Título do original: Canon Fodder
Editora de Origem: Rebellion A/S
Criado por Mark Millar & Chris Weston na revista 2000AD
Roteiro: Mark Millar & Kek-W
Arte: Chris Weston
Tradução: Pedro Bouça & Helcio de Carvalho
Revisão da Tradução: Melissa Correa
Lançamento: maio/2014
Mythos Editora
100 pags.
Sinopse:
Canon Fodder é o material não-Dredd mais significativo de Millar no Reino Unido. Criado em 1993, envolve o Dia do Julgamento, que veio e se foi, com Deus não comparecendo. Os mortos subiram das sepulturas, e todo mundo que já viveu e morreu anda na Terra novamente. Com isso, a superlotação é abundante e o crime alcançou níveis extremos. Para lidar com o caos (e economizar espaço), a Igreja e a Força Policial se uniram para formar a Priest Patrol. Os criminosos são ‘pecadores’ e são executados imediatamente — embora eles sempre subam de suas sepulturas para reincidir seus atos. A arte fica por conta do sensacional Chris Weston.
Inomináveis Saudações a todos vós, Realistas Leitores!
Esta foi a primeira história escrita por Mark Millar que li, um autor que eu sei ter muitos detratores por aí. O que é certo, no entanto, se encontra na capacidade transgressora de polemização que envolve a escrita dele, o que vai, no caso de A Lei De Canon contra diversas crenças religiosas que exaltam a ideia de um Deus Único para toda a Humanidade. Tocando diretamente na ferida, Millar propõe em uma peculiar e diferente narrativa, algo que não seria aprovado por Editoras com restrições de liberdade aos Autores, uma discussão sobre a Fé, a Religião e o Fanatismo. Exageram aqueles que o criticam sem tentarem, pelo menos, compreender a proposta de uma obra como esta. Direto em seu enfoque, duro em seu desenvolvimento e expositivo na medida certa, se encontra aqui uma leitura agradável para quem se propõe unir entretenimento com a meditação que certas ideias contidas nesta história possuem.
Canon não é um tipo de Padre comum e dotado de paciência, sentimento elevado de caridade ou tendência a orar o dia inteiro. Ele é um combatente do Crime, usando religiosamente de sua crença contra o Pecado para punir os responsáveis por atrocidades várias na Londres Pós-Juízo Final retratada no volume. E um detalhe da construção dele como personagem revela quebo mesmo não se trata de uma pessoa em correto equilíbrio mental, tendo rígidos valores e uma mentalidade fechada calcada no Fundamentalismo Religioso que lhe foi incutido desde criança. Ainda assim, de uma forma inusitada, nele ainda há espaço para o Amor, que fundamental importância tem na conclusão da segunda história. Fica subentendido que antes da volta à vida de todos que morreram, ele já combatia criminosos junto com outros Padres na denominada Patrulha Paroquial. Mas, contar aqui do que se tratava daria apenas spoilers. E é coisa de Pecador inveterado e blasfemo dar spoilers!
Seguindo à risca suas convicções, Canon vai de encontro ao Desconhecido nas duas sequências de histórias trazidas pela Mythos Editora nesta edição. O visual estético da obra se apoia em uma Temática Steampunk, com referências nas vestimentas dos personagens de cada época da Humanidade. Uma Torre de Babel no ano de 2004 do mundo do personagem, onde a Terra se tornou ultrapovoada devido ao retorno dos mortos, causando, com isso, diversos problemas como o aumento da violência. A condução da história é outra, no entanto, com Canon fazendo uma psicodélica viagem por Dimensões que apresentam a Existência de diversos Arquétipos criados pela Humanidade. Repito que não vou entregar spoilers, somente dizendo-lhes que a história não é apenas sobre um Padre anabolizado e nervosinho fazendo justiça com as próprias mãos. Há um conteúdo interessante, elemento que me surpreendeu e tornou ainda mais peculiar este trabalho.
Junto com Millar (que escreveu a primeira história) e Kek-W (pseudônimo de Nigel Long, autor da segunda história), Chris Weston demonstra uma arte segura, viva e com detalhismos que chamam a atenção para um padrão de desenho bem diferente do que usualmente se vê. Poucos artistas gráficos no mundo dos Quadrinhos são aqueles que conseguem transmitir as emoções e intensidades íntimas dos personagens que desenham. Weston é um destes, mantendo a mesma coesão na personalidade de cada personagem desenhado sem deixar de lhes dar identidade própria. Parar um pouco e apreciar-lhe a arte é fundamental e, quase ao final da edição, uma obra-prima gráfica em página dupla me deixou boquiaberto. E até hoje, quando leio a revista, passou diversos minutos observando a mesmo… Não quero pecar e spoilers não darei!
Por fim, da minha parte, não tenho do que me queixar e foi um dinheiro muito bem gasto. É um passeio por referências que incluem até a Física Quântica e, entre os mortos que saíram das tumbas, encontram-se ativos na narrativa Sherlock Holmes, Professor Moriarty, Mycroft Holmes, John H. Watson, Sigmund Freud, Albert Einstein, Julio Verne e Wilhelm Reich. Há diversos rostos conhecidos em muitos quadros e deliciosamente reconhecer cada um ou a quem faz referência torna ainda mais interessante a leitura. Não há homilia e nem pregação, a ação e as reflexões mesclam-se ininterruptas do começo ao fim. Uma obra sem Pecado para mim ao cumprir seu sagrado papel de me entregar, como leitor, o que promete, sem ser algo revolucionário ou uma obra-prima em termos de narrativa. Algo simples com temática simples e linguagem sem firulas ou frescuras, simplificando para todos os intelectos até os pontos em que toca nos assuntos de teores referentes a temas teológicos, filosóficos, psicanalíticos e científicos. Agradará a quem busca aventuras que não são detentoras de excessos, tendo um começo, um meio e um fim bem determinados.
Cumprida a minha sagrada missão, aqui deixo escrita a resenha desta obra. E retorno ao sagrado compromisso de escrever com muita fé no trabalho deste blog no domingo.
Assim Seja
Assim É
Assim Será
Com A Graça Dos Deuses Dos Quadrinhos.
Saudações Inomináveis a todos vós, Realistas Leitores!
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