RED DEAD REDEMPTION - GAME OF THE YEAR EDITION (X-Box)


Texto escrito por: Neófito

As pessoas não esquecem, nada é perdoado.
John Marston

Desde que concluí Red Dead Redemption II, fiquei tentado a jogar o primeiro. E realizei tal desejo com a mídia física. Fiz questão do disco em mãos porque sou velho e ainda apegado a objetos. Além disso, queria o mapa encartado (imagens abaixo). Dá certo prazer em adquirir essas coisas, não é? Todo colecionador/acumulador o sabe. Venho evitando comprar papel impresso. Mas jogos em disco são bem vindos à estante, especialmente por ter retomado há pouco tempo o hábito. Ainda há espaço em casa para guardá-los e, mais à frente, se vender o console para adquirir outro, as mídias servirão de estímulo ao possível comprador.


Para quem não sabe: o segundo jogo é prequela do primeiro, com espaço de oito anos entre os lançamentos.

Em RDR II (2018), acompanhamos a gangue de Dutch van der Linde fugindo desde o misterioso massacre em Blackwater. Esse massacre é mencionado em ambos os jogos e, nele, parece que as coisas degringolaram de vez. Seria o início do fim. Em quase toda a jogatina, conduzimos o personagem Arthur Morgan - homem brutal, pistoleiro, caçador e fora da lei, mas possuidor de sensibilidade para registrar, em seu diário, por escrita ou desenhos, passagens relevantes de sua vida. No final do RDR II, jogamos um pouco com John Marston, personagem igualmente interessante, bem construído, que busca apenas deixar para trás sua vida marginal e tocar um pequeno rancho junto à família.

No primeiro jogo (2010), John Marston pensava estar tudo em paz. Mas possui esposa e filho raptados pelo Governo americano em troca de que cace o remanescente da antiga gangue, incluindo o chefe Dutch van der Linde. Não há mais lugar para foras da lei, para banditismo no oeste, e pessoas assim precisam ser exterminadas. Mal sabiam os pistoleiros do velho oeste americano (ou nossos cruéis cangaceiros nordestinos) que, no futuro, governo algum toparia peitar o crime organizado de frente. Mas isso é outra história...

Conquanto seja "antigo", RDR passou por otimização para XBox One e, confesso, fiquei surpreso com a qualidade gráfica das paisagens e a iluminação. Além disso, novamente, me deparei com uma história humana carregada de ressonância emocional. Consegui me sentir naquele mundo árido, onde homens fortes mantiveram suas convicções até o final. Os tempos eram duros e geravam homens fortes. Hoje, somos frouxos que se trancam no armário quando ouvimos fogos de artifício e os confundimos com tiros na noite. Agradeço sempre por ter crescido entre homens embrutecidos, fortes e inteligentes, honrados mesmo quando deram o seu pior tentando fazer o seu melhor (parafraseando a canção See The Fire In Your Eyes). Meus avô, pai e tio, dentre outros. A maioria falecida, premiada com boas mortes. No meio do esterco, às vezes brotam boas coisas. Com minha família, isto também foi possível.

O final de John Marston (RDR) é trágico como o de Arthur Morgan (RDR II). Mas creio que ele o previra à certa altura da trama. Toda a gangue precisava morrer. Inclusive ele. De certa forma, encarou seu destino sem medo e aceitou a morte para salvar a própria família. Além disso, creio, sabia que, para sua redenção plena, precisaria verter o próprio sangue. Durante a história, ele se encontra três vezes com o Strange Man (anjo, demônio, nêmesis?), o qual o ajuda a tentar compreender a dimensão de seus pecados e o preço para reparação.

Durante a campanha, vários momentos são memoráveis. A trilha sonora, no embalo, é belíssima, tanto no primeiro jogo quanto na sua prequela. Destaco as seguintes composições: See The Fire In Your EyesUnshakenThat's The Way It IsDeadman's GunCompassFar Away. Na verdade, ambas trilhas são excelentes por completo. Apenas destaquei algumas canções.

Por fim, deixo vocês com o momento onde John Marston consegue, finalmente, reencontrar seu antigo líder Dutch van der Linde para o embate "quase" final. Penso que são certeiras as palavras do velho (e insano) bandido. Nada do que ele disse parece inverdade no contexto da trama. E, creio, naquele momento, John percebeu que também estaria próximo do fim, que ele mesmo também deveria morrer. Dutch estava mais louco do que nunca. Entocou-se numa região inóspita, quase inacessível, junto a "selvagens". Na verdade, em relação ao primeiro jogo (a prequela), percebemos que Dutch assumiu sua natureza selvagem.

Em tempos de covardia generalizada, onde o bundamolismo nacional atingiu nível épico, Red Dead Redemption é não apenas um ótimo jogo para entreter. É, ainda, uma bela história humana sobre algo vago, diáfano e esquecido chamado pelos antigos de "honradez". Também é uma história sobre como o Estado e seus agentes são cretinos, tolhendo qualquer forma de evolução individual e procurando maneiras criativas de botar no teu cu.

Em sua jornada para prender ou executar membros da gangue, Marston se depara com todo tipo de gente, de canibais (missão sinistra American Appetites) a racistas e intolerantes religiosos. Em vários momentos, ainda precisa livrar as quenguinhas dos bregas (saloons) de apanharem dos bêbados. E, como sempre, encontra carnificina por onde passa: homens esfolados em seus ranchos e mulheres violentadas. No México, tocado pelo sofrimento do populacho ante à ditadura militar, apoia a causa do jovem líder poeta e revolucionário - igualmente cretino que só trará mais sofrimentos. Como dizia meu avô: "trocou seis por meia dúzia", à custa de sangue. No final, só quer retornar para seu racho, tocar gado, pescar, capturar cavalos selvagens para domar e vender e, assim, cuidar de seu pequeno país, cujas fronteiras são cercas de madeira.

O segundo disco contém a DLC (arquivos extras) RDR Undead Nightmare, onde empreendemos nova campanha por todo o mapa, mas agora para massacrar zumbis e encontrar a cura para este mal que assola o planeta. Ao menos, se não todo o globo, assola as terras de New Austin e México (v. mapa abaixo). Foi uma empreitada divertida mas, em certos momentos, frustrante devido à grande quantidade de bugs nesta DLC. Quase não concluí a missão Mother Superior Blues devido aos personagens sem cabeça que surgiam. Ainda não compreendo como um relançamento, após tanto tempo, possui tantas falhas. Ainda mais vindo da poderosa Rockstar Games.

Fica a sugestão para novatos nos games ou até mesmo para veteranos que nunca jogaram esta belíssima obra (o que, creio, deve ser raro ocorrer). Não sou a pessoas mais indicada para escrever sobre games, pois esta nova geração é algo novíssimo para mim. Contudo, escrevo sob o olhar de um jogador casual e neófito.

Quem sabe qualquer dia eu tente jogar, por algum meio, Red Dead Revolver (2004), onde toda a ideia da franquia surgiu e as bases foram lançadas. Embora seja considerado um antecessor espiritual da franquia, percebi que, na verdade, integra o mesmo mundo, pois elementos seus foram citados nos games de 2010 e 2018.

Abraços melindrosos e até a próxima.







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