Crítica La Casa de Papel Parte 3 (COM Spoilers)



<Texto da Tag “Escritor Convidado”, escrito por: A Doutora>

Se você não estava em uma caverna no último ano, deve ter sido pego de surpresa pelo sucesso meteórico de La Casa de Papel, uma minissérie espanhola que ganhou o mundo após um acordo de distribuição internacional com a Netflix. E como tudo o que faz um sucesso absurdo, a plataforma de streaming logo se encarregou de renovar para uma terceira parte, o que gerou a apreensão de muitos fãs, que se satisfizeram com o final fechado da trama, já que ela foi concebida como uma minissérie. Será que eles estavam certos em ficarem receosos?


Antes da crítica começar propriamente dita, alguns avisos básicos:

💰💥 Apesar de estar no título do post, vou reforçar: Esta será uma review COM spoilers da terceira parte de La Casa de Papel. Caso ainda não tenha visto e não queira ter nenhuma surpresa estragada, por gentileza, volte mais tarde. :-)

💰💥 Embora o foco seja obviamente a terceira parte da série, também revisitarei um ou outro evento das temporadas anteriores, também com Spoilers. Esteja avisadx!

O NOVO PLANO

Depois de terem sido relativamente bem sucedidos no roubo anterior (que não se trata exatamente de um roubo, já que eles estavam fabricando dinheiro que não existia), o roteiro tinha que trazer uma boa justificativa para o grupo sair de suas vidas boêmias para se arriscarem num novo golpe. O roteiro consegue fazer isso de forma até que eficiente. Após uma cagada monumental (por ser gado demais), Rio é preso no Panamá e entregue às autoridades espanholas, onde é levado para algum esconderijo e torturado para entregar a localização de seus colegas. Sem saber onde ele está sendo mantido nem por quem, Professor (que foi acionado pela Tóquio) põe em prática um golpe maior e ainda mais ousado que o anterior para chamar a atenção das autoridades, e assim poder negociar o resgate do hacker.

A fórmula e as batidas são as mesmas de qualquer sequência de algo que fez sucesso: Apresentar algo que já vimos antes (para não afastar o "fã fiel") porém com o clássico "mais e maior" para tentar dar um certo ar de inovação. É importante salientar que quem gostou muito das duas primeiras partes provavelmente vai gostar muito desta, assim como quem não achou grande coisa também deve manter sua opinião caso decida dar uma nova chance, pois ela apresenta as mesmas virtudes e defeitos das temporadas anteriores.

Novamente o Professor tem um plano na manga para cada passo que a polícia dá, mostrando os flashbacks da sala de aula quando algo aparentemente dá errado e temos a reviravolta de que o personagem já tinha pensado em tudo. É bem verdade que o roteiro até se esforça para fazer com que as coisas saiam mais do controle do Professor, mostrando que o mastermind do grupo também pode falhar ou encontrar alguma variável que ele não tenha pensado, mas depois de duas temporadas inteiras usando essa fórmula, é quase irresistível a gente se pegar pensando que em algum momento ele vai contornar a situação (e isso ocorre até o competente episódio final, quando aí sim temos a impressão pela primeira vez que o Professor foi tapeado e caiu na própria armadilha), e este é o gancho para a vindoura parte 4, que foi confirmada em Junho, pouco antes da temporada estrear.

O tom continua novelesco, então quem se incomodou com isso nas temporadas anteriores devem ter percebido que isso não muda. A mim não incomoda pois justamente essa mistura de dramaturgia barata com o alto valor de produção e emulação de uma forma mais "hollywoodiana" de se contar a história é justamente o que dá um temperinho a mais para vermos um compilado de clichês de histórias de roubo.

OS PERSONAGENS

Grande parte do sucesso estrondoso que foi La Casa de Papel se deve principalmente ao seu forte e carismático elenco, que interpreta os personagens com uma paixão visível em tela. Berlim, Nairobi e Tóquio são bons exemplos de personagens que caíram na graça do povo. Por isso, logo que anunciada a parte 3 a Netflix também já tratou logo de confirmar o retorno de alguns personagens queridos, entre eles o de Berlim, que, lembrando, virou peneira no final da parte 2. Perguntas começaram a pipocar na cabeça dos fãs, além das famigeradas teorias: "Berlim sobreviveu?" "Vão ter que resgatar ele?" "Será que ele vai aparecer somente em flashbacks?" e assim a plataforma conseguiu manter o hype aceso enquanto Álex Pina concebia a nova trama.

Além do retorno de todos os sobreviventes e mais Berlim em forma de flashback (sim, pelo menos não "ressucitaram" o personagem de forma forçada e inverossímil), também temos algumas adições ao grupo, que cresce consideravelmente de tamanho: Temos o retorno de Estocolmo como membro oficial do time, e Lisboa que debandou de lado de vez após o final da temporada anterior. Além disso, temos a adição de 3 personagens novos: Palermo, Bogotá e Marselha. O primeiro se propõe a ser o "novo Berlim" do grupo, liderando o time em campo, mas longe de ter a simpatia e carisma do mesmo; os outros dois (em especial Marselha) não tem suficiente desenvolvimento para a gente se importar com eles, então até o presente momento eles são bem whatever na trama. O time dos "puliça" também ganha um reforço, na forma da Inspetora Sierra, que tem trejeitos e uma personalidade forte e interessante, e que rivaliza em estratégia com o Professor (embora esteja ainda longe de ser um embate nível L e Kira em Death Note, por exemplo).

PONTOS NEGATIVOS

Apesar de não me importar com o tom novelesco da série, me incomoda o excesso de drama, a ponto de ficar melodramático demais. Todos os personagens brigam o tempo todo, eles mais discutem relação do que se concentram em se focar no assalto, onde qualquer erro mínimo pode custar a vida de qualquer um deles. Até o Professor, normalmente frio e metódico, cai nessa armadilha de roteiro, trazendo conflitos desnecessários com Lisboa, o que apenas ajudar a inchar a trama (que, lembrando, tem apenas 8 episódios).

Desnecessário também o término do Rio com a Tóquio num momento crítico do assalto. O roteiro mirou no desenvolvimento do personagem (que como disse mais acima, era gado demais) mas acertaram apenas em três passos para trás no desenvolvimento da Tóquio, o que me fez odiar a personagem por se comportar como uma criança e falta de profissionalismo com a equipe (sim, estou cobrando "profissionalismo" de um grupo de ladrões e sequestradores) e para gerar uma conveniência enorme de roteiro que é: num minuto a personagem tá mais cozida que miojo passado do ponto e no momento seguinte ela está sóbria e pronta para atirar com uma bazuca só porque o roteiro precisa que ela faça isso. E isso é apenas uma de várias conveniências de roteiro que a série apresenta.

CONCLUSÃO

La Casa de Papel consegue repetir os principais acertos que a fizeram cair na boca do povão, mas também insiste em alguns erros bobos e alguns personagens não tão apelativos para nos importarmos com eles. Ainda é um bom entretenimento e a temporada encerra no seu clímax, para nos deixar ansiosos pela parte 4 (que espero que seja a última).

OBS 1: Nairobi é a melhor pessoa e ela não pode morrer.
OBS 2 Arturito virou uma espécia de coach. Quando a gente achava que o personagem não podia ser mais detestável.

NOTA: 7,0

Bella Ciao,
A Doutora.

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