Enlatado norte-americano criado em 1946 por Alan Livingston, o palhaço Bozo nasceu em berço de vinil, concebido originalmente para a série de coletânea de discos com histórias infantis Bozo at the Circus, estreando na TV americana apenas três anos depois, em 1949, e, a partir daí, exportado para o mundo.
O primeiro Bozo brasileiro também não surgiu nas telinhas, não foi dado à luz em terras tupiniquins pelo SBT; na época, a TVS. O Bozo desembarcou em terras de Cabral através da gravadora Odeon, em um disco de versões compostas e interpretadas por ninguém mais ninguém menos que o humorista, showman, ator, produtor, dublador, diretor, radialista, compositor e de quem, dizem, os judeus americanos copiaram e patentearam o stand-up, José Vasconcelos, considerado por Chico Anysio e por Juca Chaves o maior comediante brasileiro de todos os tempos.
Aqui no Brasil, a migração do palhaço Bozo para a TV demorou um tanto mais, ocorrendo apenas em 1980, pelas mãos de outra lenda (literalmente ainda viva) do entretenimento, Silvio Santos, o Homem do Baú, em seu recém-inaugurado canal TVS.
Vários intérpretes vestiram a pele do palhaço Bozo. A maioria pela TVS São Paulo, mas também, a respeitar a diversidade e os variados sotaques do povo brasileiro, existiram Bozos regionais, cariocas (TVS Rio), mineiros (TV Alterosa) e baianos (TV Itapoan).
Quatorze Bozos televisivos, no total. Os mais famosos, da esquerda para a direita na foto a seguir : Wandeko Pipoca (o primeiro, 1980 a 1982), Luis Ricardo (de 1982 a 1990, e até hoje no SBT) e Arlindo Barreto (1983 a 1986).
Arlindo Barreto, que inspirou o bom filme (eu recomendo) Bingo, o Rei das Manhãs, foi tomado pelo turbilhão do sucesso e do show businnes e despirocou e tacou fogo no próprio circo. Viciou-se em cocaína e em outras drogas mais pesadas, como a cantora Gretchen. Sim, meus caros, o Bozo comia a Gretchen! Pãããããta que o pariu!!! Frente às câmeras, a rainha do bumbum cantava para a criançada; nos bastidores, chupava o DipnLik do Bozo, descabelava o palhaço.
A primeira e exitosa temporada do Programa do Bozo durou de 1980 a 1987, tendo, o palhaço, sido ressuscitado numa segunda temporada, inexpressiva e incapaz de repetir o antigo sucesso e a antiga glória da primeira, vinte anos depois, em 2007, para morrer definitivamente em 2013.
Morrer definitivamente? As lendas não morrem, meus caros. Apenas descansam, ficam incubadas, encasuladas, reinventando-se, para voltarem ainda mais fortes e atuantes, quando forem de novo necessárias, respondendo aos urgentes chamados e apelos populares.
Com o palhaço Bozo, não foi diferente. Em 2018, atendendo às eternas súplicas populares por pão e circo, Bozo ressurgiu reeditado e repaginado. Não mais o "rei das manhãs". Sim o rei das alvoradas. Do Palácio da Alvorada. Bozo ressurgiu na figura do intrépido Bolsonaro. Tentou passar despercebido, o palhaço. No entanto, foi reconhecido de imediato pelos seus opositores, pelo povinho escroto da esquerda, que viram o Bozo por detrás da maquiagem de Presidente e prontamente expuseram a tentativa de escamoteio. De cara, denunciaram : é o Bozo.
Em vão. Inclusive, que boa propaganda lhe fizeram. Sempre foi, é e será o Bozo que o brasileiro quererá. Quantos Bozos já não foram eleitos para o Planalto desde a volta da "democracia", desde o advento da Nova República do Sarney, em 1985? Quantos mitos já não envergaram a faixa presidencial? Bolsonaro guarda uma única diferença para com seus antecessores : ele não reclama dos apelidos, antes pelo contrário, os assume; macho das antigas que é, não fica de mi-mi-mi pra bullying, sabe que reclamar do apelido é a pior a coisa a se fazer; ao invés disso, debochadamente, incorpora-os à sua imagem, ao seu personagem, fortalece-se deles.
Mas Bolsonaro está a ser um Bozo à altura do seu papel?
Ninguém melhor para nos dar a resposta que ele, Wandeko Pipoca, o primeiro Bozo brasileiro. E a resposta do veterano Bozo é um sonoro e convicto "sim". Wandeko deu a sua chancela, o seu selo de aprovação para Bolsonaro assumir o papel do Bozo em 2018 : o primeiro Bozo votou em Bozo para a Presidência da República.
E voltou a manifestar seu apoio e aprovação a Bolsonaro agora, neste fim de semana, por ocasião das pífias manifestações antimito ocorridas em alguns cantos do país, nas quais o nome Bozo voltou a ser fortemente associado ao Presidente da República.
À coluna do jornalista Chico Alves, do portal UOL, o pioneiro Bozo disse que o Presidente não deve se chatear com o cunho pejorativo que seus antagonistas tentam imprimir ao compará-lo ao palhaço Bozo. Muito pelo contrário, deve tomar isso como um elogio :
"Bozo é um personagem sério, um personagem bom, honesto", disse ele à coluna. "Eles não têm nada a dizer de ruim sobre o personagem".... - Veja mais em https://noticias.uol.com.br/colunas/chico-alves/2021/01/25/primeiro-bozo-do-brasil-aprova-apelido-de-bolsonaro-e-reprova-carreatas.htm?cmpid=copiaecola
“Bozo é um personagem sério, um personagem bom, honesto. Eles não têm nada a dizer de ruim sobre o personagem”.
Sobre as "carreatas" pró-impeachment, Wandeko disse: “O pessoal tinha que parar com esse negócio, por muito tempo a onda vai ser Bolsonaro. Não adianta a mídia ficar pegando no pé do filho dele, no pé da mulher dele. O cara que é Bolsonaro é igual ao cara que é flamenguista: não muda”. E ainda deu uma zoada : "Meia dúzia de carrinhos, só".
Orgulhoso, finalizou dizendo que gosta que usem o nome do Bozo para se referir ao Presidente : "É sinal de que ainda se lembram de mim".
Não culpemos o Bozo. O Bozo não é o autor nem o dono do seu discurso, não é o roteirista do seu script de governo. É só o porta-voz. O menino de recados. O Bozo é só o mensageiro : da índole, do caráter e da formação cultural, moral e ética do povo que o elegeu.
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