de Ferro, e Ben Kinsgley está no filme, reprisando o mesmo papel.



Dá para notar o cagaço da Marvel/Disney, que suprimiram tudo que pudesse ofender minimamente a suscetibilidade dos chineses, com medo de que o filme fosse censurado pelo PCC, não a facção criminosa da Banânia, mas o Partido Comunista Chinês. E parece que na China há um grande ódio contra o personagem de Fu Manchu, que é o típico gênio do mal chinês estereotipado. Também há a irmã “empoderada” de Shang-Chi, interpretada por Meng’er Zhang, mas empoderamento feminino não pega muito bem na China.



O filme tem aquele humor retardado da Marvel, cheio de piadinhas que quebram a tensão, e porrada fofa. Ao contrário das lutas que Shang-Chi travava nos quadrinhos, desenhadas por Paul Gulacy, Gene Day e Mike Zeck, em que dava até para sentir os ossos sendo quebrados. No enredo, Shang-Chi está vivendo nos EUA como um civil comum, quando começa a ser perseguido por capangas de seu pai, que estão atrás de seu colar, o qual é importante para que seu pai consiga abrir um portal e trazer de volta sua esposa, que também é a mãe de Shang. Entre os capangas, merecem destaque o Punho de Lâmina (também conhecido como Executor no Brasil) e o Mercador da Morte. Há uma cena de completo fanservice que é da luta de Wong, o criado do Doutor Estranho, com o Abominável, vilão do Hulk. No entanto, a cena é mais ou menos aquela que foi vista no trailer, para frustração de quem esperava mais.




Nas HQs, apesar dos estereótipos e das bizarrices, a trama das histórias do Mestre do Kung Fu conseguia ser mais pé no chão do que esse filme. Os enredos eram basicamente Shang-Chi enfrentando vilões exóticos como seu pai ou outros, a serviço de sir Dennis. O terceiro ato do longa é uma porra-louquice. Shang-Chi vai parar em uma terra fantástica, cheia de criaturas lendárias. Fica parecendo até um filme chinês wuxia de fantasia. Também merece destaque Michelle Yeoh, que é a tia de Shang no filme e é a outra grande atriz chinesa na película, além de Tony Leung. Mas infelizmente nem esses atores conseguem salvar essa grande bobagem. Uma coisa é adaptar um personagem para outra mídia. Outra é desfigurá-lo totalmente. O que fizeram com Shang-Chi foi uma barbaridade.

Evidentemente, não nego que o longa é muito bem produzido, com direito a muita CG no ato final, para constituir as criaturas. E a direção de Destin Daniel Cretton é competente. Quanto às cenas pós-créditos, infelizmente a versão vagabunda do filme que assisti as suprimiu. Se alguém viu tais cenas, sinta-se livre para descrevê-las nos comentários. A última cena é quase uma cena pós-crédito, com Wong procurando Shang-Chi atrás dos anéis dele. Esse negócio de querer o anel de outro cara pega muito mal, na minha opinião, sem homofobia, he he.

Enfim, como saldo final, dou nota 4 de 10 para o filme. Como 90% dos fãs dos quadrinhos de Shang-Chi conhecem o personagem por causa da fase clássica, escrita por Doug Moench e ilustrada por Paul Gulacy, Gene Day, Mike Zeck e outros, acredito que a frustração será imensa. Se vale a pena assistir no cinema? Agora que vi na “locadora do Paulo Coelho”, não tenho mais vontade, mas provavelmente reassistirei ao filme quando chegar ao Disney Plus. Nesses tempos pandêmicos, em que estou só 50% imunizado, não tenho ido ao cinema, mas vai de cada um avaliar se Shang-Chi merece o risco de pegar o “covidão”.

 

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