Cavaleiro Que Não Sabe Bem Cavalgar Condenado A Quedante Ser



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A Primeira Risada É Sempre A Mais Deliciosamente Caótica









Inomináveis Saudações a todos vós, realistas leitores.



Eu Não Acredito Em Um Harvey Dent. No filme, o ator Aaron Eckhart teve um magnífico desempenho como o 100% honesto, 100% eficiente e 100% soberano em suas convicções, Harvey Dent. Até o momento em que perde a sua amada Rachel, ele é O Cavaleiro Branco De Gotham City, um Ser no qual depositadas todas as esperanças de paz, justiça e sobriedade das mais honestas nas mãos de uma caridade foram pela população. Bruce Wayne nele viu um substituto à altura, e, até, acima, do simbolismo do Batman; acima, já que, diferentemente do Batman, Harvey Dent agia dentro da Lei, dentro do que os Estados do mundo qualificam como a regra de todo verdadeiro defensor da ordem social. Tão nobre homem, confiante, forte e decidido em ser o paladino maior de uma cidade corrupta e violenta, foi o escolhido pelo Coringa em sua caótica saga para provar que alguém como ele poderia corromper alguém tão limpo em ideais e identificação com o combate ao crime. Harvey Dent caiu porque se concedeu desacreditar em tudo que defendia e o Coringa não foi o culpado direto por tal queda; tanto quanto o Caos que ele provocou em Gotham City apenas fazendo crescer visivelmente o Caos que já havia na cidade foi efetivado, o mesmo foi feito com Dent. Foi exposto exteriormente o Duas-Caras, O Monstro Interno, A Criatura Deteriorada, que Dent possuía abaixo da capa de bom homem, de bom cidadão, de promotor honesto, de combatente ferrenho dos crimes de Gotham. O Duas-Caras é o próprio Agente Do Caos de Dent, uma anomalia, uma degenerescência inata, algo que não pode ser negado, algo que é negado por nós na maioria das vezes, já que monstros piores do que aquele temos em nós. A Queda De Harvey Dent foi sutil durante todo o filme, mas surpreendeu da maneira como foi desenvolvida pelo diretor Nolan, provocando uma lenta degradação de acontecimentos que se concentraram na produção completa de dita Queda. Há alguma lição moral aprendida com A Queda De Harvey Dent? Não há, o filme não tem como base a exaltação de lições morais, o filme nos apresenta a seres humanos imperfeitos como todos nós aqui neste mundo de totais imperfeições morais, pois não há um Ser 100% honesto, 100% eficiente e 100% soberano em suas convicções. Portanto, um Harvey Dent, neste nosso mundo que é o mesmo mundo do filme, é impossível; foi essa a impossibilidade retratada e desenvolvida pelo roteiro, pondo ao nosso dispor as peças para montarmos o grande jogo sem truques e mascaramentos da trajetória descensória de um homem.




Monto um esquema, a seguir, dos fatores da impossibilidade de um Harvey Dent neste nosso mundo que é o mesmo mundo do filme:


1º – O elemento externo da Corrupção generalizada, impondo uma restrição total ao agir mais honesto.

2º – A Corrupção agindo de modo direto e ameaçando o próprio atuar livre do Ser que se encarrega da conduta honesta de combate ao crime.

3º – Os agentes condenatórios corruptos dentro da própria Promotoria, agindo para a derrocada do que se instituiria como o mais honesto dentre todos.

4º – A ação própria de se ver como um “grande paladino da justiça”, uma ação que esconde a vaidade mais latente abaixo da capa de bom mocismo excessivo.

5º – Da ação vaidosa, o perigo seria em queimar-se diante da opinião pública, que passaria a cobrar a absoluta falta de defeitos na ação decisiva de combate aos problemas advindos da excessiva violência.

6º – A violenta organização de inimigos vários tencionando levar para a cova dito Ser que se encarregaria de tal cruzada messiânica, por assim dizer, acarretando para si mesmo responsabilidades que não poderia cumprir em sua totalidade.

7º – A perda da liberdade de transitar livremente pela cidade seria um preço altíssimo a ser pago, mesmo que se diga que o prazer de realizar a cruzada contra o crime seja um formidável prazer alcançável a cada aprisionamento de um criminoso.

8º – A obsessão em querer ser mais perfeito ainda a cada sucesso, que podem ser iniciais e bem-sucedidos, mas futuramente símbolos de uma decadência que seria objetivamente moldada pelas forças corruptas em prol da continuidade do lado sujo das coisas políticas-econômicas da cidade.

9º – O desinteresse da população com o passar do tempo, já que ser uma celebridade eterna no terreno do combate ao crime representa ter apenas quinze minutos de fama e, em casos raros, alguns podem se tornar parte da História; uma minoria, infelizmente, consegue se tornar historicamente importante, já que grande parte dos homens e das mulheres como Harvey Dent não recebem a consideração total pelo seu trabalho da parte da população.

10º – A crueldade da população caso um erro seja cometido, pondo em xeque a credibilidade da ação dura de combate ao crime, ocasionando até mesmo uma ruptura com aliados importantes e elevando as possibilidades de uma bala atingir a testa de um “paladino perfeito” como Harvey Dent.

11º – O esquecimento da população, caso o correr dos acontecimentos anteriormente citados aqui neste rol de meditações acerca da impossibilidade de um Harvey Dent neste nosso mundo que é o mesmo mundo do filme, levando dito Ser ao desespero e à solidão total.

12º – O abandono, o dever devorado, os ideais extintos, pois o mundo não preserva os seus verdadeiros heróis, tão ou mais vaidosos do que Harvey Dent ou nada vaidosos como o próprio Harvey Dent, aqui indo duas possibilidades de visualizarmos o mesmo personagem.

Um cavaleiro quedante de qualquer cavalo de batalha seria um Harvey Dent em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Brasília, em Londres, em Moscou, em Tóquio, em Pequim, em toda grande cidade mundial na qual predomina a corrupção, mesmo que quase silenciosa e, na maioria das vezes escandalosa. Um cavaleiro quedante de muitas armas e de poucas chances de ter um verdadeiro sucesso contra todos os seus inimigos, pois notamos como é crescente, e, infelizmente, grandioso, o poder corrompedor proporcionado pelos que querem manter e perpetuar o seu poder através de cargos políticos movidos pelo puro combustível do capital. Um cavaleiro quedante que, como o Harvey Dent do filme, se veria engolfado em lamas várias e teria a visão de, talvez, estar sendo apenas utilizados pelos organizadores de um Sistema instituído para a grandiosidade existencial de poucos, pertencentes a uma elite política-econômica-social. Um cavaleiro quedante, solitário, alvo, talvez, de em um dia ser elevado às alturas e em outro dia ser depositado no poço do abismo do descaso, do desamparo, da derrota, do abandono. Um cavaleiro quedante de passos quebradiços, aos homens e mulheres que se inspirarem em Harvey Dent, O Cavaleiro Branco e não o Duas-Caras, afirmo que a empreitada deve ser bem diferente, aceitadas todas as limitações das quais nenhum ser humano pode escapar. Aceitando-se todas as limitações, saltando do cavalo de batalhas, uma obra de combate ao crime pode ser mais sólida, sem os sonhos de grandeza, sonhos íntimos que vemos nos olhos de Harvey Dent, O Cavaleiro Branco e não o Duas Caras, antes de sua Queda. O Batman deu certo porque aceitou todas as suas limitações; Harvey Dent Caiu porque não se atentou a todas as suas limitações.

Seguindo a linha de raciocínio, paremos na observação do que mais seria eficientemente responsável pela Queda de um impossível Harvey Dent em qualquer cidade do mundo tão parecida com a Gotham City de O Cavaleiro Das Trevas. A Promotoria depende de alianças com as forças de segurança e estas devem estar dispostas a serem tão honestas quanto um promotor como aquele. No entanto, o filme mostra uma Polícia corrompida, idêntica a de nosso mundo, capaz de matar crianças “por engano”, de matar imigrantes ilegais nos Estados Unidos, de achacar moradores de favelas, de traficar, de participar de milícias... Enfim, uma Polícia que seria a primeira a abandonar um Harvey Dent, mesmo que pensemos neste como possível em qualquer cidade de nosso mundo que é o mesmo mundo do filme, deixando-o à mercê de qualquer bandidinho pé-de-chinelo que queira eliminá-lo. Uma parcela da Polícia, já que podemos concordar que haja policiais como James Gordon em cidades tão corruptas como Gotham City, São Paulo ou Rio de Janeiro. Um possível James Gordon é o que veremos no post a seguir.


Saudações Inomináveis a todos vós,  realistas leitores.





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Inomináveis Saudações, leitoras & leitores virtuais! 

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