Bom, fui assistir a Homem-Aranha: Através do Aranhaverso na pré-estreia, e estava com boas expectativas. A primeira animação considero a melhor animação de super-herói e que fica páreo com o Homem-Aranha de Sam Raimi. Na verdade, até leva considerável vantagem, porque se trata de animação e muito mais próxima aos quadrinhos que um live action. Na sessão em que fui inclusive tinha o Aranha na fila do cinema.
Mas,
enfim, o filme supera a primeira animação em experiência? De certo modo, sim.
Acredito que esse segundo Aranhaverso até mesmo seja um pouco mais
hermético nas referências aos fãs. O espectador leigo provavelmente não pescará
muitas das referências. Não que esse um filme exclusivo para fanboys,
muito pelo contrário. Até diria que atinge os tais “quatro quadrados” que são a
garantia de sucesso de um blockbuster: homens jovens, homens velhos,
mulheres jovens e mulheres velhas. Por homens velhos e mulheres velhas,
entende-se pessoas acima de 30 anos. Sou um homem velho, por exemplo.
Admito que, apesar de gostar de Miles Morales, nunca fui um grande fã do personagem. Meu Aranha preferido é obviamente Peter Parker, porém reconheço que Miles tem apelo entre os adolescentes e que não sou o público-alvo. Então, ele garante a porcentagem de “homens jovens”. Miles é novamente dublado por Shameik Moore. Nunca gostei muito da personagem Spider Gwen, que é a típica “feministeen”, mas ela foi criada para abocanhar esse público mesmo. Quem conhece a Gwen Stacy clássica sabe que a Spider Gwen só tem em comum o nome e que tem uma personalidade completamente diferente. Enfim, ela garante o quadrado das “mulheres jovens”. Spider Gwen é dublada mais uma vez Hailee Steinfeld.
Para
nós, os “homens velhos”, há o retorno do Peter Parker do primeiro filme, dublado
novamente por Jake Johnson, e a adição de Miguel o’Hara, o Homem-Aranha 2099, dublado
por Oscar Isaac, e de Ben Reilly, o Aranha Escarlate, figurinhas carimbadas dos
quadrinhos dos anos 90. A bem da verdade, tenho algumas objeções à maneira como
ambos foram retratados no longa. O Aranha 2099 mesmo não tem muito de seu background
revelado. Para nós que somos fãs, tudo bem, já conhecemos o personagem, mas o
grande público, não. Não é mostrada a origem do personagem. E o Aranha 2099 é
uma das poucas versões do Aranha que não ganhou seus poderes picado por uma
aranha, seja radioativa, geneticamente modificada ou mística. Sua origem lembra
o filme A Mosca de David Cronenberg. Miguel o’Hara tem sua estrutura
genética modificada quando sofre uma sabotagem de um rival corporativo da
Alchemax, enquanto estava na câmara de transformação. Há uma informação sobre seu
passado, mas é apenas para que justifique porque ele está tão resoluto em
impedir que Miles mude um acontecimento canônico de seu universo.
Além disso, ocorre com o Aranha 2099 o de praxe, que é “nerfar” o personagem para que uma personagem feminina tenha destaque. No caso, logo no início do filme, o Aranha 2099 enfrenta uma versão renascentista do Abutre, no universo da Spider Gwen, e não consegue dar conta do vilão. Então, ele pede a Lyla, sua secretária em forma de holograma, que ela traga ajuda de Jessica Drew, a Mulher-Aranha; uma versão negra da personagem, que está grávida. Dessa forma, o Aranha 2099 não consegue derrotar um vilão como o Abutre sozinho e precisa da ajuda de uma mulher grávida, a despeito de ele já ter derrotado outros vilões tão ou mais fortes que o Abutre nos quadrinhos, inclusive a versão do Abutre de 2099. No caso, a Mulher-Aranha garante a presença das “mulheres velhas” no filme. Obviamente, como Aranhaverso é um longa para a família, já garante a presença dos quatro quadrados, até mesmo porque os pais vão levar os filhos para assistir ao filme.
Bem
Reilly na verdade só consta como piada. Essa é a realidade. Não há maior background
do personagem, e ele só fica dizendo frases de efeito de gibis dos anos 90. Sem
contar que é o único personagem que é em 2D, ao contrário dos outros que estão em
3D, o que indica que ele não é um personagem tridimensional. Ou seja, preconceito
com os quadrinhos dos anos 90 e com a animação 2D.
Infelizmente,
nesse filme, Peter Parker, o Aranha tradicional, não teve tanto destaque como
no primeiro filme. Ele aparece na sede dos Aranhas que mantêm o cânone do Aranhaverso
intacto com sua filhinha, May “Mayday” Parker, que, no caso, é a Garota-Aranha
das HQs.
Homem-Aranha:
Através do Aranhaverso até que tem um enredo relativamente
simples em seu cerne, mas as inúmeras referências é que fazem o espectador
imergir na história. Miles Morales está bem à vontade como o Homem-Aranha de seu
universo, mas sua vida particular está bem caótica, pois está indo mal nos
estudos e tendo de esconder sua vida de super-herói de seus pais. Logo surge o
Mancha, um vilão de quinta categoria do Aranha nas HQs. Ele era um dos cientistas
da Alchemax que é atingido pela explosão quando Miles destrói a máquina do Rei
do Crime, que poderia acessar outros universos, no primeiro filme. A despeito
de ser praticamente uma piada no início do longa, o Mancha vai tendo mais consciência
de seus poderes e se tornando mais perigoso ao longo do filme, chegando a ameaçar
a vida do pai de Miles.
É
nesse ponto que aparecem a Spider Gwen, o Aranha 2099, a Mulher-Aranha e outras
versões do Aranhaverso, pois é dito que Miles não pode salvar a vida de seu pai,
pois este seria um evento canônico que garantiria a coesão de seu universo, a
exemplo da morte do capitão Stacy. O restante do filme é com Miles tentando
escapar das outras versões dos Aranhas e voltar para seu universo, para salvar
a vida de seu pai. O Aranha 2099 na realidade faz o papel de antagonista, que
deve impedir Miles de condenar seu universo, ao tentar salvar seu pai.
Vale
também destacar as participações de Pavitr Prabhakar, o Homem-Aranha indiano,
que tem uma sequência bastante legal no filme, e do Punk-Aranha, que aparece
pouco, mas tem muita presença, sendo inclusive dublado por Daniel Kaluuya.
Vale
a pena assistir a Homem-Aranha: Através do Aranhaverso? Certamente que
sim! É uma experiência imersiva única, a exemplo do primeiro filme, com uma
animação espetacular, amazing, se me permite o trocadilho, uma trilha
sonora também sensacional e um enredo que transita muito bem entre o drama e o
humor, equilíbrio difícil de conseguir nos filmes da Marvel. A gente sai do
cinema feliz de ser fã do Aranha, coisa muito rara hoje em dia. No entanto, por
terem vacilado um pouco com o Aranha 2099 e o Bem Reilly, minha nota fica 9 de
10.
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