Os 11 melhores papéis de Jim Carrey


Escrito por: Rocket, Sweet Rabbit

Desde que iniciou sua carreira cinematográfica, no início dos anos 80, Jim Carrey passou por uma série de papéis que o levaram ao estrelato e o consolidaram como um dos grandes nomes de Hollywood, chegando a integrar a lista dos atores mais bem pagos do cinema internacional. Tendo estreado no filme Rubberface, lançado em 1981 e que conta a história de dois comediantes em busca do sucesso profissional, foi apenas em 1994 que o ator estourou e passou a ser visto como uma das revelações e surpresas do gênero da comédia, protagonizando três de seus maiores sucessos: Ace Ventura, O Máscara e Débi & Lóide. Poucos anos depois, Jim passou a se arriscar em papéis mais intensos e sérios, algo que inicialmente parecia não combinar com seu estilo debochado e carismático, mas que contrariou todos os pré-conceitos possíveis e deixou evidente toda a sua versatilidade. Embora nos tempos atuais o ator não tenha se envolvido em grandes produções com a mesma frequência de seus dias de glória, seja por escolhas ou acontecimentos da sua vida pessoal, ele continua trabalhando e alternando entre papéis cômicos e dramáticos, tendo sua próxima aparição agendada para 2020, no já polêmico filme do Sonic, no qual dará vida ao Dr. Eggman, principal antagonista do personagem.


É importante ressaltar que esse não é um ranking de melhores filmes do ator, já que no geral filmes não são carregados ou definidos por apenas um personagem/intérprete. É possível encontrar um excelente personagem num filme não tão bom, ou até ruim, ao mesmo tempo em que é possível encontrar um péssimo personagem num filme bom, ou até excelente. O objetivo aqui é registrar os grandes destaques de Jim, frutos de seu talento e entrega na atuação combinados com as boas oportunidades que recebeu em sua carreira. A sequência da lista foi montada de acordo com a ordem de lançamento dos trabalhos do ator.

Texto originalmente escrito por Rocket e publicado no blog Random Raccoon

1 - Ace Ventura
Filmes: Ace Ventura: Um Detetive Diferente (1994) e Ace Ventura: Um Maluco na África (1995)


O que acontece quando você pega um comediante expressivo, elástico e autêntico e o dá liberdade criativa pra atuar como preferir? Um imbecil de primeira categoria. Ace Ventura é um detetive especializado em desvendar crimes envolvendo animais, e o desaparecimento de um golfinho torna-se seu primeiro grande caso. Aqui Jim Carrey mostrava uma energia invejável, e inalcançável, dependendo do ponto de vista. Seus exageros expressivos, vocais e corporais foram os principais responsáveis pelo sucesso quase imediato do filme. O ator se entregava à palhaçada, fazendo referências a personagens clássicos, debochando de personalidades conhecidas e usando todo o núcleo coadjuvante como ferramenta pra explorar, sem limites, a comicidade. A sequência era como um modo turbo de seu antecessor: mais piadas, mais idiotices e mais absurdos. A cena em que Ace sai dos "genitais" de um rinoceronte mecânico, satirizando o nascimento de um filhote, é icônica até os dias atuais.

2 - Lloyd Christmas
Filmes: Débi & Loide (1994) e Débi & Loide 2 (2014)


E se pegarmos o imbecil de primeira categoria e adicionarmos uma dose de inocência e ingenuidade, misturadas com um parceiro igualmente idiota? Temos uma dupla de imbecis de primeira categoria! O objetivo aqui era simples: colocar dois palhaços pra fazerem palhaçadas e passarem por situações incomuns. A caracterização de Lloyd com seu cabelo tigelinha, dentes quebrados e roupas largas somada à excelente química entre Jim Carrey e Jeff Daniels resultaram em uma das melhores comédias pastelonas já existentes. A sequência veio 20 anos depois, naturalmente sem o mesmo fôlego do primeiro filme, mas que funciona de forma satisfatória como continuidade e homenagem aos personagens responsáveis por alavancar a carreira da dupla. O tempo passou e eles continuaram os mesmos idiotas! Como esquecer do barulho mais irritante do mundo? Humor retardado em seu ápice.

3 - Ernie 'Chip' Douglas
Filme: O Pentelho (1996)


Talvez a atuação mais subestimada de Jim Carrey. Nessa comédia satírica recheada de humor negro, Jim faz jus ao título brasileiro do filme: um completo pentelho. Seu personagem, o "cara da TV à cabo" sofre de carência afetiva e conquistar a amizade de um de seus clientes torna-se uma questão de honra. Ele desenvolve uma obsessão pelo colega pelo simples fato de ter recebido uma atenção que nunca teve. Nas palavras do próprio, ele pode ser "seu melhor amigo ou o seu pior inimigo", e a escolha depende de você. O ator fez uma leve mudança em seu sotaque, seu olhar tem um tom ameaçador e o fato do personagem ter a língua presa torna tudo mais engraçado. Sendo socialmente rejeitado por conta de sua personalidade invasiva, desiquilibrada e sem um pingo de desconfiômetro, Chip se torna uma espécie de vilão cômico e maluco. Tendo participações de Owen Wilson, Jack Black e Ben Stiller (que também foi responsável pela direção), é provável que esse seja o filme mais 8/80 da lista.

4 - Truman Burbank
Filme: O Show de Truman (1998)


Desde que nasceu, Truman teve sua vida filmada e transmitida ao-vivo pela televisão, como uma espécie de reality show, 24 horas por dia. Tudo em sua volta é falso: sua família? Atores. Seus vizinhos? Atores. Seus amigos, companheiros de trabalho e comerciantes que formam a população? Atores. O mundo em sua volta? O maior estúdio cinematográfico do planeta. Ele sabe de alguma dessas coisas? Não faz ideia. Segundo o criador do reality, nós "aceitamos a realidade do mundo tal qual ela nos é apresentada". Aqui a atuação de Jim é delicada e desperta empatia do público logo nos primeiros minutos. Seu personagem é inocente, alegre, puro, e torcemos o tempo todo para que ele descubra a verdade e deixe de ser como um produto comercializado. O humor está lá, mas de maneira dosada e bem encaixada. Aos poucos, Truman vai percebendo que faz parte de uma completa encenação e precisa lutar contra seus medos pra escapar de uma falsa realidade. Um filme cheio de simbolismos e que nos traz sérias reflexões sobre a vida. E se por acaso não nos virmos, bom dia, boa tarde e boa noite.

5 - Andy Kaufman/Tony Clifton
Filme: O Mundo de Andy (1999)


Quão intensa deve ser a entrega de um intérprete ao seu personagem? Há um limite saudável? A pressão é ainda maior quando o personagem é na verdade uma pessoa real. Andy Kaufman foi um artista que revolucionou o gênero da comédia nos anos 70 com seus shows peculiares, por vezes até irritando ou desafiando seus espectadores. Uma das performances mais dedicadas de Jim Carrey, que admite ter incorporado o artista de forma excessiva, e que tal período o marca até os dias atuais. Ele assumiu o papel dentro e fora do set, falando e gesticulando como Kaufman, não respondendo quando chamado pelo seu nome real e infernizando a vida dos companheiros de trabalho. Há cenas em que o ator reproduz fielmente shows e números do artista, sendo possível encontrar vídeos comparativos no YouTube. Recentemente, a Netflix lançou um documentário chamado "Jim & Andy" que retrata o período de gravação do filme e as peripécias aprontadas por Carrey nos bastidores. Vê-lo em O Mundo de Andy era como assistir a dois comediantes num mesmo corpo: Andy Kaufman estava lá, misturado com a natural esquisitice expressiva de Jim, e embora o filme retrate a vida e trajetória de um comediante, são os momentos dramáticos e inusitados que roubam a cena.

6 - Charlie Baileygates/Hank Evans
Filme: Eu, Eu Mesmo e Irene (2000)


Se Jim Carrey interpretando um personagem já é bom, imagina se dessem dois personagens em um só pro cara trabalhar? Charlie é um policial rodoviário trabalhador, educado, prestativo e pai de três filhos. Tem uma baixíssima auto-estima e nula capacidade de reagir aos insultos de outras pessoas, e as constantes humilhações passadas o levam a desenvolver uma nova personalidade, Hank: um boca suja, inconveniente, sem escrúpulos, que reage à todo tipo de ofensa de forma verbal e até física. Essa dualidade foi muito bem representada pelo ator: com os medicamentos, Charlie é uma doçura de pessoa, sendo incapaz de causar mal à uma formiga. Sem os remédios, Hank assume a liderança e exala a falta de bom senso e a postura de ogro. Algo como o médico e o monstro. Por mais que o filme seja guiado por uma sequência desenfreada de comicidade com uma pitada de romance, uma mensagem interessante é passada: não devemos aceitar tudo que nos é imposto sem se manifestar. Isso não é saudável.

7 - Joel Barish
Filme: Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças (2003)


Os opostos se atraem ou destroem? Um homem recluso e introvertido se envolve com uma mulher impulsiva e extrovertida. Tempos depois, Joel Barish descobre que sua namorada, Clementine, escolheu passar por um processo que o apagasse definitivamente de sua memória, sem aviso prévio, sem adeus, e com uma carta solicitando que seu relacionamento nunca mais fosse mencionado. Desolado com a atitude da companheira, ele procura a empresa responsável pelo procedimento para realizar o mesmo e se livrar da sensação de abandono. Boa parte do filme acontece na mente do personagem e o vemos revivendo suas lembranças, se arrependendo da sua decisão e lutando para manter a memória de Clementine viva. Aqui Jim Carrey mostrava mais uma de suas facetas, dando vida à um personagem tímido, inseguro e que passa por uma delicada situação amorosa, contrastando com suas interpretações anteriores e enriquecendo ainda mais seu currículo. O trecho em que Joel chora no carro enquanto ouve a declaração de sua parceira acaba com o bom humor de qualquer um.

8 - Walter Sparrow/Det. Fingerling
Filme: O Número 23 (2007)


Um pai de família simplório que leva a vida como apanhador de animais. No dia de seu aniversário, ganha da esposa um livro chamado "O Número 23", e é a partir daí que sua vida entra em declínio. Ele passa a desenvolver uma obsessão pelo número, além de identificar semelhanças entre vários elementos do livro e a sua vida. Ele vê o número 23 em todo lugar, toda frase, todo nome, endereço. Onde quer que vá, o número o acompanha. Como o livro termina em tragédia, teme ter o mesmo destino do protagonista: tornar-se um assassino. Passa a desconfiar da esposa, do filho e de tudo em sua volta. Começa a notar a presença do número em seu passado, presente, e indiretamente alimenta cada vez mais sua paranoia. Tenta descobrir à todo custo quem escreveu o livro, buscando esclarecimento e confirmação de que aqueles fatos tem ou não relação com a sua vida. Aqui Jim Carrey se arriscava num suspense sombrio, dando vida ao leitor do livro (Walter) e ao autor (Det. Fingerling), e representa com excelência um personagem sucumbindo à loucura e perdendo sua sanidade.

9 - Steven Jay Russell
Filme: O Golpista do Ano (2009)


O filme retrata a história verídica de um ex-oficial de polícia que ficou famoso por fugir de uma prisão do Texas diversas vezes. Graças à sua lábia e talento em forjar identidades e persuadir pessoas, tinha uma vida de luxos e privilégios na prisão. Foi nela que conheceu Phillip Morris, seu grande amor, que o motivaria a escapar e fazer de tudo para proporcioná-lo as melhores condições de vida. A primeira vez que Jim Carrey encarnou um homossexual. Sua química com Ewan McGregor é bonita e as cenas românticas envolvendo os dois, embora curtas, são muito bem executadas. Fazendo uma equilibrada mescla entre drama e comédia, a obra é como um retrato do quão longe podemos ir em nome do amor. Steven manipula tudo e todos ao seu redor, priorizando suas vontades e objetivos, e a única coisa que consegue ficar acima disso é o amor que sente por Philip. Os trejeitos naturais e escandalosos de Jim aqui estão mais contidos, sua fala é calma, didática, e seu olhar misturado com a prótese que usou para aumentar suas entradas capilares deram um ar até então desconhecido ao ator. Como o próprio personagem explica no filme, na prisão tudo se resolvia através de dinheiro ou boquetes.

10 - Tadek
Filme: Crimes Obscuros (2016)


Um detetive calejado que, devido aos erros cometidos no passado, deseja encontrar redenção profissional antes de entregar o distintivo e abraçar a aposentadoria. Tadek passa a investigar um assassinato que envolve o submundo de festas de orgias e sadomasoquismo. No processo, percebe semelhanças entre a morte da vítima e detalhes descritos no livro de um autor polonês, e passa a investigá-lo, o considerando o principal suspeito. A falta de certezas e provas concretas o tornam cada vez mais obcecado pelo caso, o afastando de sua família e sanidade mental. Tadek quebra o estereótipo de detetive inteligente: no fim das contas, ele é burro, e suas atitudes mais atrapalham do que solucionam o caso. Aqui Carey substitui sua elasticidade e expressividade por trejeitos e expressões frias. Se move pouco, fala pouco, seu olhar é vazio. A caracterização física (cabelo raspado, barba cheia) somadas ao sotaque modelado pelo ator o desassociam de sua conhecida imagem de brincalhão. Embora o filme não seja tão satisfatório quanto o personagem, há bons momentos e diálogos específicos, principalmente os que envolvem o ator ao lado da atriz Charlotte Gainsbourg.

11 - Jeff/Mr. Pickles
Série: Kidding (2018)


Um homem gentil vivendo em um mundo cruel. Em seu trabalho mais recente até então, Jim Carrey dá vida à um apresentador de TV infantil que se vê obrigado à ser a alegria de alguns enquanto lida com os problemas pessoais de uma vida adulta. Jeff, também conhecido como seu personagem, Mr. Pickles, está separado da esposa após a morte de um dos filhos gêmeos do casal em um acidente de carro. Embora seja um milionário, interpretando seu personagem televisivo há mais de duas décadas, vive em uma casa minúscula e tenta reconquistar o amor de sua companheira e seu filho, enquanto lida com o fato de ser admirado por inúmeras crianças e adultas ao redor do mundo. Mesmo com tudo o que aconteceu, Jeff faz o possível para não perder a positividade e a calma. Ele percebe que, em sua realidade televisiva, a tristeza não é uma opção. Os problemas sofridos pelo personagem afetam seu comportamento e aos poucos, tanto Jeff quanto Mr. Pickles vão desmoronando, e sua crise avança em uma velocidade maior do que ele é capaz de absorver. Isso é brilhantemente transmitido por uma versão inspiradíssima de Jim Carrey. A melancólica série foi renovada para uma segunda temporada, que ainda não tem previsão de estreia.

Jim Carrey se provou um artista autêntico e inovador, que busca sair da zona de conforto e se arriscar em áreas que muitos duvidam que ele seja capaz de atuar. Podia ter se dedicado aos shows de stand-up, aos filmes de comédia besteirol e sobreviver de sucessos de 20 anos atrás, como muitos escolheram fazer, mas não, buscou estar em constante evolução artística e pessoal. Como todos nós, passou por problemas pessoais e profissionais. Recebeu críticas, acusações, foi alvo de fofocas, notícias equivocadas, e nem por isso deixou de ser o que sempre foi: um ser humano carismático, cativante e inspirador. Seja na comédia, no drama ou no suspense, seja carregando filmes nas costas ou atuando como a cereja do bolo, é um artista que fez e continua fazendo nome e vai permanecer como referência por boas décadas. É isso que a vida tem de melhor!

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