SURFISTA
PRATEADO DO JIM STARLIN – O SUCESSOR DE STAN LEE
Uma das sagas mais icônicas das histórias em quadrinhos é a Trilogia de Galactus. Tendo sido publicada no Quarteto Fantástico vol 1 nº48 a 50, esse arco mostrou o primeiro conflito da Primeira Família da Marvel contra Galactus, o devorador de mundos, e seu arauto, o Surfista Prateado.
O curioso é que, embora
ambos personagens sejam considerando criações da dupla Stan Lee e Jack Kirby,
na realidade o Surfista foi uma adição feita pelo Kirby à história por meio do
“Marvel Method” (os dois trocavam
ideias e o artista fazia os desenhos da história enquanto o roteirista só
adicionava as legendas e diálogos). Kirby julgava que uma entidade como
Galactus devia ter um arauto que viria a se rebelar contra seu mestre para defender a
Terra.
Apesar de suas dúvidas,
Stan Lee aprovou a ideia do Surfista e não só o arco se tornou um dos mais
populares da editora mas também o Surfista, ironicamente, se tornou um dos
personagens que o Stan Lee mais escreveu, abordando seu exilio na Terra e sua
perspectiva das injustiças da humanidade, tornando-o seu porta-voz para tocar em
vários tópicos sociais da época, com várias de suas histórias sendo bem
filosóficas e complexas.
Porém essa ligação do
Stan Lee com o Surfista acabou levando suas histórias ficarem estagnadas, a
ponto que os editores da Marvel, ao lançarem uma nova fase do Surfista na
década de 80, fizeram uma mudança, com Surfista finalmente sendo libertado de
sua prisão na Terra e podendo explorar o espaço, conhecendo novos aliados,
inimigos e lidando com políticas entre planetas, como seu planeta natal
Zenn-La.
Mas como que a Marvel
seria capaz de recriar o sucesso da fase do Stan Lee?
A resposta pra isso
veio na edição 34, quando a série é assumida pelo talentoso Jim Stalin, após a
saída de Steve Englehart (curiosamente, um dos motivos foi pelos editores o
proibirem de usar personagens de Starlin).
Sendo um mestre em
escrever sagas cósmicas, Starlin levou a hq do Surfista a uma nova direção, tendo ficado no titulo da edição 34 a 38, 40 a 48, 50 e o Annual 3. Com seus roteiros, ele resgatou a narrativa reflexiva das histórias do Stan Lee e ao mesmo tempo
colocando o ex-arauto de Galactus diante situações que o levaram a lugares bem mais sombrios e questionamentos muitos mais pessoais.
Que situações foram
essas? O que Jim Starlin fez que tornou sua fase no Surfista tão marcante?
Eu vou explicar...
PROLOGO
PARA SAGA DO INFINITO
Essa fase já começa com
Starlin colocando o Surfista diante uma de suas maiores criações, um personagem
que viria a ser um antagonista recorrente durante essa fase: Thanos.
Tendo chegado de forma
misteriosa ao reino da Lady Morte, o Surfista testemunha a entidade ressuscitando
o titã louco, por julga-lo necessário para reestabelecer o equilíbrio de vida e
morte no universo. O vilão promete a sua
amada que cumprirá com esse dever causando um genocídio cósmico, dando início
ao seu conflito com o Surfista.
Quem manja da história
do universo Marvel, já deve tá ciente que essa fase do Starlin é praticamente um
prólogo para o evento épico Desafio do Infinito, onde Thanos, tendo o poder da
Manopla do infinito e suas joias elimina metade do universo, levando a um conflito
contra os heróis da Marvel.
Essa informação provavelmente
causa certo desinteresse em conferir essa fase. Afinal qualquer um que conhece
a saga do Infinito sabe que o Thanos vai vencer o Surfista e obter as joias do
infinito, logo por que investir numa fase cujo final já é conhecimento da
maioria do público?
A
TEORIA DA BOMBA
Alfred Hitcock, famoso
diretor de filmes de suspense como Psicose, apresentou uma teoria conhecida
como a Teoria da Bomba. De acordo com ele, se uma bomba explodisse e ninguém
soubesse, o público ficaria temporariamente chocado, porque àquela altura nada
indicava que algo poderia acontecer. Agora, supondo que as pessoas observando
soubesse da bomba, o investimento seria maior, com muitos questionando se os
personagens vão perceber a bomba ou o que acontecerá quando explodir.
O ponto dele é: O suspense
não vem da surpresa, do twist, mas sim da antecipação.
É nisso que a fase do
Starlin se guia (pelo menos para nós leitores atuais). Quem já leu Desafio do
Infinito sabe o final dessa fase e onde os personagens tem que terminar, mas o
roteiro brinca com suas expectativas, com a determinação do Surfista em querer
derrotar o Thanos fazendo os leitores torcerem que ele realmente consiga obter
a vitória, mesmo sabendo que não será o caso.
Então a fase do Starlin
se resume apenas um típico conflito de herói e vilão?
Não exatamente....
A
BUSCA DO SURFISTA
Com Surfista tentando
encontrar Thanos pelo espaço, Starlin se aproveita disso para mostrar suas
aventuras em outros mundos, continuando a pegada do Stan Lee do Surfista ser um
observador, se deparando com várias atrocidades injustiças com os quais o público
consegue identificar na realidade.
Um dos grandes exemplos
disso é no arco da Dynamo City, uma história em que Surfista é forçado a ir
para Dynamo City, uma cidade flutuando no espaço, para responder pelo
assassinato de Thanos (na realidade o titã louco forjou a própria morte). Chegando
lá o Surfista descobre que o local neutraliza seus poderes e é vítima da
corrupção do local, sendo forçado a trabalhar para conseguir grana, é
manipulado e oprimido pelas autoridades, sendo quase executado.
Mesmo quando ele escapa
de sua prisão, ele não pode executar sua vingança, visto que a cidade é habitada
por aliens inocentes que necessitam da cidade para viverem. Tudo que ele
consegue no final é aceitar e, como em muitas de suas histórias, ele volta para
o espaço, refletindo sobre o que ele passou em Dynamo City.
Mas nesse caso a fase
do Starlin é somente uma cópia do Stan Lee? Ele não fez nada de novo?
UM
REFLEXO SOMBRIO
Além de manter o estilo
das histórias do Stan Lee, do Surfista viajando pelos mundos e refletindo sobre
os eventos que testemunhou, Starlin levou essa temática para um próximo nível,
com elas tendo o Surfista não só questionando o comportamento dos outros seres do universo, mas também sua própria moralidade.
Para isso, Starlin colocou o herói diante inimigos que não só desafiam o Surfista fisicamente, mas também num nível psicológico, como foi o caso em Surfista Prateado vol 3 Annual 3, onde o viajante espacial confrontou o tirano Garnok, após este ter matado os habitantes do seu próprio planeta.
Embora o Surfista derrote o vilão, seu
fantasma passa a assombra-lo, com a ajuda dos espíritos de todos aqueles cujos
mundos foram destruídos por Galactus, com a ajuda do Surfista.
Isso leva o herói a
descobrir que seu antigo mestre, ao transforma-lo no Surfista Prateado, fez
alterações em suas memórias para que tomasse decisões que “um homem nobre como
Norrin Radd nunca tomaria”. A recuperação de suas memórias é um grande choque
para o Surfista, se lembrando dos mundos que destruiu e sentido a culpa por
todas as vidas que ele ajudou a extinguir (tudo muito bem representado pela
arte de Ron Lim).
Porém é no seu conflito com Thanos, já possuindo as Joias do Infinito que o Surfista encara a escuridão dentro de si. Além de seus ataques falharem contra o novo poder do Titã Louco, Norrin é afetado pelas palavras de Thanos, que aponta as semelhanças entre os dois, especialmente o fato de ambos serem exilados e servos de entidades cósmicas, sendo responsáveis por causar morte e destruição em nome de seus mestres.
Como em muitos casos
dessas conversas entre herói e vilão, o Surfista nega as afirmações de Thanos,
que rebate dizendo essa atitude ser a principal diferença dizendo que enquanto
ele aceita seus crimes e crueldade, o Surfista simplesmente nega esse aspecto.
Ele prova seu ponto usando a Joia da Mente para forçar o Surfista a relembrar
de seu passado com seu pai, que veio a cometer suicídio, algo que Surfista se
culpa, a ponto de ter reprimido essa lembrança tão trágica.
Mesmo no final, conseguindo
escapar do Titã Louco e chegar a Terra para alertar os outros heróis, o
Surfista sai bastante afetado pela experiência, com Thanos simplesmente rindo e
zombando do herói derrotado.
Com tantas revelações chocantes e tragédias, por que é uma das fases das mais importantes do Surfista?
A
ESSÊNCIA DO SURFISTA PRATEADO
As histórias do Surfista Prateado não são apenas típicas aventuras no espaço, com batalhas de naves e explosões, como os protagonista de Star Wars ou Guardiões da Galaxia. Em seu núcleo, elas são sobre redenção, com o Surfista sendo representado como um anjo caído, um homem bom pagando pelos seus erros, procurando por resposta sobre moralidade na vida numa escala cósmica.
Embora seja uma pessoa nobre
em seu coração, quando se analisa, Norrin é um personagem realizou várias ações
que contradizem seu caráter, com a principal tendo sido servir Galactus para
salvar seu mundo, mas sacrificando outros planetas no processo.
Por meio dessa contradição
cria o grande dilema de sua história: Como podemos chamar o Surfista após tanta
morte e destruição que ele ajudou a causar?
Starlin praticamente redefine o Surfista e seus questionando fazendo o herói não só questionar o mundo ao seu redor mas também sua própria natureza, escolhendo não mais negar sua escuridão mas sim aceita-la, encarando a responsabilidade de seus atos, assim como a culpa que ele guardava dentro de si.
É essa abordagem dessa qualidade
do Surfista, essa força de vontade dele encarar seus erros e tentar ser uma
pessoa melhor, que torna a fase do Jim Stalin tão especial, representado o Surfista,
um seres cósmicos mais poderosos da Marvel como também um dos heróis mais
humanizados.
Então é isso! Qual a
opinião de vocês quanto a fase do Jim Starlin nas HQs do Surfista Prateado?
Sintam-se a vontade para colocar suas opiniões nos comentários abaixo.
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