Review | Beyond Two Souls



<Texto da Tag “Escritor Convidado”, escrito por: RiptorBR>

Em qualquer indústria que você esteja,haverão aqueles nomes que conseguiram destaque. Mas não estou falando de um mero destaque: estou me referindo a aqueles nomes que conseguem uma fama tamanha,que só de terem seus nomes envolvidos em algum projeto,já fazem muitos ficaram empolgados, hypados. Isso pode ser tanto ótimo,como também um motor de frustração (porque se esse alguém não cumpre essas expectativas), as pessoas não vão esquecer.


É o tipo de coisa que você que está lendo isso já deve saber muito bem. Mas tive de dizer mesmo assim,pois David Cage (o grande cabeça da Quantic Dream) é aquele exemplo de cara que,só de por a mão em qualquer projeto,já atrai a atenção só pelo seu nome estar ali,e pelo nome do estúdio estar ali. E não é pra menos: Fahrenheidt: Indigo Prophecy (no PS2) e principalmente Heavy Rain (no PS3) são um daqueles jogos que podem ser considerados ícones quando falanos de uma experiência cinematográfica em jogos,onde foram aclamados tanto por crítica,quanto pelo público. E com isso,no momento em que Beyond foi anunciado (com a participação de nomes grandes como Ellen Page e Willem Dafoe) muitos ja diziam que isso não tinha como dar errado.

Mas....Bom,vamos lá:


Beyond Two Souls se trata de um game de 'drama interativo' de ação e aventura,desenvolvido pela já citada Quantic Dram e distribuído (originalmente) pela Sony,lançado originalmente em outubro de 2013 em exclusivo no PlayStation 3. Posteriormente em novembro de 2015,o jogo recebeu uma remasterização para o PlayStation 4,e em julho de 2019,também chegou no PC (no momento desse review ainda exclusivamente via Epic Games Store). A review será em cima da versão do PS4 (que eu obti via Plus quando estava disponível).

Bagulhos Estranhos




David Cage é aquele tipo de pessoa que parece que não gosta de trabalhar muito com simplicidade. Em Heavy Rain,ele provou ser capaz de desenvolver uma história cativante com a utilização de múltiplos protagonistas,o que acabava requisitando um pouco de paciência para que você pudesse encaixar todos os pedaços da história. Isso é ruim? Nem um pouco,ainda mais quando você sabe executar isso (e levando em conta o tema da história),fazia sentido.
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Mas em Beyond Two Souls,Cage resolveu se focar em uma única personagem: Jodie Holmes (Ellen Page),que é uma garota meio que especial por possuir poderes psíquicos,controlados por seu espírito-amigo chamado Aiden. A história,assim,se foca na protagonista desde quando ela era criança e sofria com o fato de uma entidade (ou algo do gênero) estar atrelada à sua alma (Aiden está preso à Jodie e vice versa),e ao mesmo tempo que é uma ameaça eminente à garota,também a protege de diversos perigos...talvez só por perceber que ele também está em perigo nestas situações (fato é que enquanto criança),Jodie é levada para um centro de pesquisas,e é aqui que entram os personagens mais importantes da história,e consequentemente o desenvolvimento das coisas começa de fato a partir dali.
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E desde já,eu vou falar: Ellen Page de fato faz um bom trabalho,da mesma forma que Willem Dafoe,quando entra na brincadeira (os dois atores dão uma vida ao jogo),aliada à qualidade gráfica impecável que demonstra que o PS3 poderia ter durado um pouco mais. O mesmo pode ser dito para a parte sonora geral,além é claro (por eu elogiar esses 2) da dublagem,onde a em português também é boa.



Mas os gráficos,a dublagem e atuação desses 2 não é capaz de esconder que Beyond é uma experiência que você não deve esquecer tão cedo. E quando eu digo isso,é me referindo ao fato de que você não vai esquecer o quanto de potencial foi jogado pela janela por causa,ironicamente,da forma de se jogar esse jogo.
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Mesmo que Beyond Two Souls seja (e soe) parecido com Heavy Rain e com Indigo Prophecy,estes dois ainda deixavam o jogador mais "livre" digamos assim (você tinha um ambiente e um personagem que você poderia usar para explorar aquele ambiente em específico). Mas em Beyond,controlar Jodie (levando em conta que ela tem poderes e coisas do tipo) é algo muito comum e travado : ela pode correr,lutar,pilotar moto,andar a cavalo,esquiar. Legal né?


Bom,ai que tá: o jogo só deixa você fazer isso quando ele quer,e no momento que ele considera isso como algo que se encaixa com a história,e de uma maneira muito mecânica,sem desafio,e sem motivação. Pior ainda é quando isso acontece no meio de uma cena (Jodie nesses casos fica esperando você dar o comando pra ela se levantar por diversas vezes). Além de não adicionar nada à gameplay,isso é capaz de quebrar o valor de cenas (o que inclui aquelas de muita importância) pelo simples fato que soa que David Cage no meio da produção se lembrou que não estava fazendo a merda de um filme,ao dizer:
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“Óh,é mesmo isso é um jogo,deixe-me colocar uma interação aqui!”-Cage, David

Mas "ok" né? Vou ser sincero que essas falhas ao se jogar com Jodie poderiam passar despercebidas,SE enquanto no controle de Aiden (como você tem um ser desses ligado a sua protagonista,você pode controlar a entidade um pouco) a liberdade de escolha fosse maior. E quando você é a alma penada,é possível “voar” e atravessar paredes,pessoas e objetos,ao ser limitado apenas pela distância de Aiden e Jodie,já que o que os liga é algo como um cordão umbilical espiritual. Nestes momentos Beyond realmente brilha um pouco mais.
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Entretanto,ainda assim,o jogo não deixa você decidir o que quer fazer. Sempre é algo scriptado,onde basta você achar onde o jogo quer que você dê “play” para continuar assistindo (uma prova disso é que apesar de Aiden poder matar,possuir pessoas,derrubar objetos e alguns truques mais),é o jogo que decide quando você deve fazer isso. Isso que estamos falando de um jogo supostamente de escolhas.
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Aí vem a parte de fato mais problemática,ainda mais que a jogabilidade: a história,apesar de ser até legal,não é nada surpreendente,e sofre com a maneira que é contada. Imagine que aquele seu escritor favorito escreveu um livro que você muito esperava. E ao final de seu trabalho,antes de lançar a obra no mercado,ele decide rasgar todas as páginas,joga todas para o ar para então as recolher,reconstruir o livro na sequência que ele pegou,e então colocar o livro desse jeito à venda. Aí quando você compra o seu aguardado livro,vê que o que está lendo é uma parte bastante avançada da história,e quando vira a página ou chega ao segundo capítulo,tudo muda,e os personagens que você já conhecia praticamente não existem mais.

Então,você tenta se empolgar com a “nova” história,e na página seguinte existe já outra parte,que recomeça tudo novamente. É mais ou menos isso que acontece aqui: a história desse jogo é formada basicamente por blocões que contam a vida de Jodie desde que ela é uma criança até tornar-se uma mulher,mas não é sequencial,e não dá chance nenhuma para que você pegue alguma afinidade com ela ou mesmo com os NPCs que o jogo te apresenta. Isso que a Ellen Page faz um trabalho bom,imagina se ela não tivesse feito.
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Mas talvez a única explicação para a história ser como é,está numa das sequências do final (mas não tira o fato do game ter pecado neste quesito),pelo simples fato de não demonstrar isso antes para o jogador. Me desculpe se você vai discordar de mim agora,mas pra mim não adianta merda nenhuma você me dar uma explicação para um problema que você mesmo criou aos 45 do segundo tempo. Soa jogado,soa que você só fez isso pra dizer que estava lá. Heavy Rain por exemplo não era um jogo que tinha essa falta de vergonha para fazer isso.

E ok,a história deixa que em alguns momentos o jogador realmente tome decisões que afetam o seu final. Estas decisões podem realmente mudar o desfecho do game (mas todos os problemas citados tiram a motivação que seria necessária para se jogar novamente). Se pudesse ter a opção de jogar na sequência cronológica das coisas,ao menos,o jogo poderia ter uma segunda jogada melhor que a primeira,ao dar mais sentido ao fator replay. Mas,não: se for jogar de novo,o jogo mais uma vez vai dar uma de babá ao dizer em grande parte do tempo o que você deve ou não fazer.
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No fim,apesar de tudo,Beyond Two Souls é um jogo ruim? Não. Simplesmente não (seria até injusto dizer isso),pois o jogo tem seus prós,e se você gosta desse gênero que ele pertence,você ao menos pode se entreter com ele em alguma porcentagem talvez. Mas como jogo,ele é quase um filme,e como filme,ele é quase um projeto de filme que se lembrou que deveria ser um jogo,onde a tentativa de ser o que não é (um filme),mas parecendo com o que deveria ser (um game),mostra que David Cage perdeu a mão aqui,ao manchar parte das suas realmente promissoras ideias,que tanto evoluíram de um projeto para outro.
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Porque no fim,não adianta gráficos bonitos,ou mesmo atores de cinema,se você coloca isso tudo isso em um game que trata seu jogador muitas vezes como um bebê que não tem poder de escolha e em uma trama de construção confusa. Mas uma vez: se você gosta de jogos assim (ou gosta de ver bons gráficos e uma ótima questão técnica),ou é fã dos trabalhos da Quantic Dream e por acaso não jogou este,talvez você tenha algum entretenimento. Mas realmente não espere que o game seja tão bom quanto os demais trabalhos de Cage,já que tudo aqui poderia ter sido diferente,se Beyond Two Souls tivesse decidido de vez se era jogo ou filme,e se o controle da situação estivesse mesmo com o jogador.

Mas ao menos,Cage e seu estúdio puderam se desculpar por isso alguns anos depois,ao lançarem Detroit Become Human,e que entregou exatamente o que todos que jogaram Beyond realmente queriam.



Leia também mais textos do Riptor no blog: https://fmarvell.blogspot.com/

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