Conversa de Cinema: EXCALIBUR (1981)

Escrito por: Ney Bellas

Publicado originalmente AQUI.


"Excalibur" está longe de ser perfeito e fiel à "verdadeira história" que circunda o mito do Rei Arthur, mas é inegável seu mérito em conseguir capturar o “básico” dos elementos mais conhecidos da lenda de Arthur, o rei mítico que unificou a todos e salvou a Grã Bretanha.
Sendo Excalibur provavelmente a espada mais famosa da história da literatura, junto ao lendário rei Arthur e ao cálice sagrado, inspiração para centenas de histórias nas mais diversas mídias. E, como o nome sugere, a trama não foca exclusivamente em Arthur ou algum de seus cavaleiros, mas na espada, de modo que sua influência permeia todo o longa metragem.
Ao longo da aventura encontramos todas as principais e mais conhecidas etapas da história do Rei Arthur: o ardil (com a ajuda de Merlin) do Rei Uther para se deitar com Igraine e gerar o bebe Arthur ; a gloriosa retirada da Excalibur da pedra por Arthur o comprovando como verdadeiro Rei da Grã Bretanha; a construção de Camelot e da távola redonda; o amor proibido entre Lancelot e Guinevere; o plano incestuoso de Morgana e a derrocada de Arthur; está tudo aqui presente, os momentos chaves da história sendo restituídos tal e qual possa ser imaginado em toda sua glória fantasiosa e mítica.
Excalibur é um filme que coloca em imagens tudo aquilo que o espectador sempre ouviu falar sobre as lendas do Rei Arthur, sua espada mágica e seus nobres cavaleiros. 
Outro mérito desta obra é que surpreendentemente conseguimos conhecer a maioria dos personagens à volta do heróico Rei: como o cavaleiro Gawain (Liam Neeson) que vemos ser manipulado inicialmente por Morgana, mas no final se mostra devoto e leal à Arthur; a paixão cega de Guinevere (Cherie Lunghi) por Lancelot (Nicholas Clay) um dos mais honrados cavaleiros, mas que luta com suas impossíveis emoções de forma dolorosa; a inveja mortal de Morgana (Helen Mirren) para com tudo do reino de Arthur; o jovem Percival (Paul Geoffrey) que começa como um jovem rapaz sonhando em ser cavaleiro que perambula pelo Castelo e no final se mostra ser talvez o maior herói do filme ao ser o único sobrevivente da busca pelo santo Graal! E nesse estranho e lindo elenco ainda encontramos caras conhecidas como: Gabriel Byrne (Os Suspeitos; Ajuste Final) e Sir Patrick Stewart (Capitão Jean Luc Piccard, Professor Xavier), ambos muito bem também!
Outra curiosidade, são as vestimentas que trazem muitos adereços cromados e brilhantes, que refletem feixes de luz e trazem os próprios reflexos dos personagens. Auxiliados por um filtro embaçado que cobre boa parte do filme, criam um tom onírico perfeito para a proposta do filme, mas que quando quebrados pelas cenas mais violentas e sangrentas dos combates, conseguem criar uma impactante dureza visual nos arrastando do reino de fantasia para a suja realidade. Ainda quanto ao uso de filtros de luz, destaca-se o uso de uma luz verde que traz uma aura mágica para as cenas em que Merlim esta presente. Quando enfim o mago desaparece, tal recurso é reduzido, como se sua ausência deixasse o mundo sem cor.
Excalibur não é um épico de enormes proporções como Ben-Hur ou Spartacus, mas é uma perfeita adaptação de um conto de aventura e fantasia. Uma obra atemporal, imperdível e diferente que certamente merece ser conferida.



SINOPSE: O mago Merlin (Nicol Williamson) dá ao rei Uther Pendragon (Gabriel Byrne) a mística Excalibur, a espada do poder. Durante uma emboscada Uther é ferido mortalmente e, pouco antes de morrer, enterra a espada em uma pedra. Fica então decidido que o cavaleiro que puder retirá-la da pedra será o novo rei, mas ninguém consegue. Anos depois o país estava divido em guerra entre os senhores feudais e Arthur (Nigel Terry), um jovem escudeiro, retira facilmente a espada da pedra. Alguns nobres juram fidelidade ao novo rei e Merlin relata que Arthur é um filho bastardo de Uther, mas alguns nobres não aceitam sua autoridade. No entanto o tempo faz todos se curvarem ao sábio rei, mas o tempo vai mostrar que o fator de desagregação do reino está na atração que Lancelot (Nicholas Clay), o campeão do rei, sente por Guinevere (Cherie Lunghi), a rainha. E, somando-se a isto, Morgana (Helen Mirren), a meia-irmã de Arthur, decide que Mordred (Robert Addie), o filho que ela teve com Arthur, deve ocupar o trono.

FICHA TÉCNICA

Excalibur (Orion Pictures 1981)
Origem: EUA/Reino Unido
Gênero: Fantasia, Drama, Aventura, Medieval
Direção/produção: John Boorman
Roteiro: Rospo Pallenberg, John Boorman (baseado em adaptação de Rospo Pallenberg da obra de Thomas Malory)
Elenco: Nigel Terry, Helen Mirren, Nicholas Clay, Cherie Lunghi, Paul Geoffrey, Nicol Williamson, Corin Redgrave, Robert Addie, Gabriel Byrne, Niall O’Brien, Liam Neeson
Duração: 140 min.

BÔNUS: Filme Completo Dublado - EXCALIBUR (1981)



Foi John Boorman quem realizou em 1981 esta história do Rei Artur e da sua espada "Excalibur" , segundo uma adaptação do livro de Sir Thomas Malory, de 1485, "Le Morte d´Arthur". Criou um filme de imagens poderosas e suntuosas, sempre acompanhado de uma magnífica trilha sonora, que acentua a sua qualidade artística, onde as batalhas se travam ao som de excertos da "Carmina Burana" de Carl Orff, como "O Fortuna", ou quando Lancelot vai buscar Guinevere, toca o "Prelúdio de Tristão e Isolda" e trechos dessa ópera de Richard Wagner são tocados na cena do encontro amoroso. Além disso, tocam mais dois trechos de óperas de Wagner: o "Prelúdio de Parsifal" e o "Funeral de Siegfried". 
Do elenco desta produção conjunta dos Estados Unidos/Inglaterra constam conhecidos atores, vários no seu início de carreira; Nigel Terry: Rei Artur, Helen Mirren: Morgana, Nicol Williamson: Merlin, o Mago, Gabriel Byrne: Uther Pendragon, Patrick Stewart: Leondegrance e Liam Neeson: Gauvain. 

O filme tem 142 minutos de duração, numa encenação dos mitos fundadores da cultura ocidental, através do ciclo das lendas arturianas, desenvolvido na oposição entre a luz do sagrado e a infelicidade profana. Cada personagem é construído como a representação das qualidades do homem: a Sabedoria e simpatia encarnadas em Merlin, a Nobreza, símbolo da Amizade, que é Lancelot, essa constante necessidade em manter a Paz e a Justiça, que é Artur, ou essa Juventude inocente com ânsia de aventura e auto-superação que é Percival. Mas também é assumida a aceitação das suas debilidades, como a traição que, apesar de tudo, são superadas e redimidas através da Fidelidade e da Nobreza do arrependimento. Por outro lado aparece a religião, sem credos, sem dogmas, que só é acessível através da comunhão com a Natureza e, sobretudo, com a Sabedoria que cada herói transporta em si e que deve conquistar. Esta Sabedoria mítica é representada pelo mundo mágico de Merlin, que instrui ao homem para que, afinal, quando o momento chegar, fique só e saiba ser um verdadeiro Rei. “Uma Terra, um Rei…”, este é o Segredo do Graal: o homem consciente da sua natureza e do seu lugar no mundo, da sua Sabedoria. O esquecimento destas palavras provocou a decadência, a pobreza da terra, as enfermidades e a fome das gentes. Somente através do seu despojamento do mundo material, com a sua Esperança, com a sua Fé, o Homem, simbolizado na figura de Percival, alcança a sua Sabedoria perdida. E a obscuridade dissipa-se. A estética encenada do filme, porque se trata de uma encenação de arquétipos do mundo e não de retratos psicológicos, e que caracteriza o ambiente sobrenatural que Excalibur requer, também acompanha e reforça a passagem das etapas deste ciclo: os tons sombrios dos rostos e dos ambientes passam a iluminar-se com a posse do Graal e o renascimento da esperança, veremos em primeiro plano as flores das cerejeiras abrirem-se num instante, e uma chuva de pétalas cair sobre Artur e os Cavaleiros armados quando rumam à batalha final, num dos mais belos momentos do filme. Na derradeira batalha o Inimigo, simbolizado em Mordred, é derrotado. Desta forma fecha-se um ciclo na Humanidade: a Espada Excalibur volta ao lago, e Artur viaja à Ilha da Imortalidade/Eternidade, ao som da “Marcha Fúnebre de Siegfried” de Wagner. Estas foram as suas derradeiras palavras: “Um dia chegará um Rei e a Espada ressurgirá das Águas”. Eternamente repete-se o Mito, eternamente volta o Rei Artur e o Mago Merlin, assim como Morgana, Lancelot, Percival, Guinevere, que representam todos nós na nossa mística/mítica caminhada. 
(incluí neste texto fragmentos de um artigo de Francesc Sánchez-Bas).

Texto: Francisco Cameirão‎ 

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