[Texto da tag “Escritor
Convidado”, escrito por LUCAS RODRIGO,
do blog UNIVERSO LEITURA, publicado originalmente em:
http://universoleituracontoscreepys.blogspot.com/2018/10/a-opiniao-de-um-critico-nao-representa.html]
Eu
não sou crítico profissional. O que eu normalmente faço aqui é emitir opiniões
que provenham do meu gosto pessoal e chego a analisar alguns aspectos técnicos
da obra contando com a minha bagagem e a propriedade que adquiri em anos lendo
outras críticas para me inspirar no intuito de compor melhor meus textos sem
mostrar traços de prepotência na forma de rebuscamento
exagerado – muitos críticos apelam para essa super-carga de erudição – e se
esquecem de que a objetividade tem um papel fundamental, porque você escreve
para agradar a si mesmo a priori, mas é necessário pensar no leitor, se colocar
no lugar dele e dar um "chega pra lá" no ego. Já li muitos textos
ultra-cansativos de passar dos habituais dez minutos de leitura numa crítica
direta e com inchações de linguiça maçantes, principalmente num certo site com
nome de comida feita com ovo (ops, não fui muito sutil né?). Nem o crítico mais
arrogante e caga-regra da face deste planeta pode me privar do direito a
opinião e do direito de chamá-la, sim, de crítica. Todo mundo é crítico. A diferença óbvia é que há os que se especializam
profissionalmente na área e os que se espelham para opinarem
formalmente.
A
verdade única não é uma prerrogativa da profissão. E com isso me direciono para
a questão central desse texto. Percebam que enrolei um pouco sobre como vejo a
crítica (voltada especialmente ao cinema) de ambos os lados, amador e
profissional, mas achei pertinente colocar isso na pauta como introdução e até
dar um esclarecimento da minha parte quanto ao meu conhecimento. Com o enorme
acesso à internet atualmente, é grande o número de pessoas que ficam empolgadas
com aquele filme que vai ser lançado em breve e por uma força do hábito acabam
lendo primeiras impressões e críticas integrais do filme antes de o assistirem
no cinema. Aliás, hoje é possível até acompanhar praticamente todo o processo
de produção de um longa-metragem, sobretudo de super-herói, com tanta notícia
que sai a toda hora com fotos e vídeos de bastidores e uma vasta porção de
outras informações (spoilers também
contam) que dão corpo à visão do que se esperar. É bastante fácil realmente se
deixar influenciar, isso não tem como contestação. A opinião de alguém mais
articulado no senso crítico e credenciado para tal exerce um forte peso que por
consequência pode plantar uma ideia prévia na cabeça de quem é o público de
massa desse filme e não tem a mesma competência.
Lê
umas três ou quatro impressões negativas e já sai falando: "aff, desanimei agora, nem vou gastar meu
dinheiro com essa bomba, perdi todo o hype, que se foda, baixo num Torrent da vida". Fico meio entristecido
com comentários dessa natureza. Soa como se as pessoas literalmente perdessem a
capacidade de pensar por elas mesmas. Mas é como diz o velhíssimo ditado: Mente vazia, oficina
do diabo. Dou uma reinterpretação da frase cabível no assunto. Uma
mente incapaz de formular uma opinião própria certamente vai estar suscetível a
ser estimulada por outras opiniões de pessoas que aparentem melhor
condicionamento intelectual para expressa-las. Em outras palavras, essa pessoa
depende sempre da opinião de críticos para saber se um filme é bom ou ruim por
justamente não estar apta a valorizar e exercitar seu senso crítico. Ou seja, o
crítico bate o martelo por elas e confiam nisso fielmente. Se você, por
exemplo, leu as críticas mais massacrantes a Batman vs. Superman (filme que dividiu e muito o público e a
crítica), tomou consciência de que o filme é uma bosta mal cagada e sai por aí
repetindo, sem ter assistido, a mesma opinião do crítico de uma outra forma,
muito provavelmente você estará sendo bem parcial pois se concentrou em apenas
um lado. Se esqueceu inconscientemente do seu direito a tirar conclusões
individuais. Concordando com a visão negativa do crítico e falando aos quatro
ventos que o filme é assim e assado só porque algumas críticas especializadas
que leu, afirmam isso veementemente, você só vai estar sendo um mero papagaio
com a falsa ideia de que formou uma opinião. O mesmo vale para o outro lado. Se
uma crítica positiva elevou as suas expectativas, tudo bem, isso é ótimo, mas
não vá confiando cegamente que o filme em toda a sua essência é exatamente tudo
que o crítico falou e mais um pouco. Chega no cinema, assiste e pah, toma um
balde de água fria e sai frustrado. Ah,
não era aquela coca-cola toda né? Leia a crítica, goste da crítica, sendo
ela positiva ou negativa, mas não a torne seu guia.
É
uma tendência perigosa tomar qualquer crítica feita por especialista como
verdade incontestável. O crítico não é uma entidade divina a ser
louvada por sua grande sabedoria idônea sobre a sétima arte. Ele é
gente como eu e você que apenas está expressando sua opinião, reforçada pelo
seu conhecimento de elementos técnicos cinematográficos. A crítica profissional
não torna a concordância obrigatória. A menos que o crítico ache que tem um rei
na barriga e imponha suas verdades, aí sim haverá intenção de forçar
concordância do leitor e aí sim você não tem necessidade alguma de concordar -
mesmo que já tenha assistido ao filme. Então, se eu posso dar algum bom exemplo
uma vez nessa vida pra alguém, acho que essa é uma boa oportunidade. O meu
conselho é não se prender a expectativas, não assumir críticas profissionais
tratando-as como verdades imbatíveis (porque nenhum crítico nesse mundo é
"O Crítico") e praticar o senso crítico a fim de elaborar suas
opiniões próprias melhor. Nesse exercício saudável sendo feito continuamente
tenho certeza que não vai ter crítica negativa que não convença você a ir ver
por sua conta e nem crítica positiva que o deixe deslumbrado a ponto de achar
que é tudo as mil maravilhas faladas.