Conheço
e frequento o Portal de Poesia Iberoamericana Antonio Miranda há um bom
tempo. Quem acompanha minhas postagens e confere as biografias dos autores aqui
publicados o encontra sempre nas importantes citações para saber mais.
Já a robusta e diversa obra literária, que inclui poesia, prosa, artigos
literários, teatro, do escritor Antonio Miranda, só conheci
recentemente. Seu belo e mítico livro O Azul Mais Distante, que foi
traduzido e prefaciado para o espanhol (Del Azul más Distante) por Aurora
Cuevas Cerveró, em 2008, é a base dos cinco poemas escolhidos para esta
postagem.
Com
sabor de realismo fantástico, O Azul Mai Distante (Thesaurus, 2008), na
fala de Antonio Miranda, “é um longo conjunto de poemas que constituem uma
saga nordestina. Valendo-se de uma linguagem esperan-tética, suprarreal,
de realismo e até chegar a um momento de escatológico, contando com uma
trajetória de uma família do Piauí em um período de entreguerras, com o sucesso
para o Rio de Janeiro e transformações sociais, culturais e morais
subsequentes.” Logo abaixo, completando a biografia do autor, em para
saber mais, você encontra links para considerações críticas à essa obra.
Agora,
deixe-se envolver e se devorar pelo verbo inusitado que revolve as entranhas
dos versos de As Origens (Orígenes); de O Parto da Virgem
Endiabrada (El Parto de la Virgen Endiablada); de Ventos Aziagos
(Vientos Aciagos); de Teias e Tramas Genealógicas (Enredos y
Tramas Genealógicas); de O Coito do Sátiro (El Coito del Sátiro)...,
presentes nas duas fascinantes edições (português e espanhol) de O Azul Mais
Distante de Antonio Miranda, e cuja edição brasileira de 2019
está sendo distribuída também pela Amazon.
AS ORIGENS
Antonio Miranda
Estas terras nunca foram benfazejas.
Sem os metais preciosos,
o litoral piauiense nunca teve porto de
atracação.
Um sol sempre vermelho e reverberante,
gado importado (quem sabe?) de Cabo Verde
nas terras novas de plantio
voltadas para o curso do rio Parnaíba.
Dunas e areias movendo-se em direções
azarosas, sobre lençóis movediços,
sediços, luzidios, fulgurantes, fugidios.
Os navios passam ao largo, indiferentes.
Léguas de terra em quadro,
fazendas criadas por Domingos Afonso
Mafrense
em ciclos de crescimento e estagnação
desde a expulsão dos jesuítas.
(Havia ossos deles enterrados
pelos cemitérios abandonados,
adubando o chão cáustico.)
Trilhas mulares do sertão
pela ausência de horizontes.
Veredas infindas, chapadas rasas
e baixios ribeirinhos,
passo dos viandantes.
Carnaubais, babaçuais.
Cemitério marinho fossilizado
no leito de mares extintos:
um mar entranhado
que ainda ruge do fundo da terra.
Orígenes
Antonio Miranda
traducción: Aurora Cuevas Cerveró
Estastierras nunca fueron generosas.
Sin metales preciosos,
el litoral piauiense no pudo tener puerto.
.Un sol siempre rojo y fulgurante,
ganado importado (quien sabe?) de Cabo
Verde
en tierras nuevas de cultivo
mudadas hacia el curso del río Paraíba.
Dunas y arenas moviéndose en direcciones
azarosas, como sábanas trémulas,
inquietas, relucientes, radiantes,
huidizas.
Los navíos pasan a lo lejos, indiferentes.
Leguas de tierra cuadrada,
haciendas creadas por Domingos Afonso
Mafrense
en periodos de crecimiento y detención
desde la expulsión de los jesuitas.
(Había huesos de ellos enterrados
en cementerios abandonados,
abonando el suelo cáustico.)
Caminos de mulas agrestes
por la ausencia de horizontes.
Veredas sin fin, llanuras rasas
y orillas ribereñas,
paso de caminantes.
Cementerio marino fosilizado
en lecho de mares extintos:
mar entrañado
que aún ruge en lo hondo de la tierra.
palmeras típicas de la región del Nordeste
del Brasil
O PARTO DA VIRGEM ENDIABRADA
Antonio Miranda
A Enjeitada começou a dar sinais de
transtornos
e convulsões, tonteiras e derramamentos de
sangue.
Foi logo enclausurada no quarto
de onde nunca deveria ter saído
—na condenação verbal da mãe Filomena.
Sentia cólicas e erupções, queimando gases
venenosos,
suores peçonhentos, desmaios constantes.
Banhos-maria, rezas de benzedeira,
chás e emplastros vegetais, pomadas
e ungüentos nas têmporas
e nas regiões úmidas e abrasantes
de seu sexo de adolescente,
os lábios inchados
e o ventre crescendo a olhos vistos.
Amarrada ao madeiro do catre
como fera encurralada,
babava e grunhia.
Padre Fernandes (que não era um exorcista)
acudiu com preces e ladainhas
inúteis.
Gravidez estranha, de virgem enclausurada.
Espírito maligno encostado, entendeu o pai-de-santo:
Exu e suas mulheres-hospedeiras,
ovo de serpente do diabo em gestação
interminável.
Estranhos desígnios!
Onde já havia um morto-vivo
agora a possuída pelo Belzebu em carnatura.
Movimentos da besta nas cavidades profundas
da menina inocente. Rezas, descarregos.
Na madrugada escura, finalmente,
uma coisa pardacenta e gelatinosa,
movente e sem cabeça, sem cordão umbilical,
na gosma visguenta e luminosa,
é recolhida em urinol de ágata,
e logo enterrada no quintal
com várias camadas de terra.
Livre da abdução, a menina desfalece.
Neves, a enjeitada, era uma brotação
indesejada
que a própria mãe esconjurava.
Castigo do céu pelos pecados cometidos,
estrupício, produto de estupro,
uma cruz que levava ao calvário.
Havia que buscar um marido para a
desgraçada.
EL PARTO DE LA VIRGEN ENDIABLADA
Antonio Miranda
traducción: Aurora Cuevas Cerveró
La repudiada comenzó a dar señales de
trastornos
y convulsiones, mareos y derramamientos de
sangre.
Fue luego enclaustrada en su cuarto
de donde nunca debería haber salido
— según condena verbal de madre Filomena.
Sentía cólicos y erupciones, expulsando
gases venenosos,
sudores emponzoñados, desmayos constantes.
Baños de asiento, rezos de hechicera,
tés y emplastos vegetales, pomadas
y ungüentos en las sienes
y en las zonas húmidas y abrasantes
de su sexo adolescente,
los labios hinchados
y el vientre creciendo a ojos vista.
Amarrada al madero del catre
como fiera enjaulada,
babeaba y gruñía.
Padre Fernandes (que no era un exorcista)
acudió con plegarias y letanías
inútiles.
Gravidez estraña, de virgen enclaustrada.
Espírito maligno encostrado, entendió el
pai-se-santo:*
Exu** y sus mujeres-hospitalarias,
huevo de serpiente diabólico en gestación
interminable.
¡Estraños designios!
Donde ya había un muerto-vivo
ahora la poseída por Belzebu encarnada.
Movimientos de bestia en cavidades
profundas
de chica inocente. Rezos, descarregos.***
En la madrugada oscura, finalmente,
una cosa pardusca y gelatinosa,
móvil y sin cabeza, sin cordón umbilical,
escupitajo viscoso y luminoso,
es recogida en orinal de ágata,
y luego enterrada en el patio
con varias capas de tierra.
Libre de la abdución, la muchacha
desfallece.
Neves, la repudiada, era un bástago no
deseado
que la propia madre conjuraba.
Castigo del cielo por los pecados
cometidos,
estropicio, producto del estupro,
una cruz que llevaba al calvario.
Había que buscar un marido para la
desgraciada.
VENTOS AZIAGOS
Antonio Miranda
A miséria como maldição.
Secas intermináveis
devastavam plantação e gado.
As vendas de muitas portas
na rua de São Pedro
e poucos compradores.
Passava a procissão do Senhor Morto,
passava a procissão de São Pedro de
Alcântara,
passava fome
e um bumba-meu-boi em farrapos.
Passavam a febre amarela
e a cólera-morbo
combatidas com suco de limão,
infusões de pimenta malagueta,
enxofre em pó nas meias
e a simpatia das moedas de cobre
penduradas no pescoço.
Apensados, obstrutos e ventruosidades
—nó nas tripas e beriberi.
Passava sezão, gota, pleuris
maligna e verminose.
Vivia-se de enfermidades
aviando medicamentos.
Morria-se na véspera,
antes mesmo de nascer:
corpos adubando o solo.
Havia mais mortos enterrados
do que vivos, e do fundo
da terra, milhares de olhos
observando os mortos futuros.
VIENTOS ACIAGOS
Antonio Miranda
traducción: Aurora Cuevas Cerveró
La miseria como maldición.
Sequías interminables
devastaban plantaciones y ganado.
Vendedores ambulantes
en la calle de San Pedro
y pocos compradores.
Pasaba la procesión del Señor Muerto,
pasaba la procesión de San Pedro de
Alcántara,
pasaba el hambre
y un bumba-meu-boi* en harapos.
Pasaban la fiebre amarilla
y el cólera
combatidos con zumo de limón,
infusiones de pimienta malagueta,
azufre en polvo en las medias
y un ritual de monedas de cobre
colgadas del cuello.
Acoplados, oclusiones y ventosidades
—nudo en las tripas y beriberi.
Pasaba paludismo, gota, pleuresía
tifus y parásitos intestinales.
Se vivía de enfermedades,
preparando medicamentos.
Se moría en la víspera,
antes mismo de nacer:
cuerpos abonando el suelo.
Había más muertos enterrados
que vivos, y del fondo
de la tierra, millares de ojos
observando los muertos futuros.
observando los muertos futuros.
TEIAS E TRAMAS GENEALÓGICAS
Antonio Miranda
O patriarca costumava reunir a parentela
para contar a história dos antepassados.
As mulheres abanavam leques fingindo
interesse.
As crianças, impacientes, sonhando com o
bolo
depois da litania genealógica
e da liturgia dos defuntos.
Fotos ovaladas, ornadas com flores de papel
crepom.
Heráldica difusa, inventários imprecisos.
(Ocultava os crimes, os abusos,
aberrações.)
Cronologia desencontrada, discurso
labiríntico.
Notícias de freguesias extintas,
referências a arquivos queimados,
lápides de um cemitério afogado
na última cheia do rio Parnaíba.
Não havia certificados de sesmarias e
datas,
nem herdades patrimoniais claras nos
cartórios.
Não obstante o zelo da religião em suas
vidas,
uma miscigenação aleatória e até promíscua,
incertos acasalamentos com padres
estrangeiros,
e incestos, rizomas subterrâneos, tramas
insondáveis.
A tia empertigada na foto como se usasse
espartilho,
saía do baú para as assombrações noturnas.
Morrera de peste seguida de febres e estertores,
recolhida ao monte de cadáveres a
serem queimados
a céu aberto para excomungar
as penas inculcadas em suas carnes ímpias
onde o fogo-fátuo acendia a libertação
de suas almas de bodes e calangos
—derradeiras agonias.
A virgem que acasalou com o trapezista:
grávida, escorraçada, seguiu o circo
mambembe.
Histórias do destino humano
vigiando fontes e riachos temporários
para garantir a sobrevivência da estirpe,
pastando cabras como ovelhas bíblicas.
O Amor seria o resultado indesejável
de uma química perversa,
alheio ao controle humano, subjugante
—garantia o patriarca—,
próprio dos seres fracos e incivilizados.
Neusa dedilhava, depois, valsas no piano
fanho
e era então servido o patrimônio culinário
de bolos, biscoitos e doces de família.
Dona Filomena palavreando receitas
com o eco de vozes defuntas.
Avós putrefatas, tios decapitados,
bestiários.
Tio Nelson era o único testemunho do Além.
As crianças ficavam cativas de pesadelos:
bois encantados, pavões delirantes, cabeças-de-cuia.
ENREDOS Y TRAMAS GENEALÓGICAS
Antonio Miranda
traducción: Aurora Cuevas Cerveró
El patriarca solía reunir a la
parentela
para contar la historia de los antepasados.
Las mujeres se abanicaban fingiendo
interés.
Los niños, impacientes, soñando con el
bollo
después de la letanía genealógica
y la liturgia de difuntos.
Fotos ovaladas, ornadas con flores de papel
crespón.
Heráldica difusa, inventarios imprecisos.
(Ocultaba crímenes, abusos, aberraciones.)
Cronología desencontrada, discurso
laberíntico.
Noticias de feligresías extintas,
referencias a archivos quemados,
lápidas de un cementerio ahogado
en la última crecida del río Parnaíba.
No había certificados de sesmerias y
fechas,
ni herencias patrimoniales claras en las
notarias.
A pesar del desvelo religioso en sus vidas,
un mestizaje aleatorio y hasta promiscuo,
inciertos emparejamientos con padres
extranjeros,
e incestos, raíces subterráneas, tramas
insondables.
La tía estirada en la foto como si usara
corsé,
salía del baúl como una aparición
nocturna.
Moriría de peste tras fiebres y estertores,
recogida en el osario tras ser
quemada
a cielo abierto para excomulgar
las penas inculcadas en sus carnes impías,
donde el fuego fatuo encendía la liberación
de sus almas de chivos y reptiles
—últimas agonías.
La virgen que se amancebó con el
trapecista:
embarazada, expulsada, siguió el circo
ambulante.
Historias del destino humano
vigilando fuentes y arroyos temporales
para garantizar la supervivencia de la
estirpe,
pastando cabras como ovejas bíblicas.
El amor sería el resultado indeseable
de una química perversa,
ajeno al control humano, subyugante
—garantía el patriarca—,
propio de seres débiles e incivilizados.
Neusa tecleaba, después, valsas en el piano
ronco
y era entonces servido el patrimonio
culinario
de bollos, bizcochos y dulces de familia.
Doña Filomena recitando recetas
con eco de voces difuntas.
Abuelos putrefactos, tíos decapitados,
bestiarios.
Tío Nelson era el único testigo del más allá.
Los niños quedaban atrapados en
pesadillas:
bueyes encantados, pavos reales delirantes,
cabezas-de-cuia*.
O COITO DO SÁTIRO
Antonio Miranda
I
Na penumbra de uma lua minguante enxergou
uma casa modesta, coberta de telhas
arruinadas
e nenhuma cama decente
para descansar da fadiga caminheira.
Redes no meio de um quarto sem adorno e sem
móveis.
Um cenário de sombras.
O sátiro arrojou-a na rede suja
e esforquilhou-se sobre seu corpo trêmulo,
despindo-a com rudeza,
com os pés plantados no assoalho.
Desvestiu-se da camisa e,
uma perna
depois da outra,
desvencilhou-se da calça de brim escuro.
Apareceram, então, entre as pernas,
dois pênis imensos excitados e vibrantes
como duas serpentes libertas.
Dois pênis sobrepostos, olhos de fera,
faiscantes.
A lamparina extinguia-se lampejante,
exalando um cheiro de queimado.
Carnes indefesas,
busuntou-a com sucessivas demãos de saliva
grossa
e começou a introduzir-se com fúria.
Tamanha a dor e acabou desfalecendo.
Depois ele repetiu o assalto pelo ânus.
Começou a penetrar as cavernas até não mais
poder.
Um estrebucho de frêmito até aos estertores
do gozo, relinchando vitorioso.
Acordou as galinhas nos poleiros e os
animais nas coxias.
O sangue jorrava dela
enquanto o fauno saía correndo
para o riacho próximo,
arrojando-se nas águas
para apagar as brasas de seu corpo
enfermo.
II
O silêncio acometeu os corpos exauridos.
O homem estremecia no sonho saciado
e perturbava a noite com os roncos de bicho
extenuado.
A jovem no torpor de um pesadelo e gemidos
constantes.
Na tarde do dia seguinte abriu os olhos e
viu
as réstias de luz invadindo o quarto
hediondo.
O companheiro dormia um sono ruminante.
Saiu engatinhando até a soleira da porta
para ofuscar-se com as luzes invasoras
de uma tarde declinante.
Avistou uma ingazeira portentosa e um pasto
ralo
no horizonte difuso.
Encontrou mais adiante um cocho com água da
chuva
e meteu a cara até sentir afogamento
quando percebeu que estava nua.
Viu um machado repousando junto à porteira
e agarrou-se a ele com a força que não
tinha.
Sentiu o ímpeto de salvar-se
valendo-se daquele instrumento de justiça.
Tentou arrancá-lo das entranhas
da madeira de um tronco caído
mas não foi capaz.
Ainda intacto o saco em que trouxera seus
minguados pertences.
O vestido de noiva prostrado sobre o chão
poeirento.
Saiu avexada até embrenhar-se na caatinga
em direção desconhecida.
Errando pelos caminhos de tropeços e
espinhos.
Arfando e farejando “com sôfregas narinas”
como escreveu o poeta Humberto de Campos.
EL COITO DEL SÁTIRO
Antonio Miranda
traducción: Aurora Cuevas Cerveró
I
En la penumbra de una luna menguante avistó
una casa modesta, cubierta de tejas
ruinosas
y ninguna cama decente
para descansar la fatiga del camino.
Hamacas en medio de un cuarto sin adornos y
sin muebles.
Un escenario sombrío.
El sátiro la arrojó en su hamaca
y a horcajadas sobre su cuerpo
trémulo,
la desnudó con rudeza,
con los pies plantados en el suelo.
Se quitó la camisa y,
una pierna
después de otra,
se soltó los pantalones de cáñamo oscuro.
Aparecieron, entonces, entre las piernas,
dos penes inmensos excitados y vibrantes
como dos serpientes libertas.
Dos penes superpuestos, ojos de fiera,
chispeantes.
La lamparilla se extinguía
relampagueante,
exhalando olor a quemado.
Carnes indefesas,
la huntó con sucesivas capas de saliva
gruesa
y comenzó a introducirse con furia.
Tan grande dolor la acabó
desfalleciendo.
Después repitió el asalto por el ano.
Comenzó a penetrar las cavernas hasta más
no poder.
Una sacudida de bramidos tras los
estertores
del gozo, relinchando victorioso.
Despertó a las gallinas en los gallineros y
a los animales en las cuadras.
La sangre brotaba de ella
mientras el fauno salía corriendo
hacia el riachuelo cercano,
arrojándose al agua
para apagar las brasas de su cuerpo
enfermo.
II
El silencio asaltó los cuerpos agotados.
El hombre se agitaba en sueño saciado
y perturbaba la noche con ronquidos de
bicho extenuado.
La joven en torpeza de pesadillas y
gemidos constantes.
La tarde del día siguiente abrió los ojos y
vió
ristras de luz invadiendo el cuarto
hediondo.
El compañero dormía un sueño rumiante.
Salió gateando hasta el umbral de la puerta
para ofuscarse con las luces invasoras
de una tarde declinante.
Distinguió una ingazeira* portentosa y
un pasto ralo
en el horizonte difuso.
Encontró más adelante un abrevadero con
agua de lluvia
y metió la cara hasta sentir ahogo
cuando percibió que estaba desnuda.
Vió un hacha junto a la cancela
y se agarró a ella con la fuerza que
no tenía.
Sintió el ímpetu de salvarse
valiéndose de aquel instrumento de
justicia.
Intentó arrancarla de las entrañas
de la madera de un tronco caído
pero no fue capaz.
Todavía intacta la bolsa en que trajera sus
escasas pertenencias.
El vestido de novia postrado sobre el suelo
polvoriento.
Salió apresurada escondiéndose entre la
caatinga**
en dirección desconocida.
Errando por los caminos de tropiezos y
espinos.
Jadeando y olfateando “con ávida nariz”
como escribió el poeta Humberto de
Campos.
*
ilustrações:
joba tridente.2019
Antônio Lisboa Carvalho de Miranda (Bacabal
- MA: 05.08.1940) é biblioteconomista, escritor de prosa e verso, articulista
literário, dramaturgo e tradutor brasileiro. Formado em
Bibliotecologia (Universidad Central de Venezuela, 1970); Doutor em
Ciência da Comunicação (Universidade de São Paulo, Brasil, 1987); Mestrado em
Biblioteconomia (Loughborough University of Technology, Inglaterra,
1975); Antonio Miranda foi Professor titular e Coordenador do Programa de
Pós-Graduação em Ciência da Informação do Departamento de Ciência da Informação
e Documentação da Universidade de Brasília UnB e Diretor da Biblioteca Nacional
de Brasília (2007). Colaborou com revistas e suplementos literários, como o Suplemento
Dominical, do Jornal do Brasil, La Nación (Buenos Aires,
Argentina) e Imagem (Caracas, Venezuela). Antonio Miranda, que
administra o site Antonio Miranda - Portal de Poesia
Iberoamericana, é
autor, entre outras obras, de: Vine de Lejos (2009); Poemi di Antonio
Miranda (2009); Do azul mais Distante (2008); Detrás del Espejo
(Traducción y prólogo de Elga Pérez-Laborde, 2008); Grito interrompido
(2008); Del Azul más distante - Do Azul mais distante (edición bilingue
- Traducción y Prólogo de Aurora Cuevas, 2008); Eu Konstantinos Kaváfis de
Alexandria (2007); Poesia no porta-retrato (seleção e estudo de Elga
Pérez-Laborde, 2007); Despertar das águas (2006); Canções Perversas
(2005); São Fernando Beira-Mar (2004); Retratos & Poesia Reunida
(2004); Tu país está feliz (2004); A Senhora Diretora e outros contos
(2003); Perversos (2003); Canto Brasília (2002); Horizonte
cerrado (2002); Manucho e o Labirinto (2001); Tu País Está Feliz
(2001).
Para
saber mais: Portal
na web: Antonio Miranda – Portal de Poesia
Iberoamericana; Escritor:
Antonio Miranda; Antonio Miranda: obras publicadas, os links levam a
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Aurora
Cuevas Cerveró é
doutora em ciência da informação, professora de literatura na Universidad
Complutense de Madrid (Espanha), tradutora e coordenadora de Poesia espanhola
no portal Antonio Miranda - Portal da Poesia Iberoamericana.
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