E mais um ano chega ao fim. E, aproveitando que 2020 foi um ano cyberpunk, tive a ideia de escrever um post de recomendação de mangá que tem tudo a ver, Origin, do ilustrador Boichi. Para quem não conhece Boichi, ele é um artista coreano que há muito tempo vive e trabalha no Japão, dono de um traço fantástico e hiperdetalhista.
Origin é mais uma história de autômatos e androides, um tema bem comum no Japão, muito explorado na sua cultura pop, desde o Oitavo Homem, passando por Cyborg 009, Kikaider, Robot Keiji K. Metalder etc. A história situa-se na Tóquio de 2048, Origin é um androide, um protótipo de inteligência artificial criado por um cientista especialista em robótica e I.A. Ocorre que os demais androides se rebelam e matam seu “pai”, deixando Origin órfão e para trás.
Muito
tempo depois, Origin infiltra-se em uma gangue de yakuzas, a fim de
impedir uma de suas “irmãs”, que está assassinando ladrões de nanotecnologia.
Nesse ponto da história, Origin não está atrás de vingança, mas age apenas
porque o último desejo de seu “pai” foi que ele “vivesse direito”. A questão é
que um androide não entende bem o sentido de viver direito; como uma I.A., ele
vê sentido apenas em viver como existir. O enredo tem muito dos conceitos de Isaac
Asimov em seus contos de robô.
Origin
dá cabo da androide assassina e avisa seus “irmãos” para que fiquem escondidos
e parem de matar humanos, pois essa seria a decisão mais “lógica”. No entanto,
ele logo passa a ser caçado pelos outros androides, em uma decisão “ilógica” de
vingança. Mas é esse o ponto que o mangá aborda, de que androides podem
desenvolver sentimentos humanos, uma vez que o próprio “pai” de Origin afirma
que sentimentos e ego surgem a partir de redes neurais complexas e com objetivos;
assim sendo, o cérebro de um androide também pode desenvolver sentimentos, pelo
menos em teoria.
Uma
vez que o sentido de Origin como I.A. é existir, ele cria sua própria “identidade
secreta”, como o desenvolvedor de robôs Jin Tanaka, na megacorporação AEE. Tudo
o que Origin quer é passar despercebido, mas isso não será fácil, pois ele logo
chama a atenção de Mai Hirose, uma jovem otaku e desenvolvedora de robôs
que se apaixona por ele, e da doutora Laura Fermi, sua supervisora, que esconde
alguns segredos.
Outro
aspecto interessante do mangá é como Origin tem de recuperar após as lutas
contra outros androides. Ele não é um Metalder, que pode ir para um laboratório
reparar-se. No contexto da história, reparos custam dinheiro, e manutenção robótica
não é barata. Sendo assim, a solução que ele encontra é vender nanocélulas no
mercado negro, tendo-se em vista que ele é um assalariado e não dispõe de
tantos recursos para consertar-se. Inclusive, uma das decisões de Origin é fortalecer
seu hardware.
Outro
ponto interessante no enredo é que o fato de que tomar a decisão “lógica” nem
sempre é a “correta”. Em determinado momento do mangá, Origin considera matar
humanos que estão roubando um depósito da AEE. Nem sempre o que é “lógico” da
perspectiva das máquinas é “moral” no entendimento dos homens, e isso deixa o
personagem bastante confuso.
Em
suma, Origin é um excelente mangá, com um roteiro aparentemente simples,
mas com questões interessantes, e com uma arte de encher os olhos, uma vez que
Boichi é um dos melhores ilustradores de mangá da atualidade. O mangá é publicado
pela Panini no Brasil. Consegui comprar apenas cinco volumes e li os dois
primeiros. Quem não conseguir comprar o mangá, pode ler em um desses sites
de scans. Recomendo fortemente.
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