Seriam os Filmes de Heróis Somente uma Fase?


Alguns anos atrás, o grande cineasta Steven Spielberg disse que os atuais filmes de super-heróis seriam uma moda passageira, estão no seu auge, mas sumirão com o tempo como aconteceu com os grandes filmes de faroeste, famosos por décadas no cinema. Desnecessário dizer que essa declaração vinda de um grande idealizador do cinema gerou bastante discussão em diversos fóruns e blogs pela internet, para quem está chegando ao planeta Terra agora e não conhece as contribuições de Spielberg para o cinema vou citar obras marcantes como Tubarão, ET – O Extra-Terrestre, A Lista de Schindler, Jurassic Park, Contatos Imediatos do 3º Grau, junto com George Lucas ele desenvolveu a saga de Indiana Jones e foi o produtor da série De Volta Para o Futuro. Com esse currículo poderíamos dizer que tudo dito por esse homem em relação ao futuro do cinema não estaria errado, no entanto acredito que, infelizmente, dessa vez ele está dando um tiro no escuro com uma afirmação dessas, com chances de acertar o próprio pé.

Essa declaração partiu do princípio de que o cinema ficará saturado de tantas produções baseadas no universo dos super-heróis, gerando uma banalização do tema e chegando ao ponto em que os grandes estúdios acabarão abandonando esse filão que vem se mostrando um dos mais lucrativos das últimas décadas, só que o envolvimento do cinema com os super-heróis é muito antigo, dezenas de produções sobre os grandes heróis das HQs já foram feitas, claro que seus efeitos e enredos não possuíam a complexidade e inovação que presenciamos hoje com o crescimento do CGI (Computer Graphic Imagery), a tecnologia de gerar imagens em 3D que nasceu para projetos acadêmicos e militares acabou por migrar para a indústria dos games e cinema, permitindo que sagas cada vez mais complexas de serem realizadas cheguem mais rápido às telas, quem não se lembra da cena de Star Wars – Uma Nova Esperança em 1977 onde os rebeldes montam a estratégia de ataque a Estrela da Morte analisando uma projeção 3D da sua estrutura? A curta cena, pioneira a usar esse tipo de artifício, exigiu semanas de preparação e tecnologia de ponta para a época e a partir daí a utilização desses efeitos se expandiu para diversas produções melhorando cada vez mais e trazendo coisas antes impensáveis de se ver em um filme se tornarem comuns e usuais, é impossível conceber uma produção de super-heróis sem usar esses efeitos e com escala cada vez maior, para esse argumento ficar mais claro, ou mais verde, vamos citar um exemplo bem simples: O Hulk, quem já viu a série clássica dos anos 70 com o Lou Ferrigno pintado de verde da cabeça os pés sabe que seria impraticável fazer a mesma coisa nos tempos de hoje, a não ser que estivesse pensando em uma paródia de humor nos moldes da série Todo Mundo em Pânico que tira sarro de várias produções de terror e ficção. Tenta encaixar a imagem do Hulk da série clássica em uma cena dos Vingadores e vai ter noção do quão ridículo ficaria.


O envolvimento das HQs de heróis com as telas vem desde as adaptações famosas de Flash Gordon e Buck Rogers nas matinês antigas do cinema com seus figurinos e efeitos hoje risíveis, passando pela antológica série do Batman produzida na década de 40. Nesses tempos ficaram famosas as séries de heróis, os filmes eram seriados que passavam nos cinemas com enorme sucesso entre as crianças. Batman teve duas séries nos anos de 1943 e 1949, cada uma com 15 episódios cada e é conhecida como a primeira realização live-action de um super-herói dos comics. Em seguida veio o impagável Batman e Robin nos anos 60 com Adam West e Burt Ward, nesse caso a produção foi feita a partir da série de TV. O Capitão América também teve um seriado em 1944 com pouco mais de 15 episódios e, ao contrário de Batman, pouca coisa foi respeitada nessa adaptação como o fato de que a identidade do Capitão era a de um promotor de justiça, não existia o seu indestrutível escudo ficando no seu lugar uma arma comum e nada de soro do super soldado, o estúdio era o Republic, um dos mais famosos da época, sua alegação para essas alterações era de que ficaria muito caro seguir a história das HQs, no filme Capitão América – O Primeiro Vingador, as seqüências onde Steve viaja pelo país se apresentando de forma teatral para vender bônus de guerra são citadas como homenagens a essas baratas produções de época reproduzindo de maneira quase idêntica o uniforme usado pelo personagem no seriado dos anos 40. 


Os executivos dos estúdios sempre enxergaram grandes possibilidades de lucro nas adaptações dos super-heróis para as telas, um grande exemplo é o Superman, adaptado desde os anos 30 para diversas mídias como rádio, cinema e TV, as aventuras do maior dos super-heróis estiveram presentes em uma série de episódios animados desenvolvidos pelos estúdios dos irmãos Max e Dave Fleicher considerados uma das melhores animações criadas para o personagem e referências de qualidade até os dias de hoje, passando pela série live action com George Reeves no papel principal até o estrondoso sucesso de Superman – O Filme, de 1978, com o saudoso Christopher Reeve no papel do herói e Gene Hackman no papel de Lex Luthor. O marketing da época dizia: ‘Você vai acreditar que um homem pode voar’, nunca antes um personagem de HQ havia ganhado uma adaptação para as telas com tantos efeitos, tanto respeito ao seu universo ficcional como Superman, desde o elenco até a clássica trilha sonora que marcou o personagem para sempre, quem não reconhece os acordes de John Williams, mestre em criar temas fantásticos para o cinema tendo no currículo obras inesquecíveis como Caçadores da Arca Perdida, Star Wars, Tubarão, Harry Potter e ET – O Extra Terrestre? Produções de séries para a TV baseadas em super-heróis surgiram nessa época fazendo bastante sucesso e popularizando cada vez mais suas imagens para o público criando clássicos como O Incrível Hulk, Homem-Aranha com sua teia de corda e um sentido de aranha no mínimo pitoresco (cujo episódio piloto ganhou uma versão para ser exibida nos cinemas), Mulher-Maravilha com a bela Linda Carter e Shazam!





Os anos 80 chegaram e com eles uma nova leva de filmes baseados em super-heróis surgiu nos cinemas, Superman ganhou uma divertida seqüência onde enfrentava três criminosos sobreviventes de Krypton, Justiceiro teve sua primeira versão na pele de Dolph Lundgren com um resultado próximo ao desastroso, Flash Gordon foi trazido de volta em uma produção Cult com trilha sonora bacana do Queen, Wes Craven trouxe diretamente dos pântanos da sua imaginação a sua versão do Monstro do Pântano até chegar Batman de Tim Burton, com Michael Keaton na pele do Cavaleiro das Trevas e um louco Jack Nicholson como Coringa para mostrar que os filmes de heróis poderiam se tornar superproduções e quebrar recordes de bilheteria deixando executivos animados, estúdios ricos e platéias felizes e alucinadas pedindo por mais e mais. A partir daí vieram os anos 90 e foi ladeira abaixo, a lista de produções não parava de aumentar trazendo heróis como O Fantasma, Darkman, Juiz Dreed, Spawn, As Tartarugas Ninjas, o super cult filme do Quarteto Fantástico de Roger Corman, Capitão América e Rocketeer. O cinema estava abraçando de vez a onda de super-heróis, o que realmente incomoda é o fato dos estúdios terem passado por cima da mitologia das HQs e criado filmes que pensaram mais nas bilheterias e nos lucros deixando de lado a qualidade para nos fazer acreditar em seres superpoderosos andando entre nós como a magia de Superman - O Filme, pelo menos até o ano 2000 e os estúdios FOX trazerem para nós X-Men - O Filme, a película dirigida por Bryan Singer com Patrick Stewart, Ian McKellen, Halle Berry e Hugh Jackman reacendeu a chama de vez. Adaptados com um roteiro simples, porém com produção bastante caprichada, o sucesso dos mutantes elevou o status dos filmes de heróis a níveis nunca antes imaginados nas décadas de 80 e 90. A SONY tirou da gaveta o Homem-Aranha dessa vez com uma adaptação realmente decente e com ótimos efeitos visuais, seguiram o Hulk de Ang Lee e Demolidor com Ben Affleck, Christopher Nolan trouxe a visão definitiva do Cavaleiro das Trevas com Batman Begins, o Quarteto Fantástico ganhou uma versão mais digna, até o Motoqueiro Fantasma teve um filme legal e a Marvel revirou tudo com a chegada de Homem de Ferro e O Incrível Hulk com Edward Norton dando início à Era Marvel nos cinemas, seguidos de Thor e Capitão América em um ambicioso projeto de recriar seu universo interligado nas telas que culminou no estrondoso sucesso de Os Vingadores, com uma agenda de mega produções para daqui até ...(202?)...



prometendo sucessos um atrás do outro Vingadores: Guerra Infinita / Ultimato e similares. Fica muito complicado concordar com os argumentos de Steven Spielberg, posso estar errado, mas sinto nas palavras do respeitado cineasta um certo preconceito e uma visão meio conservadora com relação a esses filmes, argumentando que são mitologias populares com apelo finito baseado na história dos westerns, tão famosos e que caíram no esquecimento com o passar do tempo, pois em algum momento surgirá um novo filão, um novo gênero, que desviará a atenção dos executivos e o público virá a perder o interesse nos heróis, Joe Quesada respondeu a isso dizendo que enquanto as pessoas quiserem blockbusters, os quadrinhos estarão lá, mas o que os fãs realmente querem é ver produções cada vez melhores, realistas e emocionantes dos seus personagens preferidos nas telas e não creio que essa onda tenha data para acabar, pelo menos não por muito, muito tempo porque histórias para contar é o que não falta. 


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