Psicopata Americano (2000)


Texto escrito por Rocket - Sweet Rabbit


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Sinopse: "Em Nova York, em 1987, o belo jovem profissional Patrick Bateman tem uma segunda vida como um horrível assassino em série durante a noite. O elenco é formado pelo detetive, a noiva, a amante, o colega de trabalho e a secretária. Esta é uma comédia de humor seco que examina os elementos que transformam um homem em um monstro."


Psicopata Americano (2000)

Elenco principal:
Christian Bale - Patrick Bateman
Willem Dafoe - Detective Donald Kimball
Reese Witherspoon - Evelyn Williams
Jared Leto - Paul Allen
Josh Lucas - Craig McDermott
Direção: Mary Harron


Psicopatia é um distúrbio psíquico que afeta a forma com que o indivíduo se sente, comporta e interage. Psicopatas são sujeitos geralmente desprovidos de consciência moral, ética e humana, e apresentam uma significativa deficiência de empatia. São manipuladores, bem articulados e em sua maioria, passam despercebidos aos olhos da sociedade.

Patrick Bateman tem uma vida e rotina que, inicialmente, pode ser até desejável para alguns. Tem 26 anos, é rico, bonito, inteligente, e tem certa relevância em Wall Street graças ao poder herdado de seu pai. Mora num apartamento bem localizado, frequenta os melhores estabelecimentos e tem uma linda esposa. Tudo seria mil maravilhas, se Bateman não fosse dominado por dois sentimentos bem específicos: repulsa e cobiça.

Mergulhamos na artificialidade da sociedade rica e bem sucedida de NY dos anos 80. O mundo exterior e material é prioridade enquanto o interno e intenso é ignorado, despercebido. Os diálogos são rasos, as interações são rasas, as pessoas se confundem o tempo todo e as relações amorosas existem basicamente pra manter as aparências. Nada é real. O importante é usar o melhor terno, conseguir reservas no melhor restaurante, consumir cocaína da melhor qualidade e ter o cartão de visitas mais bonito e moderno. Há um padrão a ser seguido pelos ricos, caso queiram ser bem vistos e invejados pelos que estão em sua volta.

O filme é bem descritivo e narrado pelo próprio personagem em certos momentos. De início, Bateman quer se encaixar nessa sociedade. Acompanhamos sua rotina de exercícios, seus pensamentos obscuros e sua filosofia bem elaborada sobre o cenário musical da década. Acontece que toda a disputa e futilidade de seu círculo social enlouquecem o personagem, ou melhor, servem como gatilho para sua loucura. Ninguém o ouve com verdadeira atenção, tanto que por vezes ele é confundido com outros funcionários em seu local de trabalho. Ele inveja o colega que consegue reservas no restaurante mais caro, o que faz o cartão mais bonito ou o que tem os óculos mais modernos, e nisso, ele resolve... Matar! Expressar toda sua frieza, insanidade e desprezo através do assassinato. Seja de parceiros de trabalho, prostitutas ou mendigos.


Fato curioso é que todo assassinato cometido por Bateman vem acompanhado de uma excelente trilha sonora. Grande parte do orçamento do filme, inclusive, foi usado para pagar os direitos autorais das canções utilizadas. Phil Collins, New Order, Whitney Houston, Robert Palmer e Depeche Mode são alguns dos exemplos. As reflexões que o personagem faz enquanto ouvimos a música e nos preparamos para a (quase) inevitável morte são peculiares.

A obra brinca frequentemente com a sanidade de Bateman e não deixa claro em momento algum se ele realmente cometeu todos aqueles crimes ou se tudo aconteceu apenas na mente do personagem. Quem morre não aparece em cena novamente, mas nunca são encontrados, ou mencionados, deixando a interpretação livre para o espectador. Há certos takes onde o personagem fala abertamente para outras pessoas que tem o desejo de matar ou que já matou, mas é sempre ignorado, nos deixando com duas opções: ou essas confissões aconteciam somente em sua cabeça, ou a sociedade está tão ocupada com sua vida de rasos excessos que simplesmente não se importa.


Christian Bale está impecável no papel principal. Consegue inicialmente, através de sua expressão fechada e voz grave, não transmitir emoção alguma ao realizar seus atos frios. Conforme o personagem vai perdendo a sanidade, seus gestos e olhares representam muito bem um homem à beira da loucura. Há uma cena sensacional onde o personagem persegue uma de suas vítimas, nu, de tênis e segurando uma moto-serra.

O núcleo coadjuvante é também muito competente. Jared Leto interpreta Paul Allen, companheiro de trabalho e primeira vítima de Bateman. Reese Witherspoon interpreta sua esposa, Evelyn Williams, numa relação guiada por aparências e traições onde o amor é inexistente. Willem Dafoe é o grande destaque, interpretando Donald Kimball, o detetive que investiga o desaparecimento de Paul Allen. Ele sempre parece saber exatamente o que aconteceu, provocando Bateman de forma sutil. O ator é tão expressivo e intenso que consegue ser ainda mais intimidador que o protagonista, mesmo com pouco tempo em cena. Chego a me questionar se, talvez o personagem também seja fruto da loucura de Bateman. É sem dúvidas um filme que merece ser assistido mais de uma vez, buscando pequenos detalhes nas entrelinhas que nos façam ter uma conclusão melhor, ou pior, dependendo do ponto de vista.

"Há uma idéia de um Patrick Bateman, uma espécie de abstração, mas não existe um eu real, apenas uma entidade, algo ilusório, e embora eu possa esconder meu olhar frio e você possa apertar minha mão e sentir a carne apertando a sua e talvez você possa até pensar que podemos comparar nossos estilos de vida, eu simplesmente não estou aqui. É difícil para mim fazer sentido em qualquer nível dado. Meu eu é inventado, uma aberração. Sou um ser humano nada contingente. Minha personalidade é vaga e informe, minha falta de sentimento é profunda e persistente."

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